ABC de Roma: A comida

Como vocês bem sabem esta semana estamos fechando o assunto “Roma”. Como o nosso espaço aqui é um pouco mais dinâmico, trataremos nele de alguns assuntos da chamada “vida material” dos romanos.Vimos em aula, as estruturas políticas, econômicas e sociais da vida romana em todas as fases de sua História.Aqui trataremos agora dos costumes, ideias e do próprio entendimento que um romano teria da vida.Falaremos então de alguns pontos interessantes e que espero continuem a despertar o seu interesse como aluno(a). Pois bem, falemos então sobre o que comia um romano…
No ínicio a dieta dos romanos era constituida dos cereais que plantavam.A medida que as conquistas se sucedem, outros alimentos foram incorporados a alimentação dos romanos. A alimentação deles consistia de pão, leguminosas, queijos, figos, tâmaras, azeitonas, carne e nozes.
No café da manhã, quando havia, eles comiam pão e mel com queijo ou fruta. No almoço se alimentavam somente de pão e queijo. A principal refeição acontecia no final da tarde ou início da noite, e podia durar até cinco horas se havia convidados.
Os ricos bebiam vinho em todas as refeições, muitas vezes adoçado com mel. Os pobres bebiam vinagre e água. Os pratos dos banquetes podiam ser exóticos e incluíam ratazanas recheadas, flamingos e sabiás. Os romanos adoravam condimentar suas comidas com pimenta, temperos, mel e principalmente com um molho de peixe exótico chamado garum. 
Os romanos dividiam as refeições do dia em 3, eram elas:

Jentaculum

 

 

Os Romanos realizavam a primeira refeição do dia (o jentaculum) pouco tempo depois de se levantarem. Esta refeição era composta por pão, queijo, ovos e leite. O pão poderia ser embebido em vinho aquecido ou então regado com azeite e esfregado em alho. Quanto ao leite, o mais consumido era o de cabra ou de ovelha.
Durante a era do Império e por influência de alguns médicos, propagou-se o hábito de apenas tomar água de manhã.

Prandium

 

 

Por volta do meio-dia tomava-se, geralmente em pé (sine mesa), o prandium. Poderia incluir restos da comida do dia anterior, carnes frias, frutas e queijo. Como bebida poderia tomar-se o mulsum (uma mistura de vinho com mel).

Cena

 

A cena era a principal refeição do dia e iniciava-se à décima hora, o que corresponde às quatro horas da tarde (os Romanos contavam as horas a partir do nascimento do sol), prolongando-se até de noite.
A cena dividia-se em três partes: gustatio (ou gustus ou promulsio), prima mensa e secunda mensa. O gustatio era composto por uma série de aperitivos: comiam-se cogumelos, saladas, rábanos, couve, ovos e ostras. Para beber, tomava-se o mulsum (daí esta parte da cena ser também chamada promulsio), que servia para abrir o apetite e ao qual se atribuía a capacidade de prolongar a vida.
A prima mensa era composta por vegetais e carnes e a secunda mensa consistia na sobremesa, na qual se serviam frutas ou bolos.
Vale dizer ainda a respeito dos hábitos alimentares romanos, além da incorporação de novas culinárias é importante entender duas coisas: a separação na alimentação entre os ricos e pobres e em segundo lugar a culinária diferente para cada região conquistada.
Puls romano
A comida para os mais pobres e os soldados legionários foi desde o ínicio e boa parte do império sempre o “Puls“, um mingau feito a partir da mistura de trigo ou a espelta, que era torrados, moídos e cozidos, primeiro em água e depois em leite. Existiam algumas variantes da puls: a puls fabata (feita como favas) e a puls punica (que continha queijo, mel e uma gema de ovo). A plebe só conseguiu começar a consumir carne regularmente a partir de Aureliano (século III) quando a sua entrega passou a ser grátis.Todavia era carne de burro, pois a carne de boi era reservada para a mesa dos ricos. Ainda havia um prato para os dias de casamento que era tradição mesmo entre a plebe: o chamado “moretum”, cujos principais ingredientes eram queijo de ovelha, alho e cebola.
Cabe ainda a respeito da plebe, falar de um componente importante de sua alimentação, e que foi até objeto de política e estratégia para manter o povo satisfeito: o pão.
O pão romano, inicialmente feito em casa pelas mulheres, passou a ser fabricado em padarias públicas. Segundo o filósofo romano Plínio, o Antigo, isto teria acontecido depois da conquista da Macedónia, em 168 a.C.
Foi com os gregos que os romanos aprenderam a arte de fazer pão, já que em Roma, durante todo o império, os padeiros geralmente eram gregos. Gostaram tanto do oficio que no ano 100 a.C. havia 258 padeiros em Roma. Os romanos passaram então a utilizar as técnicas que aprenderam, e difundiram por toda a Europa.Com o tempo,  melhoraram o processo de moagem, e como resultado disso foram os primeiros a produzir pão branco. Anteriormente, faziam-se pães escuros, de grãos integrais. Por volta de 100 a.C. Roma possuía mais de 200 padarias comerciais. Uma escola para padeiros foi criada pelos romanos no século I. A grande expansão do pão em Roma causou o nascimento da primeira associação oficial de panificadores. Os seus membros gozavam de um estatuto muito privilegiado. Eles eram livres de alguns deveres sociais e isentos de muitos impostos. A panificação tornou-se tão prestigiada durante o Império Romano, que era considerada ao nível de outras artes, como escultura, arquitectura ou literatura. À semelhança dos egípcios e dos gregos, também os romanos ofereciam pão aos seus deuses e mortos. Comum, ainda, com os egípcios, era a distribuição de pães aos soldados, como complemento do soldo(salário). As legiões romanas levaram o pão para a Península Ibérica, apesar de várias referências afirmarem que o processo de panificação já lá era conhecido, especialmente a fermentação, pois eles usavam a espuma da cerveja como fermento, o que produzia um pão mais leve e esponjoso do que o dos romanos, que ainda usavam o resto de massa velha para a fermentação.
Bom como fizemos uma separação por condição econômica falta agora falar a respeito dos costumes alimentares dos ricos. Não havia muitos romanos ricos, se pensarmos a proporção de plebeus. Mas os que eram ricos, eram MUITO ricos ! Uma das formas de demonstrar isto, era justamente o número de escravos que se tinha e os banquetes que podia promover. Eles tentavam sempre cozinhar e oferecer novos pratos aos seus convidados. De fato, mais do que o sabor o importante era o quanto a comida era cara e dificil ou uma novidade. Um prato curioso por exemplo era o que envolvia uma série de linguas de animais exóticos das conquistas na África. Outro prato “diferente” envolvia a complicada sequência de rechear uma galinha, dentro de um pato, o pato dentro de um ganso e por sua vez o ganso dentro de um porco e o porco dentro de uma vaca e cozinha-los todos juntos. As vezes ricos romanos, mandavam seus escravos até as montanhas proximas a Roma para apanhar neve para alguns pratos e sobremesas.
Ricos romanos gastavam também muito dinheiro com temperos exóticos. Canela, pimentas e tudo o mais que encontrassem na India. Nós conseguimos saber a respeito destes pratos exóticos atraves de um livro de autoria de um homem chamado Marcus Gavius Apicius, que teve seu livro de receitas traduzido pelo pesquisador Robert Maier. Que tal conhecê-las ? Pois bem vamos então !
Marcus Gavius Apicius
Primeiro tenho que apresentar-lhe alguns ingredientes nativos romanos, tais como:

Caroenum: xarope de uva (o vinho novo ou suco de uva fervido até que fique concentrado).

Defritum: ou xarope de figo de espessura, ou de mosto que é fervido até que você tenha apenas um terço do montante com o qual você começou.

Liebstoeckl ou ‘levisticum officinale‘. É uma planta (umbelliferous) com flores amareladas. Suas raízes secas são utilizadas como tempero. Parece ser uma espécie de aipo.

Liquamen ou garum: um molho de peixe salgado. A maior parte do tempo você pode substituí-lo pelo sal.Falaremos um pouco mais a respeito dele.Aguarde…

Passum: molho de vinho muito doce, feita pela fervura do mosto (vinho novo ou suco de uva) para engrossar. As vezes substituido por mel

Poleiminze: Uma espécie de hortelã que está crescendo em áreas inundadas.

Saturei ou satureia hortensis. É um tipo violeta ou branco florido de plantas labiate que cresce principalmente no sul da Europa. É utilizado como uma planta tempero, especialmente para os pratos de feijão.

Silphium: Seus outros nomes são ‘laser’ ou ‘férula foetida asa “. Eu notei que ele também é chamado de ‘hing’ na culinária indiana. É um substituto a cebola eo alho e deve ser usado com moderação e não devido ao seu sabor muito forte e cheiro.

E agora vamos às refeições do Menu romano. Infelizmente, as temperaturas de cozimento exatas e horários ainda não foram proferidas em todos os casos. Você tem que confiar em sua intuição se tentar reproduzir alguma receita…

ISICIA OMENTATA (uma espécie de Hamburguer romano)

ingredientes:
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Carne picada 500g
1 pão francês, embebida em vinho branco
1/2 colher de pimenta moída na hora
50ml Liquamen (pode ser substituído por 1/2 colher de chá de sal + uma pouco de vinho branco)
alguns  grãos de pimenta verde
um pouco Caroenum
folha de panificação

instruções:
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Misture a carne picada com o pão embebido em vinho. Junte e triture as especiarias (temperos) e misture com a carne. Formar pequenos hambúrgueres e coloque os  grãos de pimenta em cada um deles. Coloque-as em folha de cozimento e grelhe-os juntamente com Caroenum.

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PEPONES ET MELONES (Melões e água com mel)

ingredientes:
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1/2 melão descascado, em cubos
1/2 melancia em cubos
500ml de Passum  ou um pouco de mel
Salsa picada
1/2 colher de chá pimenta
um pouco de Liquamen, ou uma pitada de sal
Poleiminze, Silphium, vinagre, se quiser

instruções:
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Cozinhe melões em cubos em uma panela juntamente com especiarias e ervas.
Às vezes Silphium é adicionado.

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PATINA DE PISCICULIS (Souflê de pequenos peixes)

ingredientes:
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Filé de peixe cozido ou 500g de pequenos peixes inteiros ou sardinhas
150g de uvas passas
1/2 colher de pimenta moída na hora
1 Liebstoeckl
1 orégano
2 cebolas em cubos pequenos
200ml de óleo
50ml Liquamen, ou 1/2 colher de chá de sal
Amido de milho

instruções:
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Misturar passas, pimenta, Liebstoeckl, orégano, cebola, vinho Liquamen e óleo juntos e colocar em uma caçarola. Cozinhe. Em seguida, coloque os filés de peixe cozidos . Engrosse com um pouco deamido de milho e sirva.

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PATINA DE PIRIS (Souflê de Pêras)

ingredientes:
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1kg pêras (descascadas e sem as sementes)
6 ovos
mel
100ml Passum
óleo (um pouco)
50ml Liquamen, ou de sal (colher de chá)
1/2 colher de chá de cominho em pó
pimenta do reino a gosto

instruções:
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Junte peras cozidas e descascadas (sem núcleo), juntamente com pimenta, cominho,mel, Passum, Liquamen e um pouco de óleo. Adicione os ovos e coloque em uma caçarola. Cozinhe cerca de 30 minutos com calor moderado.


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MINUTAL MARINUM (Fricasse de Frutos do Mar)

ingredientes:
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500g de filé de peixe (salmão, por exemplo)
250ml de vinho branco
Caldo de carne 500ml
3 ramos alho-poró
100ml de óleo
Liquamen ou  sal, coentro, pimenta, Liebstoeckl, orégano a gosto
um pouco de amido ou farinha para engrossar o molho

instruções:
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Coloque o peixe em uma panela, adicione Liquamen, vinho, azeite e caldo. Pique alho-poró  e coentro. Corte os filetes.
Cozinhe cerca de 30 minutos em calor moderado. Adicione coentro, orégano e Liebstoeckl.
Ferva novamente. Em seguida, o molho engrosse com o amido, polvilhe com pimenta.


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GUSTUM DE PRAECOQUIS (Sabor de damascos – sobremesa)

ingredientes:
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1kg de damascos maduros firmes e  nectarinas
200ml de vinho branco
250ml Passum (ou vinho)
hortelã e pimenta (porção de uma xícara)
pimenta, Liquamen ou sal, amido de milho, um pouco de vinagre e mel
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Damascos cortados junto com as nectarinas. Coloque-os com um pouco de água fria em uma panela. Junte Pimenta e hortelã seca (que é onde o saco de Liquamen, mel, Passum e vinagre. Despeje na panela com um pouco de óleo. Cozinhe cerca de 20 minutos em calor moderado.
Depois de cozido adicione um pouco de amido de milho para engrossar o molho, polvilhe com pimenta e sirva.


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ABACIAE VIRIDES ET BAIANAE (Feijões verdes)

ingredientes:
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500g de vagem, soja ou feijão verde
50ml Liquamen, ou 1/2 colher de chá de sal com 50ml de vinho
óleo
folhas de coentro picadas
1 colher de chá de cominho (sementes)
1/2 ramo de alho-poró picado

instruções:
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Cozinhe o feijão com Liquamen, óleo de alho-poró e especiarias. Sirva.


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Pullum FRONTONIANUM (Galinha ao modo Fronto)

ingredientes:
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1 frango fresco (aprox. 1-​​1,5 kg)
100ml de óleo
200ml Liquamen, ou vinho de 200ml + 2 colheres de chá de sal
1 ramo de alho-poró
coentro, pimenta a gosto
um pouco de Defritum e Saturei

instruções:
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Comece a fritar frango e tempere com uma mistura de Liquamen e óleo,
juntamente com alho-porro, Saturei e coentro fresco. Então leve tudo ao forno por aproximadamente 1 hora com a temperatura de 220 ° C no forno. Quando o frango estiver pronto, umedeça um prato com Defritum, coloque frango sobre ele, polvilhe pimenta, e sirva.


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Pullus FUSILIS (frango com recheio líquido)

ingredientes:
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1 frango fresco (aprox. 1-​​1,5 kg)
300g de carne picada (metade deve ser carne de porco)
Mingau de aveia (100g)
2 ovos
250ml de vinho branco
óleo
1 Liebstoeckl
1/4 colher de chá de gengibre em pó
1/4 colher de chá de pimenta
1 colher de chá de pimenta verde
Liquamen ou sal a gosto

instruções:
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Pimenta, Liebstoeckl, carne, gengibre picado e cereais  devem ser cozidos. Adicionar ovos e misture até obter uma massa lisa. Tempere com Liquamen, acrescente o óleo,grãos de pimenta inteiros . Recheie a galinha com esta massa.Cozinhe cerca de 1 hora com temperatura de 220 ° C no forno.


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DULCIA DOMESTICA (sobremesa caseira)

ingredientes:
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200g de tâmaras frescas ou secas
50g de nozes moídas grosseiramente
uma pitada de sal
vinho, mel

instruções:
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Junte todos os ingredientes.Cozinhe em fogo baixo por 5 a 10 minutos. 


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ALITER DULCIA (outro tipo de sobremesa)

ingredientes:
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250g de nozes moídas grosseiramente
Mel

100g de pinhões descascados
50ml Passum
50ml de leite
2 ovos
mel (para decorrar o prato)
pimenta

instruções:
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Junte todos os ingredientes, ferva por 5 minutos. Sirva coberto com mel e polvilhe com pimenta.


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TIROPATINAM (uma espécie de Souflê)

ingredientes:
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500ml de leite
6 ovos
mel
um pouco de pimenta moída

instruções:
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Adoçar o leite com mel, acrescente os ovos e misture até ficar homogêneo. Cozinhar em fogo baixo até ficarem firmes, polvilhe pimenta e sirva.

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 OVA SFONGIA EX LACTE (Panquecas com Leite)

ingredientes:
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8 ovos
600ml de leite
100ml de óleo
um pouco de mel
um pouco de pimenta moída

instruções:
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Misture os ovos, leite e óleo até obter uma massa de panqueca. Frite em uma panela e serva coberto com mel e um pouco de pimenta.

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IN OVIS APALIS (ovos cozidos)

ingredientes:
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8 ovos cozidos (não muito bem cozidos – ferver 4 minutos).
50g de pinhão descascados
mel, pimenta, vinagre, Liebstoeckl, Liquamen (ou sal) a gosto

instruções:
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Misture a pimenta, Liebstoeckl, pinhão. Adicione o mel e vinagre e tempere com Liquamen. Sirva em conjunto com os ovos já cozidos.

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 VITELLINA FRICTA (Vitela Frita)

ingredientes:
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800g 1 kg de vitela
300g uvas passas
mel
vinagre
200ml de vinho
100ml de óleo(azeite)
100ml Defritum
100ml Liquamen (ou sal)
pimenta, sementes de aipo, Liebstoeckl, cominho, orégano, cebola seca a gosto

instruções:
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Frite a Vitela em azeite até ficar bem passada. Misture as uvas passas , vinho, vinagre,mel, óleo, Liquamen e especiarias juntos em uma panela extra,para fazer o molho.Deixe ferver o molho. Despeje sobre a vitela, em seguida, deixar a carne por 10 minutos no molho.Cozinhe em fogo baixo. Sirva.

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IN VITULINAM ELIXAM (Cozido de Vitela)

ingredientes:
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800g 1 kg de vitela
pimenta, Liebstoeckl, cominho, sementes de aipo a gosto
Mel
vinagre
100ml de óleo (azeite)
100ml Liquamen (ou 100ml de vinho branco + 1 colher de chá de sal)
um pouco de amido de milho

instruções:
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Cozinhe a carne de vitela por cerca de 1 1/2 hora até que bem cozida. Misture o mel,vinagre, óleo, liquamen e temperos em uma panela extra. Ferva o molho apenas um pouco e engrosse com amido de milho. Em seguida, despeje o molho sobre a carne de vitela e deixe ferver em fogo baixo por mais 10 minutos. Sirva.

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ALITER BAEDINAM SIVE AGNINAM EXCALDATAM (Cozido de Costelas de Cordeiro)

ingredientes:
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10 costeletas de cordeiro
1 l vinho branco
100ml de óleo
2 cebolas grandes, cortadas em cubos
2 coentro moído
1 colher de chá de pimenta
Liebstoeckl
1 colher de chá de cominho em pó
200ml Liquamen (ou 2 colheres de chá de sal)

instruções:
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Coloque costeletas em pote, juntamente com a cebola picada e especiarias. Adicionar Liquamen,azeite e vinho. Cozinhe 45-60 minutos. Despeje o molho em uma panela e engrossar com o amido. Sirva as costeletas juntamente com o molho.


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 IN MITULIS (Mexilhões)

ingredientes:
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1kg mexilhões frescos 

100ml Liquamen
1 ramo de alho-poró, finamente picada
1 colher de chá de cominho
200ml Passum
1 picata de Saturei
500ml de vinho branco
500ml de água

instruções:
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Primeiro pegue os mexilhões e com água é preciso limpá-los. 

Misture o vinho, Liquamen,Passum, água e especiarias. Ferver o caldo durante cerca de 20 minutos, em seguida, adicionar mexilhões. Ferver mais 10 minutos. Sirva.
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SARDA ITA FIT (Atum)

ingredientes:
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500g de filé de atum cozido
1/2 colher de chá pimenta
1/2 colher Liebstoeckl
1/2 colher de chá de tomilho
1/2 colher de chá de orégano
150g de damascos (sem sementes)
mel
4 ovos cozidos
50ml de vinho branco
50ml Defritum
azeite de oliva

instruções:
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Cozinhe filé de atum.Misture filé, juntamente com os damascos, mel, vinho, vinagre,Defritum e azeite. Coloque tudo em uma tigela e decore com os ovos.
Sirva.

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 SCILLAS (camarões grandes)

ingredientes:
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500g de camarões  grandes cozidos
1 colher de chá de pimenta verde
1 Liebstoeckl
1/2 colher de chá de  sementes de aipo moídas
vinagre
100ml Liquamen (ou 1/2 colher de chá de sal)
4-5 gemas de ovo cozido cortadas

instruções:
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Cozinhe os camarões. Em seguida,adicione a pimenta, as sementes de aipo e Liebstoeckl. Derrame por cima o Liquamen, vinagre, e gemas de ovos  e misture bem. Sirva

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MUSTACEI (Rolinhos de queijo)

ingredientes:
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Farinha de trigo 500g
300ml de suco de uva (ou vinho jovem)
sementes de anis
sementes de cominho
100g de banha
50g de queijo ralado (queijo de ovelha seria melhor)
20 folhas de louro

instruções:
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Despeje um pouco do suco  sobre a farinha, adicione sementes de anis e do cominho, a banha e queijo. Trabalhar juntos até que você tenha uma massa lisa. Forme rolos, em seguida, colocar uma folha de louro em cada um deles.

Cozinhe os rolos de 30-35 minutos a 180 ° C.

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Acredito que vocês puderam perceber a brutal diferença entre a mesa de um plebeu e de um patrício. Outra coisa que acredito que você deva ter percebido é como um ingrediente se repete na maioria das receitas de pratos salgados… o “Liquamen” também chamado de  “Garum”.
 Fábrica de Garum (conserva)
O garum era um condimento composto por sangue, vísceras e de outras partes selecionadas do atum ou da cavala misturadas com peixes pequenos, crustáceos e moluscos esmagados; tudo isto era deixado em salmoura e ao sol durante cerca de dois meses ou então aquecido artificialmente.
Este produto era exportado para várias partes do Mediterrâneo. Há notícias de exportação de garum para Atenas, no século V a.C.
A existência de numerosas fábricas detectados no litoral mediterrânico da Península Ibérica, provam um nítido crescimento desta indústria conserveira.
O garum lusitano (produzido na região em que hoje se encontra Portugal) chegava a todos os pontos do Império romano, sendo produzido, sobretudo, nos estuários dos rios Tejo e Sado, e no Algarve. A maior concentração de vestígios de unidades de fabricação de garum localiza-se no litoral algarvio. No Algarve produzia-se garum em dezenas de sítios.
Na foz do Sado, em Tróia, uma fábrica de garum estendia-se por cerca de 2 Km.
Na região atlântica cohecemos os restos descobertos em:
  • Alto de Martim Vaz (Póvoa de Varzim)
  • na praia de Angeiras (Matosinhos)
  • no estuário do rio Sado, em Creiro, Rasca, Comenda, Ponta da Areia, Moinho Novo e Tróia, um do mais importantes centros conserveiros da Espanha.
As ruínas destas fábricas (usinas) até agora achadas em território português são constituídos pelos tanques ou cetárias destinados à salga de peixe e à preparação de conservas.


Bom agora que falamos da comida em razão das diferenças sociais, vamos falar das diferenças em razão da cultura. O Império Romano atingiu vastas regiões e as dominou absorvendo uma série de costumes. Sendo assim nada mais normal do que pensar que,  a alimentação mudaria conforme mudaria a região conquistada. Vejamos então:



A Comida no Mediterrâneo




As pessoas pobres que viviam perto do Mar Mediterrâneo tiveram que comer a comida que iria crescer em áreas muito secas, com um tipo de solo não muito fértil. Principalmente comiam o que os arqueólogos chamam de “Triade do Mediterrâneo ” ou três coisas: trigo e cevada (transformado em cerveja ou mingau de aveia ou pão sírio ou sopa), azeite (embebido no pão, ou de vegetais) e uvas (feita em vinho, vinagre ou passas para que pudessem manter). As pessoas também cultivavam um tipo de feijão verde e um monte de diferentes tipos de legumes e frutas.Alguns alimentos que foram especialmente comum foram maçãs e pêras, figos e ameixas (inclusive secas para fazer durar mais) e passas (feitas a partir das uvas), ervilhas , lentilhas, grão de bico e cebola, cenoura, alho e repolho,mel (que não tinha bem menos açúcar do que este que conhecemos hoje). Ainda cultivavam ervas como endro, tomilho, orégano, manjericão e hortelã,nozes, especialmente as nozes e castanhas e bolotas;pepinos (eles não têm tomates). Tinham ainda ovos (de galinhas, gansos e patos);iogurte e queijo, principalmente de caprinos e ovinos; carneiro (carne de ovelha), carne de bode e porco (presunto e bacon), peixe e, em especial o atum. Ah, e caracóis – pessoas tinham jardins especiais dedicados a criação de caracol especiais (comestiveis como os escargot é hoje na França).Um item que foi muito popular era um molho de peixe fermentado(que nos já vimos é o garum!): você pode encontrar algo parecido hoje na seção de alimentos tailandês da mercearia. Usaram-lo em tudo, a forma como muita gente usar ketchup hoje.


Povos Germânicos

A comida é uma das maneiras mais importantes que as pessoas podem mostrar o grupo a que pertencem: vamos comer esse tipo de alimento, e os nossos inimigos, as pessoas de lá, eles comem algum outro tipo estranho de alimentos que não iriamos tocar nem com uma vara bem longa…
Os alemães e os romanos sentiram exatamente dessa forma uns com os outros quando o assunto é alimento. Romanos beberam vinho com as refeições, e usavam o azeite para cozinhar. Mas os alemães beberam cerveja com as refeições, e usavam para cozinhar a manteiga). A principal razão para isso foi que o clima mais quente, mais seco no sul tornaram possível plantio de videiras (para vinho) e oliveiras , mas na Alemanha era mais fácil  cultivar cereais e havia abundância de pasto para o gado. Então, as pessoas bebiam cerveja, porque você faz cerveja de cevada, e comeram a manteiga, pois manteiga vem do leite de vaca.
Quando o Império domina a região alguns costumes foram mesmo estranhos entre si incorporados e nós temos até hoje pelo mundo a cerveja para provar que os Romanos mesmo não abandonando o vinho, continuaram a experimentar coisas novas pelo mundo…

Comida Egípcia

Porque o Egito era muito seco, e confiou boa parte de sua agricultura a um elo com o  rio Nilo, as pessoas no Egito acabaram só conhecendo certos tipos de alimentos. Principalmente  cultivavam trigo e cevada.
Os egípcios transformaram o trigo em pão, sopa e mingau, e também com a cevada fermentada fizeram a cerveja. Na verdade, algumas pessoas pensam que a verdadeira razão que o primeiro egípcios começaram a cultivar grãos foi para fazer cerveja.  
Na imagem acima nos temos um modelo egípcio de jarros de cerveja, que os egípcios faziam para colocar em seus túmulo  para que você tivessem cerveja no outro mundo.
Como já vimos com os germânicos, os romanos não eram grandes apreciadores da cerveja, mas acabaram usando muitas das técnicas de panificação egipcia.
Os egípcios também comiam carne. Você poderia ir a um açougue e comprar cordeiro lá, assim como as pessoas fazem hoje. Apenas porque raramente chove no Egito, eles poderiam ter a carne fora no pátio da loja, em vez de dentro.
Mas, como as outras pessoas do Mediterrâneo Oriental, como os judeus e os fenícios, os egípcios não comiam porcos (bacon, presunto ou salame), porque eles achavam que os porcos eram sujos e podiam transmitir doenças como a lepra. Eles comiam então, carne de carneiro, pato e ganso.
Para a sobremesa, os egípcios gostavam de comer damascos e figos.
Os arqueólogos também encontraram sementes que mostram que os egípcios conheciam e cultivavam melancias, e outros tipos de melão.
Ásia Ocidental



As pessoas da Ásia Ocidental tradicionalmente se dividiram em dois grupos que tinham hábitos muito diferentes comendo e bebendo, e que se viam como inimigos, embora eles também negociassem com o outro o tempo todo. Um grupo vivia nos vales e nas planícies, a terra plana, e eram agricultores. Eles viviam principalmente do trigo e cevada, transformado em pão achatado (como pão pita ou pizza) ou ainda como mingau. Eles também comiam lentilhas e grão de bico , com o qual eles também faziam o falafel e húmus.
 Húmus
Eles comiam também maçãs e figos. Esses povos também  bebiam cerveja, feita a partir  de seus grãos.
O outro grupo que vivia no alto das colinas, eram pastores criadores de cabras. Eles comiam muito queijo, iogurte e carne de carneiro assado, e bebiam o leite bebidas lácteas. Eles trocavam o queijo com o povo do vale por trigo e cevada.
Pois bem, agora que vimos diferenças entre classes sociais e culturas diversas cabe falar ainda de um produto muito consumido em Roma, já citado aqui: o vinho. 




O vinho
 

O vinho chegou no sul da Itália através dos Gregos a partir de 800 a.C. Os Etruscos, que viviam ao norte, na região da atual Toscana, elaboravam e comercializavam vinhos até na Gália.

Não se sabe, se eles trouxeram as videiras da sua terra de origem (provavelmente da Ásia Menor ou da Fenícia) ou se cultivaram uvas nativas da Itália, onde já havia videiras desde a Pré-História(veja postagens antigas no nosso blog para saber um pouco mais a respeito). Não é possível dizer quem as usou primeiro para elaborar vinhos.
A mais antiga ânfora de vinho encontrada na Itália é etrusca e data de 600 a.C. O ponto crítico da história do vinho em Roma foi a vitória na longa guerra com o Império de Cartago no norte da África para controlar o Mediterrâneo Ocidental entre 264 e 146 a.C. Após as vitórias sobre o general Anibal e, a seguir, sobre os Macedónios e os Sírios, houve mudanças importantes.
O primeiro a escrever sobre o tema foi o senador Catão na sua obra De Agri Cultura. No entanto, o mais famoso manual foi escrito por um cartaginês,chamado Mago, e traduzido para o latim e para o grego.
O manual de Mago estimulava a plantação comercial de vinhedos, a substituição de pequenas propriedades por outras maiores. Uma data importante no progresso de Roma foi 171 a.C., quando foi aberta a primeira padaria da cidade, pois até então os romanos comiam papas de cereais. Começava uma nova era e apareciam os vinhos de qualidade.
Na costa da Campania, mais exatamente na baía de Nápoles e na Península de Sorriento encontravam-se os melhores vinhedos romanos. Dessa época é o “Opimiano” (em homenagem ao cônsul Opimius) colheita de 121 a.C. do vinhedo Falernum que foi consumido, conforme registros históricos até 125 anos depois. Ainda assim, os vinhos gregos ainda eram considerados pelos romanos os melhores.
No império de Augusto (276 a.C. – 14 d.C.) a indústria de vinhos romana estava estabelecida em toda a extensão da Itália e já se exportava vinhos para a Grécia, Macedónia e Dalmácia.
Todos os melhores vinhos vinham da região entre Roma e Pompéia, mas a região da costa adriática era também importante, em especial pelas exportações. Pompéia ocupava uma posição de destaque, podendo ser considerada a Bordeaux (região da França onde se produz os melhores e mais caros vinhos do mundo) do Império Romano, pois era a maior fornecedora de vinhos para Roma.
Após a destruição de Pompéia pela erupção do vulcão Vesúvio no ano 79 d.C., ocorreu uma corrida na plantação de vinhedos onde quer que fosse. Plantações de milho tornaram-se vinhedos, provocando um desequilíbrio do fornecimento a Roma, desvalorização das terras e do vinho.
No ano 92 d.C., o imperador Domiciano editou um decreto proibindo a plantação de novos vinhedos e de vinhedos pequenos e mandando destruir metade dos vinhedos nas províncias.
O decreto visava a proteção do vinho doméstico contra a competição do vinho das províncias e manter os preços para o produtor.
O decreto permaneceu em vigor até 280 d.C., quando o imperador Probus o revogou. Tudo que se queira saber sobre a vinicultura romana da época está no manual De Re Rustica , de aproximadamente 65 d.C, de autoria de um espanhol de Gades (hoje Cádiz): Lucius Columella.
O manual chega a detalhes como: a produção por área plantada (que, surpreendentemente, é a mesma dos melhores vinhedos da França de hoje), a técnica de plantio em estacas com distância de dois passos entre elas (mais ou menos a mesma técnica usada hoje em vários vinhedos europeus), tipo de terreno, drenagem, colheita, prensagem, fermentação, etc Quanto ao paladar, os romanos tinham predileção pelo vinho doce, daí fazerem a colheita o mais tardiamente possível, ou, conforme a técnica grega, colher o fruto um pouco imaturo e deixá-lo no sol para secar e concentrar o açúcar (vinhos chamados “Passum”).
Outro modo de obter um vinho mais forte e doce era ferver, aumentando a concentração de açúcar (originando o chamado “Defrutum”) ou ainda adicionar mel (originava o “Mulsum”). Preparavam também o “semper mustum” (mosto permanente), um mosto cuja fermentação era interrompida por submersão da ânfora em água fria e, portanto, contendo mais açúcar.
Os romanos sempre tiveram predileção por temperos fortes na comida e também se excediam nas misturas com vinhos que eram fervidos em infusões ou macerações com ervas, especiarias, resinas e denominados “vinhos gregos” em virtude dos gregos raramente tomarem vinhos sem temperá-los.
Plínio, Columella e Apícius descrevem receitas bastante exóticas, este último em especial, conhecemos aqui nesta mesma postagem. Quanto a idade, alguns vinhos romanos se prestavam ao envelhecimento, os fortes e doces expostos ao ar livre e os mais fracos contidos em jarras enterrados no chão. Um recurso usado para envelhecer o vinho era o “fumarium”, um quarto de defumaçào onde as ânforas com vinho eram colocadas em cima de uma lareira e o vinho defumado, tornando-se mais pálido, mais ácido e com cheiro de fumaça. Galeno (131-201 d.C.), o famoso grego médico dos gladiadores e, posteriormente médico particular do imperador Marco Aurelio, escreveu um tratado denominado “De antidotos” sobre o uso de preparações à base de vinho e ervas, usadas como antídotos de venenos. Nesse tratado existem considerações perfeitas sobre os vinhos, tanto italianos como gregos, bebidos em Roma nessa época: como deveriam ser analisados, guardados e envelhecidos A maneira de Galeno escolher o melhor era começar com vinhos de 20 anos, que se esperava serem amargos, e, então, provar as safras mais novas até chegar-se ao vinho mais velho sem amargor. Segundo Galeno, o vinho “Falerniano” era ainda nessa época o melhor (tão famoso que era falsificado com frequência) e o “Surrentino” o igualava em qualidade, embora mais duro e mais austero. A palavra “austero”é usada inúmeras vezes nas descrições de Galeno para a escolha dos vinhos e indica que o gosto de Roma estava se afastando dos vinhos espessos e doces que faziam da Campania a mais prestigiada região.
Os vinhedos próximos a Roma, que anteriormente eram desprestigiados por causa de seu vinhos ásperos e ácidos, estavam entre os preferidos de Galeno. Ele descreveu os grandes vinhos romanos, todos brancos, como fluídos, mas fortes , variando entre encorpados e leves. Parece que o vinho tinto era a bebida do dia a dia nas tavernas.
Depois de Galeno não existem registros da evolução do paladar de Roma em relação aos vinhos. Certamente havia mercado para todos os gostos nessa metrópole que nessa época era a maior cidade do mundo Mediterrâneo e já possuía mais de um milhão de habitantes! É claro que a maior demanda era para o vinho barato que geralmente vinha de fora da península. É interessante notar que, desde a época de Galeno, o vinho da Espanha e da Gália começava a chegar em Roma. Um dos efeitos da expansão dos vinhedos nas províncias é que a produção em massa em regiões da Itália que abasteciam Roma tornou-se menos lucrativa e muitos vinhedos tornaram-se passatempo de nobres.
Um problema para os produtores italianos foi a criação, por volta de 250 d.C., de um imposto que consistia em entregarem uma parte do vinho produzido ao governo (para as rações do exército e para distribuição à plebe).
Talvez para remediar esta situação, em 280 d.C. , o imperador Probus, revogou o já mencionado decreto editado (e amplamente ignorado!) por Domiciano em 92 d.C., proibindo o plantio de vinhedos. Probus inclusive colocou o exército para trabalhar no cultivo de novos vinhedos na Gália e ao longo do Danúbio. No entanto, foi inútil, pois o declínio do Império Romano já começava… 
Ufa como falamos de comida não é mesmo !! Termina por aqui a nossa postagem sobre a alimentação em Roma…
Ah !Topa um desafio? Que tal começar o seu dia ao estilo dos romanos ?Achou muito exótico o paladar deles ? 
Não se preocupe nossa receita é simples e bem gostosa… caso queira tente aí em sua casa. Acompanhe, vamos então ao nosso Jentaculum !
O nosso prato romano será:
cum melle et frixam subcinericius tempora
Calma !Não se assuste… vou traduzir: panqueca frita com mel.
Melhor não é mesmo ? Vamos a receita:

 Pegue um pouco de farinha e
adicione água.Aos poucos vá batendo a massa

até que um disco de massa fina magicamente aparece

Em uma frigideira ou panela anti aderente despeje azeite e esquente

Frite a massa na frigideira (ou panela) até dourar em ambos os lados

Regue a massa frita com algumas colheres de mel

Espalhe pedaços/fatias ou cubos de alguma fruta por cima, como por exemplo damasco ou maçã

Sirva com um copo de leite

Experimente e se sinta como um verdadeiro Pater Familae !
Até nossa próxima postagem…

ABC da História Romana


Olá! Como estão? Enfim chegamos a semana de apresentação dos grupos do trabalho de “caracterização da Sociedade Romana”. Ao longo desta semana estaremos usando ao máximo nossa imaginação para recriar e recontar um pouco do que foi o Império Romano. Estaremos também fechando nossos assuntos para partirmos para o que foi o fim do Império Romano no Ocidente com a queda da Cidade de Roma. Esta então será uma postagem especial, com boa parte de assuntos que tratamos em sala de aula e que complementará outros aspectos que infelizmente não temos tempo suficiente de abordar, mas que em nosso espaço aqui podemos livremente falar e você aluno(a) poderá sempre consultar quando tiver um tempinho. Pois bem, então recline-se em sua cadeira, leia com atenção os pontos deste texto a seguir e havendo novas dúvidas venha compartilhar em aula, pois é assim que estamos este ano trabalhando cada vez mais para você desenvolver ao máximo o seu potencial. Deixe a imaginação guiar seus passos…
ROMA NA IDADE DA PEDRA
Por volta de 200.000 anos atrás, segundo pesquisas havia poucas pessoas vivendo na Itália. Nós sabemos a respeito delas, através dos vestígios que deixaram (por exemplo, machadinhas e ferramentas rudimentares feitas de pedra lascada) encontradas em sítios arqueológicos a oeste de Roma em “Torrimpietra”. Eles ainda não eram os humanos modernos, mas uma espécie diferente chamada “Homo Erectus” um dos ancestrais do homem moderno. Mais “Homo Erectus” e depois “Neanderthals”, viveram perto de Roma por volta de 100.000 anos atrás. Mas as primeiras pessoas  que foram geneticamente idênticas aos modernos italianos, os “Homo Sapiens Sapiens”, só apareceriam no alto Paleolítico (a idade da pedra), por volta de 12.000 anos atrás. Essas pessoas em analise genéticas atuais originalmente teriam vindo do oeste da Ásia. Elas deixaram como vestígios ferramentas de pedra, inscrições em cavernas e ossos, mas não tão destacadas como as pinturas e vestígios encontrados nos dias de hoje na França e Espanha, que são datadas do mesmo período, o que indica que ainda não havia muitos grupos humanos na Itália naquela época. A grande mudança ocorreu por volta de 5.000 anos atrás (no chamado período Neolítico) quando mais pessoas chegaram a Itália. Ao que parece elas vieram da Grécia, em barcos/canoas cruzando o oceano, utilizando as novas tecnologias desenvolvidas no período: eles sabiam como plantar e colher, como fazer potes de barro e construir casas. Junto com eles trouxeram animais que tinham domesticado ou que utilizavam para se alimentar como vacas e ovelhas (atividade pastoril). Eles construíram diques para represar e utilizar a água para as suas plantações e construíram também muros para proteger suas vilas na região Sul da Itália contra animais selvagens e estrangeiros. Os ossos das pessoas de uma destas vilas, “Ripa Tetta”, mostram hoje para nós coisas muito interessantes: mulheres na vila tinham seus dentes arrancados de propósito, talvez para fazê-las mais bonitas (como ganhando um piercing de língua ou partindo-a tornando ela bifurcada como a de uma serpente). No geral apresentavam terríveis cavidades em seus dentes pela falta de cuidado. Há evidencias nos ossos, que mostra que o grupo era violento (ossos quebrados e calcificados). Mas no geral ao seu modo eram saudáveis, praticavam exercícios e pelo tamanho do grupo, não apresentavam doenças infecciosas que poderiam ser uma ameaça ao próprio grupo.
Por volta de 3500 anos atrás, no final do Neolítico, essas populações foram gradualmente se espalhando também para o norte da Itália, motivados pelo empobrecimento do solo que dificultava o plantio. Alguns deles moveram-se muito próximos ao que seria Roma. Por volta do ano 3000 a.C., no fim da Idade da Pedra, essas pessoas já sabiam como utilizar uma metalurgia rudimentar e faziam trocas destes pequenos pedaços de metal com seus vizinhos gregos.
Roma na Idade do Bronze

Os povos da Itália aprenderam como usar o bronze com os povos do oeste da Ásia, muito provavelmente com os Fenícios, que faziam trocas com eles. Mas o bronze era muito caro. Ferreiros faziam bronze a partir do cobre e estanho, mas não havia estanho na Itália. Para consegui-lo viajavam até a região que hoje é a Inglaterra ou voltavam ao oeste da Ásia. Então muitas pessoas ainda usavam pedra, madeira ou ferramentas feitas a partir de ossos. Somente ricos conseguiam usar bronze e isto gerava disputas entre as aldeias. Na Idade do Bronze, a Itália tinha uma rede pequenas aldeias independentes que as vezes formavam ligas para lutar juntas (como os gregos fizeram ,por exemplo, para lutar na Guerra de Tróia) e as vezes não.
Por volta de 2000 a.C., estas aldeias foram invadidas e dominadas por outros povos vindos da Grécia e Alemanha. A língua que estes invasores passaram a falar gradualmente na Itália foi o Latim, mas também havia línguas como a dos Sabinos e muitas outras que infelizmente se perderam com o tempo. Estes invasores trouxeram com eles cavalos e a tecnologia de fabricação de objetos de argila e muitas outras invenções.
Etruscos
Já realizamos em nosso blog, um estudo mais apurado da sociedade etrusca e da sua importância para a formação dos romanos. Então vamos tratar rapidamente em linhas gerais, o que foi a participação etrusca. Eram chamados Τυρσηνοί, tyrsenoi, ou Τυρρηνοί, tyrrhenoi, pelos gregos e tusci, ou depois etrusci, pelos romanos; eles auto-denominavam-se rasena ou rašna.
Desconhece-se ao certo quando os Etruscos se instalaram aí, mas foi provavelmente entre os anos 1200 e 700 a.C.. Nos tempos antigos, o historiador Heródoto acreditava que os Etruscos eram originários da Ásia Menor, mas outros escritores posteriores consideram-nos italianos. A sua língua, que utilizava um alfabeto semelhante ao grego, era diferente de todas as outras e ainda não foi decifrada, e a religião era diferente tanto da grega como da romana.
A Etrúria era composta por cerca de uma dúzia de cidades-estados (Volterra, Fiesole, Arezzo, Cortona, Perugia, Chiusi, Todi, Orvieto, Veio, Tarquinia, Fescênia, etc.), cidades muito civilizadas que tiveram grande influência sobre os Romanos. A Fescênia, próxima a Roma, ficou conhecida como um local de devassidão. Versos populares licenciosos, na época muito cultivados entre os romanos, ficaram conhecidos como versos fesceninos (obscenos).
Os últimos três reis de Roma, antes da criação da república em 509 a.C., eram etruscos. Verificaram-se prolongadas lutas entre a Etrúria e Roma, terminando com a vitória desta última nos anos 200 a.C..
A Roma Mitológica

Quando Roma tornou-se a cidade mais importante do mundo, era preciso que se lhe desse uma origem mítica e esplendorosa, que deixasse aquém a verdade de ter sido fundada por simples pastores. Desprovidos da tradição escrita na época da fundação, a Roma emergente, poderosa e dona do mundo antigo, utilizou-se da tradição oral para explicar poeticamente, através de várias lendas existentes, o seu nascimento. Movidos pela assimilação da cultura helênica, os romanos tomaram para si vários dos deuses da mitologia grega, assimilando-os aos seus próprios. Aceitar abertamente a influência da cultura dos helenos era para os romanos um acinte no orgulho latino. Para contrapor-se aos gregos, os romanos foram buscar como fundador um descendente do mito de Enéias, herói troiano, único sobrevivente da guerra, que teria fugido da Ásia Menor e aportado na península Itálica. Da prole de Enéias surgiriam os gêmeos Rômulo e Remo, filhos do deus Marte com uma mortal. Rômulo teria sido o fundador da maior cidade da antiguidade e o seu primeiro rei. Ao proclamarem Rômulo como fundador de Roma, os romanos davam à cidade uma independência aparente da cultura helênica, fazendo dos troianos, maiores inimigos dos gregos, vencedores de uma guerra vencida pelos latinos, além de atribuírem a origem divina à cidade que se tornara a mais poderosa do mundo. Nas bases de Roma, os gêmeos amamentados por uma loba, escolheram erguer uma cidade em lugares diferentes. Remo escolheu o monte Aventino, Rômulo o Palatino. A escolha de Rômulo foi aplaudida pelos deuses. Desdenhado, Remo provoca o irmão até que é morto por ele. A cidade ergue-se na sua colina mais famosa, vertendo o sangue de um dos gêmeos, numa demonstração do sangue que se deveria derramar para que se tornasse a capital do maior império do mundo antigo. Rômulo é o lado místico e imortal da cidade que se iria denominar eterna. É o glamour do pastor transformado em filho do deus da guerra, do guerreiro conquistador opondo-se ao agricultor do início de uma cidade que se mostraria imprescindível na formação da civilização moderna.

Enéias, Um Sobrevivente Troiano

Para não se ofuscar à superioridade cultural dos gregos, os romanos, quando no apogeu do seu poder, criaram um mito que se igualava a Aquiles em bravura, e a Odisseu (Ulisses), em inteligência estratégica. Enéias foi situado em Tróia, sendo o inimigo dos gregos que não sucumbiu a eles.
Enéias era filho da deusa do amor Afrodite (Vênus), fruto do seu romance com o mortal e pastor Anquises. Assim, o mito dá o aspecto divino aos descendentes de Enéias, fazendo-o simultaneamente, o herói que os helenos não conseguiu destruir.
O mito de Enéias surge imponente em pleno final da guerra de Tróia, quando a cidade em chamas, é reduzida a ruínas. Casado com Creúsa, filha do rei Príamo, soberano troiano, ele perde a mulher durante a fuga, sendo ela consumida pelo fogo. Já morta, Creúsa aparece como uma sombra, ordenando ao marido que parta e leve o filho Ascânio, profetizando que seria pai de reis poderosos e de um novo reino em terras distantes. Enéias obedece, deixando a cidade, levando consigo o filho Ascânio, neto de Príamo, último rei de Tróia, o pai Anquises, e vários cidadãos troianos sobreviventes da catástrofe da guerra. 


O mito de Enéias iguala-se ao do herói grego Aquiles e do herói troiano Heitor. Em Ascânio está a vingança erudita romana sobre a civilização helênica, fazendo dos antepassados do fundador de Roma neto de um eminente soberano inimigo. A saga de Enéias, a partir das ruínas de Tróia, até aportar no Lácio, é epicamente contada na “Eneida”, de Virgílio (70 a.C. – 19 a.C.), numa versão latina que lembra a “Odisséia”, de Homero (século IX a.C.). Enéias aporta na ilha dos Ciclopes, onde habita Polifemo, que tinha o seu único olho no meio da testa vazado por Ulisses. Assim como o herói grego, Enéias escapa à fúria do Ciclope. Em Cartago vive uma tórrida paixão com Dido, a rainha do lugar. Ali fica, até que Júpiter ordena a sua partida, pois tem planos para ele em outras terras. Por ordem divina, Enéias abandona a bela amante. Ao ver o navio do amado distanciar-se no horizonte, Dido decide pôr fim à vida. Manda erguer uma pira, simulando ao seu povo um sacrifício aos deuses. Deitada sobre a pira, Dido trespassa mortalmente uma espada no corpo, lançando um derradeiro grito no ar. Seu corpo é devorado pelo fogo da pira que mandara os súditos erguerem. Em alto mar, Enéias as vê chamas que ardem em Cartago, sem saber que elas devoram o corpo da amada. Durante toda a sua peregrinação pelo mar Mediterrâneo, Enéias é perseguido por Hera (Juno), a poderosa deusa mulher de Júpiter, que odeia os troianos. Mas o senhor dos deuses protege o guerreiro e herói troiano.
Ao aportar na península itálica, Enéias encontra-se com Heleno, que o conduz até a caverna da Sibila de Cumas, sacerdotisa do deus Apolo. A profetisa leva Enéias ao Érebo, onde se encontra com Anquises, o pai morto. Anquises mostra ao filho o futuro glorioso dos seus descendentes, e como irá dominar o Lácio.
Enéias e os troianos sobreviventes aportam no Lácio. O herói é recebido com alegria por Latino, rei do lugar. Ao conhecer Lavínia, filha de Latino, Enéias apaixona-se por ela. Mas a bela princesa está prometida a Turno, o rei dos rútulos. Apesar do compromisso, Latino tende a entregar a filha para o forasteiro troiano, pois pouco tempo antes dele chegar, o fantasma do pai morto aparecera-lhe, avisando-o de que um genro vindo de longe transformaria o seu reino no mais importante do continente, fazendo-o imortal na memória do povo. Latino identifica Enéias como o herói da profecia. Entrega ao troiano a filha como esposa. Ao saber que Lavínia seria dada em casamento a Enéias, Turno desencadeou uma longa e sangrenta guerra contra os troianos. Turno juntou os latinos e os rútulos contra os troianos, tendo ainda, o apoio de Mezêncio, rei exilado dos etruscos. Acossados, Enéias e os troianos sentem que serão aniquilados. Em sonho, os deuses aconselham o troiano a procurar Evandro, rei da Pantaléia. Inimigo declarado de Mezêncio, Evandro junta os exércitos etruscos, comandados pelo filho Palas, aos troianos, numa luta sangrenta contra os latinos e os rútulos.
No meio das batalhas, Palas tomba de um lado, e Mezêncio do outro. No combate final, entre Enéias e Turno, o troiano mata o rútulo. Com a vitória, Enéias toma Lavínia como esposa, fundando ao seu lado uma cidade que recebe o nome de Lavínio. Juntos, troianos e latinos formam um povo único. A derrota de Tróia pelos gregos está vingada. De Enéias, o troiano, virá o fundador de Roma, que irá subjugar os gregos e toda a cultura helênica.

Os Gêmeos Amamentados Por Uma Loba

Reza a lenda que Ascânio, o troiano, filho de Enéias, reinaria sobre Lavínio por trinta e três anos, até que fundou a cidade de Alba Longa, passando a coroa de Lavínio para o irmão Sílvio, fruto do casamento de Enéias com Lavínia. Ascânio governaria com sabedoria sobre Alba Longa, formando uma série de reis albanos legítimos, que se iria encerrar em Numitor, avô de Rômulo e Remo. No leito de morte, Procas, rei de Alba Longa, descendente direto de Ascânio, decidiu passar o trono a favor do filho Numitor, deixando os tesouros para o outro filho, Amúlio. Após a morte de Procas, Amúlio não acatou a decisão do pai. Com a ajuda de um exército mercenário, invadiu o palácio real, depondo o irmão Numitor, fazendo-o fugir, usurpando-lhe o reino de Alba Longa. Na fuga, Numitor deixou para trás seus dois filhos, um menino e uma menina. Temendo ser destronado pelo herdeiro do irmão, Amúlio mata o sobrinho e encerra a sobrinha num claustro, fazendo dela uma vestal, obrigada à castidade. Assim, Réia Silvia, a filha do rei deposto, dedica a sua vida à consagração da deusa da castidade, Vesta. Sua vida passa despercebida, até que um dia a sua fulgurante beleza foi descoberta por Marte, o deus da guerra. Ao vê-la caminhar pelos campos sagrados dedicados a Vesta, Marte queda-se de paixão pela jovem. Movido pela paixão, o deus persegue a vestal, tomando-a com violência nos braços. Da fúria daquela paixão, Réia Silvia viu crescer o seu ventre, trazendo ao mundo, nove meses depois, os gêmeos filhos de Marte.

 
Ao saber da gravidez da sobrinha, Amúlio fica enfurecido. Prende-a na masmorra do seu palácio, fazendo com que a infeliz mulher ficasse ali confinada, até o nascimento dos gêmeos. Apesar de implorar pela vida dos filhos, Réia Silvia tem os recém-nascidos arrancados dos braços, vendo-os atirados dentro de uma cesta, nas águas do rio Tibre. Ao ver a cesta que levava os gêmeos boiando no Tibre, Marte fez as águas subirem, atirando a cesta ao sopé do monte Cérmalo. Debaixo de uma figueira, uma loba enviada pelo deus da guerra, encontra os gêmeos, amamentando-os e protegendo-os do frio e dos outros animais silvestres. Rômulo e Remo estão salvos da morte.


Devolvido o Trono de Alba Longa a Numitor




Numa tarde de verão, o pastor Fáustulo, ao descansar à sombra de uma árvore, ouviu, ao longe, gritos alegres. Curioso, foi até o local de onde vinha o som, deparando-se, com espanto, frente a duas crianças robustas e rosadas, brincando com uma loba. Os pequenos puxavam as patas do animal, acariciavam-lhe os pêlos, tomavam-lhe as tetas, sugando-lhes o leite.
Fáustulo é descoberto pelo animal. Temendo ser atacado, ele recua. Mas a loba fixa-lhe os olhos com mansidão. O pastor aproxima-se das criaturas. Põe-se a contemplá-las por longas horas. No fim do dia decide levar as crianças para a sua casa. Há anos que ele e a mulher sonhavam com um filho, mas que jamais brotara do ventre matrimonial do casal. Fáustulo e a mulher, Aca Larência, criam os gêmeos como se fossem filhos legítimos. São chamados de Rômulo e Remo. Com o casal de pastores, os gêmeos aprendem os costumes humanos. Especializam-se na arte de pastorear grandes rebanhos. Enviados para Gabi, eles aprendem a utilizar o arco e a flecha, ao mesmo tempo em que se iniciam no domínio da escrita. Após o aprendizado em Gabi, voltaram para a cabana dos pais adotivos, ao pé do monte Palatino, ali vivendo como pastores.

Os gêmeos viveram felizes, a pastorear os seus rebanhos, até um dia que o roubo de uma ovelha indispôs Remo com um vizinho. A pendência foi levada ao rei Amúlio. Ao ficar diante do rei, Remo mostrou-se inteligente e de carisma instigante. Seduzido pela eloqüência do jovem, Amúlio começou a fazer perguntas sobre a sua vida. Remo, embora sendo um modesto pastor, tinha um porte de guerreiro que se lhe sobressaía, chamando a atenção do ardiloso rei de Alba Longa. Ao saber que ele tinha um irmão gêmeo, o soberano usurpador pressentiu que aquele era um dos filhos da sobrinha Réia Silvia. Desconfiado daquela possível verdade, o rei mandou encarcerar o jovem pastor. Ao pôr-se a par da prisão do irmão, Rômulo questionou Fáustulo sobre as razões que levaram Amúlio a cometer um ato tão brusco. Diante das dúvidas do filho, Fáustulo decidiu revelar-lhe todos os segredos em torno das suas origens. Ele e Remo foram adotados quando crianças, sendo filhos do deus Marte e da infeliz princesa Réia Silvia. Ao saber da verdade, Rômulo foi acometido de uma ira implacável. Orientado pelo verdadeiro pai, o deus guerra, reuniu um número significante de bravos guerreiros, e, sua na genuína raiz genética de soldado belicoso, marchou para o palácio do rei usurpador.
 Rômulo desencadeou uma violenta batalha. No meio do seu exército, bradava como se fosse o próprio Marte, fazendo com que os soldados do rei se rendessem a ele. Quando adentrou o palácio, pôs-se em frente a Amúlio. Chegara a hora da vingança aos sofrimentos que o tirano impusera a sua mãe Réia Silvia. Vingador, Rômulo trespassa a sua espada no corpo de Amúlio, que cai morto, coberto de sangue, tendo tempo apenas de pedir clemência aos deuses. O fim do reinado do usurpador chegara ao fim.
Após a morte de Amúlio, Rômulo libertou o irmão Remo. Juntos fizeram justiça ao reino de Alba Longa e à dignidade do seu antepassado, Ascânio, fundador da cidade. Depois de limpar o trono do sangue vil de Amúlio, os gêmeos tiraram a mãe, Réia Silvia, do confinamento nas masmorras do palácio, pondo fim ao seu longo sofrimento. Finalmente, Rômulo e Remo, os guerreiros filhos de Marte, proporcionaram a volta do avô Numitor a Alba Longa, entregando-lhe o trono usurpado.


O Sangue de Remo Banha o Muro de Roma


Ao subir ao trono de Alba Longa, Numitor decidiu recompensar a bravura dos netos, entregando-lhes um território às margens do rio Tibre, autorizando-os a erguerem uma cidade no local.
Movidos pelo entusiasmo de fundar uma nova cidade, os gêmeos dirigiram-se para o local que se lhe destinara o avô. Percorrem o lugar, sem saber onde exatamente deveriam edificar a nova cidade. Confusos, concordam que os deuses deveriam indicar o local. Rômulo parte para o monte Palatino, enquanto que Remo sobe o monte Aventino. Os deuses deveriam enviar o sinal do local mais favorável. Subitamente, sobre o Palatino começaram a voar doze abutres, enquanto que apenas dois pairavam sobre o Aventino. Os deuses indicavam o local onde estava Rômulo para que se fosse edificado o novo reino.
Rômulo deixa-se tomar pelo entusiasmo, pondo-se a traçar um sulco ao redor da montanha, utilizando para isto um arado atrelado a um touro e uma novilha. Ao ver o entusiasmo solitário do irmão, Remo sente-se excluído. Uma nuvem negra de ciúme toma-lhe o semblante. Remo passa a escarnecer o trabalho do irmão, dizendo-lhe que o muro por ele erguido seria facilmente transposto por bandoleiros. Rômulo nada diz, suporta calado às provocações do irmão.
As provocações de Remo são cada vez mais instigantes. Em um momento impensado, ele atravessa com um salto, o sulco proibido. Rômulo sente o sangue a subir-lhe à face. É tomado por uma cólera incontrolável. Com a espada em punho, dirige-se para o irmão, que recua assustado. Acossado, Remo pede piedade a Rômulo. Surdo pela fúria, Rômulo investe a espada sobre o irmão, que cai ferido mortalmente. Ao ver o sangue de Remo escorrer nas paredes do muro, Rômulo apercebe-se do ato que fizera. Cheio de pesar, corroído pelo remorso, ele debruça-se sobre o corpo do irmão.   
Brada aos deuses que o tragam à vida.
Com o rosto coberto de lágrimas, abraça Remo, sentindo-lhe as faces geladas pela morte. Rômulo pensa em dar fim à vida, de que lhe valia continuar sem a outra parte de si mesmo? Chora compulsivamente sobre o corpo do irmão. Já no fim da tarde, após derramar todas as lágrimas, Rômulo levantou-se. Tomou o corpo do irmão nos braços e o levou até o monte Aventino, ali enterrando o seu gêmeo. Após o ato fúnebre, voltou ao árduo trabalho de erguer a sua cidade. Era o que lhe restara na vida, erguer a cidade que já nascia com o muro coberto pelo sangue de Remo.
Assim, no monte Palatino, após verter o sangue de Remo, Rômulo edificou, tijolo por tijolo, uma cidade que deu o nome de Roma. Seria grandiosa, nascida sobre a marca da tragédia, pronta para verter o sangue todas às vezes que se lhe fosse preciso para que existisse e crescesse soberana, onipotente ao mundo.
Monarquia
Rex: o rei para os romanos
A organização política romana inicial foi de tipo monárquico. Não só a tradição, mas também a arqueologia, que como já tratamos em sala, auxilia o trabalho do historiador, confirmam essa ideia.
Os sete reis apontados são: RômuloNuma PompílioTúlio HostilioAnco MárcioLúcio Tarquínio PriscoSérvio Túlio eTarquínio, o Soberbo.
No que se refere aos quatro primeiros, muitos historiadores entendem que a lista de reis fora estabelecida pelos historiadores romanos por volta do século III a.C., o que confirmaria a existência de todos os sete reis. Os quatro primeiros foram latinos e sabinos, enquanto os últimos três teriam sido etruscos.
Assim como a família e o povo contavam com seus sacerdotes, a cidade também tinha um responsável pelos sacrifícios, festas religiosas e demais deveres do povo para com os deuses. Rômulo, o primeiro rei de Roma, instruído em “ciência augural”(presságios), foi quem celebrou a cerimônia de fundação da cidade. Era, portanto, uma espécie de sacerdote do lar público. Era ele quem conhecia as fórmulas sagradas da oração às quais os deuses não poderiam resistir. Mesmo a coroa, que hoje temos como insígnia do poder monárquico, nada mais era que um símbolo exterior religioso, que acompanhava a oração e o sacrifício, usado nos coros e nas procissões.
Fustel de Coulanges, perito em História Romana, que escreveu o livro “A cidade antiga”, nos diz que este tipo de realeza político-religiosa se estabeleceu em praticamente todas as cidades daquela região. E o que se pode perceber da leitura dos textos antigos é que uma mesma pessoa costumavam ter diversas funções como: ministrar justiça, dirigir a política e zelar pela religião da cidade. Mas, entretanto, não podemos dizer que o Rex costumasse governar sozinho. Aliás, a própria estrutura inicial da cidade (confederação de tribos ou gentes) fazia com que o Rei fosse levado a consultar os chefes das famílias confederadas sobre os assuntos mais importantes. Além disso, o sistema de crenças que legitimava a organização social daqueles romanos, ordenava o respeito à autonomia das famílias e à autoridade de seus chefes. Lembra-se que em aula tratamos que a importância dos patrícios vinha diretamente da sua participação na fundação de Roma ? Consegue entender agora um pouco mais a respeito ? Que bom !
Outra característica da monarquia romana é que esta foi eletiva, e não hereditária. O processo eleitoral, conforme se deu na eleição de Numa, consistia na escolha do nome pelo senado, que posteriormente deveria receber a sanção da assembléia por cúrias. Por fim, os áugures(presságios) deveriam verificar se a escolha dos romanos estava de acordo com a vontade dos deuses. Na maioria dos estudos, contudo, a versão que mais conta com adeptos é a de que o rei escolhia o seu sucessor.
O rapto das Sabinas
Diz a lenda que, como a população era constituída só de homens, Rômulo organizou um festival a Netuno e convidou os sabinos, povo vizinho, com suas filhas e mulheres(em outros relatos a festa muda para uma disputa olímpica entre os campeões das duas cidades). No auge das festividades, os romanos raptaram as sabinas solteiras e viúvas, levando-as para Roma. Os sabinos, reunidos sob o comando de Tito Tácio, atacaram Roma e, com a ajuda de Tarpéia, conseguiram penetrar no Capitólio. Na batalha final, as sabinas, que já se haviam habituado à sua nova vida, interferiram para impedir a carnificina entre seus pais e maridos. Graças à intervenção pacificadora das mulheres, romanos e sabinos assinaram um tratado de paz. Os sabinos, com isso, se integraram a Roma, compondo a tribo dos Tities. Tito Tácio e Rômulo passaram a governar em conjunto. A partir daí os reis se revezavam: um latino, um sabino, sucessivamente.
Bom, vamos falar um pouco agora individualmente de cada um dos reis de Roma…
Rômulo


O primeiro rei reconhecido de Roma foi o seu mítico fundador Rômulo. A ele também é atribuída a fundação do Senado. A partir dele se inicia a campanha de expansão da população, através da garantia de refugio e segurança e mesmo de criminosos nas colinas Capitolinas. Ele expande os limites da cidade até as quatro colinas: Capitolina, Aventino, Celio e Quirinal. Após o “rapto das Sabinas” como comentado, reina junto de Tito Tácio.
Após a morte de Tito Tácio, Rômulo reinou sozinho durante 33 anos. Segundo Varrão (753 a.C. e 715 a.C.), Rômulo, ainda como primeiro rei de Roma, criou um Senado de cem patres (patrícios), dividindo também a população em trinta cúrias e três tribos: os ramnenses, os ticienses e os lúceres. Criou também a primeira legião. Foi chamado Pai da Pátria. Aos 54 anos, enquanto passava em revista as tropas, irrompeu terrível tempestade, acompanhada de um eclipse solar. Passada a tormenta, o rei sumira. Em sonho, revelou a Próculo que fora raptado pelos deuses e se transformara no deus Quirino (originalmente o deus da guerra Sabino). Os romanos por causa disto costumavam também se autodenominar “quirinos”. Ao que parece na verdade, Rômulo por todo o seu histórico de vida foi traído pelos senadores por ter se tornado um tirano.

Numa Pompílio

Numa Pompílio ascendeu ao poder cercado pela controvérsia a respeito da morte de Rômulo. Como já dito após a morte de Rômulo, imediatamente o senador Julio Próculo disse que em sonho havia sido avisado que o antigo rei havia se tornado o deus Quirino. Isso absolveu o Senado de quaisquer suspeitas e claramente indicava o caminho para o próprio Próculo tornar-se rei, pois o sonho seria  benção do próprio rei anterior para que este tomasse o poder. Todavia o povo romano não aceitou esta transmissão a um possível assassino. Desde a morte de Tito Tácio, Roma era vinha sendo governada por um romano, logo os Sabinos reivindicaram o direito a ter na sucessão um Sabino.
A escolha foi Numa Pompilio. Um homem que não queria o cargo. Ao contrário de Rômulo, Numa não era um rei guerreiro, mas um religioso. Foi a partir de seu reinado por exemplo, que as sacerdotisas “Virgens Vestais” passaram a ganhar destaque em Roma. Numa segundo a tradição também é o responsável por adicionar ao calendário os meses de Janeiro (em homenagem aos deus Janus) e Fevereiro e de estabelecer a contagem de 360 dias por cada ano.
Durante os 43 anos de reinado de Numa, Roma passou por um período de paz. A tradição diz que seu governo sábio era guiado pelos deuses. Para os romanos, o rei Numa Pompílio foi o pai de sua cultura; o homem que transformou semi-barbaros, criminosos e ladrões de noivas de Rômulo em uma florescente civilização. Para os romanos então, Numa foi um grande guia na criação de sua identidade como povo.
Túlio Hostilio
Com a morte do pacifico Numa Pompílio o poder caiu nas mãos de alguém que adorava a guerra: Túlio Hostílio. Numa Pompílio havia sido um homem que procurava ser diplomático em suas ações e promover a reconciliação, enquanto o seu sucessor Túlio Hostílio era alguém que procurava resolver os problemas pela espada.
Quando disputas acontecem entre Roma e seus vizinhos de Alba Longa, Túlio declara guerra. Pelos vários laços entre as duas cidades, acabaria sendo uma guerra civil. Para evitar o massacre entre os dois exércitos, os dois lideres Túlio Hostilio por Roma e Mettius Fufetius por Alba Longa, decidem realizar um torneio de campeões. Três irmãos de cada lado que lutariam no lugar dos exércitos. Pelos romanos, lutaram os irmãos Horácios e por Alba Longa, lutaram os irmãos Curiácios. A disputa termina com a vitória de Marcos Horácio por Roma. Com a derrota Alba longa jura fidelidade a Roma. Mas o rei Mettius não cumpre o acordo e busca se aliar a outro vizinho os Fidenates. Quando os exércitos de Roma encontram os de Fidenates, eles mudam de lado e os dois enfrentam Alba Longa, destruindo a cidade. Os remanescentes juram fidelidade e se mudam para as colinas Celio.
Com o aumento da população, o Senado se expande e passa a ocupar a parte oeste de Roma aos pés da colina Capitolina. E lá permanece durante toda a história de Roma e em homenagem ao construtor do novo espaço recebe o nome de “Curia Hostilia”. Túlio também é responsável por subjugar outros vizinhos e forçarem eles a fazer paz com Roma.
No final de sua vida, Túlio temia ser castigado pelos deuses por sua violência. Tornou-se bastante religioso, fazendo grandes oferendas de sacrifício, mas sem sucesso, pois segundo a lenda, sua morte se deve a um raio que o atinge e mata.





Anco Márcio



O quarto rei de Roma e neto de Numa Pompílio, Anco Márcio foi escolhido para restaurar a paz como havia feito seu avô. Seu primeiro teste foi o combate a tribo dos então chamados Velhos Latinos (prisci latini). Anco então para a surpresa de todos mostrasse um grande guerreiro, tanto quanto um bom administrador vencendo os Velhos Latinos e anexando seu território a Roma. A parte conquistada corresponde a colina Aventino. A tradição também diz que Anco funda a cidade de Ostia. Mas pesquisas arqueológicas indicam que Ostia foi fundada em uma era posterior. Roma tinha interesse no controle desta região para ter acesso aos bancos de sal, depositados próximos ao rio Tibre. Ao final de sua vida Anco Márcio morre segundo a tradição como um rei respeitado.
Lúcio Tarquínio Prisco
(também chamado “Tarquínio, o velho)



O quinto rei de Roma tem a sua volta histórias difíceis de separar dos mitos (assim como os reis anteriores). Segundo a tradição, Tarquinio, o velho saiu da cidade etrusca de Tarquinii. Seu pai, Demaratus foi um nobre da cidade de Corintios que fora forçado a abandonar a cidade (655 a.C.) quando o tirano Cypselus assumiu o poder. Este elo com os gregos é uma possível evidencia das trocas em Tarquinii. Mas também significa um forte posicionamento dos historiadores romanos em negar que haviam sido governados por etruscos.
A lenda conta que ao entrar na cidade de Roma uma águia, deixou cair uma pena que conscientemente depositou no chapéu de Tarquinio, depois retomando seu vôo. Evidentemente Tarquinio era um favorecido pelo destino. Para ampliar este favorecimento, Tarquinio troca ate o seu sobrenome etrusco “Lucumo” pelo latino Lúcio (Lucius). Não se sabe ao certo se pelo próprio esforço ou pela figura de sua mulher Tanaquil, uma aristocrata etrusca, mas Tarquinio consegue varias conexões e passa a uma posição de destaque no reinado de Anco Márcio. Ele torna-se guardião dos dois filhos de Anco. Segundo a história quando Anco Márcio morre, Tarquinio, convence seus dois filhos a irem caçar enquanto ele prepara a cerimônia do funeral. Quando eles retornam encontram Tarquínio no trono. Ele usou a ausência dos filhos de Anco para convencer os romanos e garantir que votassem nele. Como já dissemos aqui a monarquia em Roma não era hereditária. Sob o comando de Tarquínio, Roma vence as batalhas contra os seus vizinhos Sabinos, Latinos e Etruscos que confiavam ter posição de destaque com a cidade enfraquecida pela perda do rei. É Tarquinio, o velho quem cria símbolos que indicam seu poder e o poder de Roma como a coroa de ouro, a corrente de marfim, a águia no cetro, a túnica púrpura e a capa e o fascio.
É Tarquínio quem também introduz os Jogos em Roma (lutas de gladiadores).
O fim de Tarquínio, o velho é violento. Os filhos do falecido rei Anco, procuraram vingança e contrataram dois assassinos. Enquanto numa audiência o primeiro distraiu Tarquínio, fazendo menção a uma disputa, o outro acerta a cabeça do rei com uma machadinha, matando-o instantaneamente. Mas não é isto que é contado ao povo. A esposa de Tarquínio, Tanaquil informa ao povo que estava ainda tratando de sua ferida e que o rei escolherá um sucessor, o protegido de Tanaquil, Sérvio Túlio. Evidente Tarquínio o velho, nunca se recuperou, mas quando o povo deu por si, já havia um novo rei.
Sérvio Túlio

O sexto rei de Roma, é um monarca celebrado pelas grandes conquistas. A origem de Sérvio Túlio é incerta. Seu nome alias pode ser uma corrupção da palavra “servus” (escravo). O nome alias depois seria usado pelos plebeus. Uma das histórias conta que ele teria sido filho da casa de escravos, enquanto outras o indicam como um príncipe da cidade Sabina de Corniculum, capturada pelos romanos. Interessante é que também havia na tradição etrusca, a história de que Sérvio tinha na realidade um nome etrusco, “Mastarna”. As lendas ainda dizem que Sérvio era um menino, quando seus pais descobriram ele ainda dormindo com sua cama em chamas. A criança não sofreu nenhum ferimento. Palavras deste feito chegaram a rainha Tanaquil que passou a protege-lo. Com a morte do rei Tarquínio, o velho foi indicado para assumir o trono. Entretanto, Tarquínio tinha três filhos: Tarquin, Lucius e Arruns. Para conseguir seu apoio e não sofrer o destino do rei anterior, Sérvio arranjou um casamento entre suas filhas e os filhos de Tarquínio. Sua posição foi também assegurada quando uma cidade etrusca resolveu declarar guerra a Roma. Sua vitória foi tão esmagadora que em 44 anos no poder nunca mais teve que voltar a campo para enfrentar nenhum outro inimigo.
Os romanos acreditavam que Sérvio foi o primeiro a usar moedas na cidade. Como os gregos, os primeiros romanos não usavam dinheiro, mas sim trocas ou sal por objetos que fossem necessários.
Sérvio aumentou as defesas da cidade e expandiu a própria cidade. Em razão disto, Sérvio Túlio foi o primeiro a realizar um censo, a contagem da população. Seu reinado também é associado a construção do Templo de Jupiter Capitolino, embora se acredite que Tarquínio o tenha iniciado.
Sérvio Túlio teve um final violento. Sua própria filha Tullia, conspirou com seu marido Lúcio Tarquinio ( o soberbo), para assassina-lo.
Tarquinio, o soberbo
(também chamado, “Tarquinio, o orgulhoso”)

O sétimo e último rei de Roma, conseguiu chegar ao poder através de uma violenta conspiração. Tarquínio, o soberbo, era um tirano que usava os mesmos métodos de muitos outros que subiram ao poder nos reinos helenísticos, resguardando sua posição através de violência e opressão.
Ele nomeu a si mesmo supremo juiz de Roma, garantindo autoridade sobre todos os assuntos de Estado, com decisão soberana sem direito a apelação. Esses privilégios geraram disputas. Embora como estrategista militar e diplomata tivesse extremo talento. Ele forçou a liga latina a aceitar Roma como comandante (no chamado Tratado de Ferentia) e anexou exércitos vizinhos a máquina de guerra romana, dobrando a força de Roma. O resultado das conquistas foi usado na ampliação e melhorias da cidade de Roma. Mas como toda essa construção era produto da opressão de Tarquínio, muito dos trabalhadores das obras eram forçados e de origem plebéia.
Uma das principais lendas envolvendo Tarquinio, o soberbo é a dos livros de Sibylinos. A historia trata do famoso Sybil, um mítico profeta do mundo Grego, que apareceu diante do rei e ofereceu 9 livros com a sabedoria dos deuses. O preço era muito alto e Tarquínio, não aceita pagar. Frustrado, Sybil, joga três livros no fogo que rapidamente os consome e faz a mesma oferta no valor. Mas Tarquinio recusa e mais três livros são lançados ao fogo. E mais uma vez Sybil pede o mesmo valor. Novamente Tarquinio não aceita, e ao final só sobram 3 livros. Tarquínio percebe que os livros são de grande importância e resolve salvar o conhecimento restante. Os livros passam a ser consultados sempre que há uma decisão que necessita do auxilio dos deuses e segunda a crença, são destruídos durante o incêndio que consome o Templo de Jupiter Capitolino em 83 a.C.
Com tanta repressão em seu reinado, Tarquínio, o soberbo perde o apoio do povo e uma revolução se inicia. O golpe final em seu reinado vem quando seu filho Sextus, estupra uma nobre de nome Lucrecia a luz do dia. Os nobres comandados por Lucio Iunius Brutus declaram-se contra Tarquinio e fundam a República (510/509 a.C.). Tarquínio é forçado ao exílio. Há tentativas de retomar o poder mas todas falhas e com Tarquínio, o soberbo termina a fase monárquica em Roma.
A República

Com a queda do último rei de Roma, os romanos passaram a conquistar os sul da Itália. Eles usaram uma boa ideia para faze-lo. Como Alexandre o grande, os romanos espalharam a noticia de quem qualquer cidade que quisesse ajuda em uma guerra poderia contar com a sua ajuda. Assim quando a cidade era atacada recorria aos exércitos romanos. E os romanos enviavam soldados para os seus vizinhos. Mas quando a guerra terminava, os romanos anunciavam que as tropas não mais deixariam a cidade para mantê-la sempre a salvo. Mas como havia soldados romanos vivendo no meio da cidade, eles deveriam fazer o que o Senado Romano mandasse ! Em resumo, os romanos copiaram a ideia persa e de Alexandre de conquistar as cidades sem batalhas desnecessárias, ampliando sua influência. Assim os romanos conquistaram toda a parte sul da Italia. Próximo do fim desta campanha, algumas cidades gregas resistiram e pediram ajuda ao rei Pyrus, do reinado de Epiro, que também era grego. Pyrus por si só, já se achava como Alexandre o grande e queria conquistar o mundo, então enviou a frente da batalha homens e elefantes vindos da India, mas o exército romano mais disciplinado e preparado o venceu.

Pyrus
Essencialmente aristocrática, a República (509 a.C.-27 a.C.) tem o Senado como órgão supremo de governo. Os senadores, vitalícios, supervisionam as finanças públicas, dirigem a política externa e administram as províncias. As funções executivas são distribuídas entre os membros da Magistratura, como os cônsules e os tribunos da plebe. Os tribunos surgem ao longo do período da República em conseqüência da luta dos plebeus por direitos políticos. Entre suas conquistas destaca-se a Lei das Doze Tábuas (451 a.C.- 449 a.C.). Até então transmitidas por via oral e totalmente manipuladas pelos patrícios, as leis passam a ser escritas e públicas.
Primeira Guerra Púnica


A Primeira Guerra surgiu com a quebra de um acordo entre Roma e Cartago, que até então tinham uma convivência pacifica, em não ocupar a Sicilia, em que romanos se instalaram na Messana. Os púnicos retaliaram os romanos com uma série de ataques ao sul da Itália. Estava declarada a guerra.
Roma era boa com sua infantaria terrestre e, até o inicio da guerra, não possuíam frotas navais, algo que os cartagineses dominavam por maestria. Porém, com a captura de um dos navios dos poeni – como os cartagineses eram conhecidos pelos romanos – Roma obteve o conhecimento da infantaria naval e, como muita rapidez construiu e adaptaram navios as suas necessidades e para seu modo de luta construindo as pontes de abordagem, que transformava a batalha naval em combate corporal, no que Roma era infinitamente superior.
A vitória estava próxima, se não fosse o apoio de um mercenário espartano Xantipo aos cartagineses que ensinou os soldados púnicos a utilizarem elefantes como montaria, o que surpreendeu o exercito romano. Isso retardou o triunfo romano, porém Cartago teve sérios danos como perda de territórios e até uma crise interna com mercenários derrotados que exigiam pagamento.
A conjuntura interna foi abafada por Amílcar, general que depois disso investiu em uma expedição na Espanha e, graças à extração de minérios, conseguiu novo fôlego aos poeni para a segunda e mais memorável das guerras da antiguidade.
Depois da desastrosa derrota das ilhas Egates, os Cartagineses concederam a Amílcar Barca plenos poderes para negociar a paz com Roma. Na verdade, Amílcar desejoso de se dissociar de qualquer admissão de derrota, agiu através de um dos seus oficiais, Gesgão. O consulado de Catulo estava prestes a terminar, e a ânsia de conquistar os louros pela conclusão de uma guerra tão importante antes que os seus sucessores lhe roubassem a gloria terá tomado o cônsul mais conciliatório. Uma exigência romana inicial de que o exército siciliano de Amílcar entregasse de imediato as armas e todos os desertores romanos e italianos para serem punidos foi prontamente rejeitada. Os mercenários abandonariam a ilha como um exército, na posse das suas armas e com a honra imaculada. Mas esta concessão parece ter sido a única que os Cartagineses conseguiram obter pois noutros aspectos os termos de paz deixaram bem claro que tinham sido derrotados e que Roma não estava a negociar de igual para igual.
A paz entre Roma e Cartago seria declarada desde que cumpridas as seguintes condições:
(a) Os Cartagineses deveriam abandonar por completo a Sicília;
(b) Nenhuma das partes faria a guerra aos aliados da outra nem procuraria subverter a sua aliança aliando-se diretamente com eles ou interferindo nos seus assuntos internos. Nenhuma das partes recrutaria soldados nem reuniria dinheiro para construir edifícios públicos no território da outra;
(c) Os Cartagineses libertariam gratuitamente todos os prisioneiros romanos e pagariam um resgate pelos seus;
(d) Os Cartagineses pagariam ao Estado romano uma indenização de 2200 talentos de Eubeia durante um período de vinte anos.
Os cônsules romanos careciam de autoridade para concluir a paz a título definitivo, devendo os tratados ser ratificados pelo povo romano por votação nos Comitia Centuriata, a mesma assembleia que gozava de poderes para declarar a guerra. Por conseguinte. Catulo solicitou a Roma a aprovação dos termos propostos. O povo romano, de forma algo característica, decidiu que as condições eram demasiado brandas e foi enviada uma comissão senatorial à Sicília para modificar o tratado. A indenização foi aumentada para 3200 talentos, 1000 pagáveis de imediato e os restantes em dez anos, talvez um reflexo do desejo do Estado de pagar os empréstimos contraídos para a construção da última esquadra – por tradição, os Romanos esperavam que os inimigos vencidos contribuíssem para pagar os custos do seu esforço de guerra. A outra alteração foi a inclusão de uma cláusula exigindo que Cartago evacuasse a totalidade das pequenas ilhas existentes entre a Sicília e África. Resulta evidente que a expulsão integral dos Cartagineses da Sicília se tornara o principal objetivo de guerra dos Romanos, independentemente de seguirmos ou não Polibio e datarmos esta ambição da queda de Agrigento, em 261. A invasão da África, em 256, nunca se destinou a estabelecer uma presença romana permanente, mas sim a aplicar pressão adicional sobre os Cartagineses na esperança de os levar a submissão. Este objetivo primário foi atingido na integra. Atém do mais, o poderio naval púnico foi quebrado e deixou de dominar o Mediterrâneo Ocidental, mais por causa da perda de bases em ilhas do que pelas perdas em navios, que podiam ser colmatadas com o tempo. Mas Cartago não perdeu nenhum do seu poder na África nem na Hispânia, e manteve-se na posse da Sardenha. Ao contrário do que tinham feito após a conclusão de quase todas as suas guerras travadas em Itália, os Romanos não procuraram integrar Cartago na sua rede de aliados. Em parte, isto refletiu a realidade da situação. Depois de vinte e três anos de luta, ambos os lados estavam exaustos e desejosos de se entenderem. A continuação da guerra até uma das partes ser destruída como entidade politica independente não era exequível. Em dimensão, territórios e prosperidade econômica, Cartago estava num nível muito superior ao dos Estados italianos com os quais Roma lidara no passado. Atém disso, os Romanos parecem ter reconhecido as diferenças entre a Península Itálica e as terras separadas das suas pelo mar. A Sicília não foi absorvida do mesmo modo que as comunidades italianas nem povoada com colônias de cidadãos. De início, uma grande parte da ilha foi administrada por Hierão de Siracusa, mas a dada altura foi nomeado um governador – seria um pretor – para administrar a parte ocidental da ilha, criando a primeira província de Roma na acepção que entendemos do termo. Não sabemos exatamente quando isto aconteceu mas poderá ter sido depois, de cerca de 227 a.e.c., quando o número de pretores eleitos anualmente foi aumentado para quatro, muito provavelmente para providenciar governadores para a Sicília e para a Sardenha, onde parecem ter sido estabelecidas guarnições romanas permanentes. Ao contrário dos aliados italianos, as comunidades da província romana possuíam uma ligação diferente ao Estado romano, tendo como principal obrigação o pagamento de impostos e não o fornecimento de soldados para combater no exército romano. Os cereais da Sicília tornaram-se rapidamente uma importante fonte de alimentos para a própria cidade de Roma e muitos cidadãos romanos, em especial membros da Ordem Equestre, terão feito fortuna com o negócio dos cereais. Olhando para trás, é difícil descortinar qualquer ocasião em que os Cartagineses tenham estado perto da vitória. As perdas romanas mais sérias deveram-se ao mau tempo e não a ação inimiga. Na primeira fase, se tivessem conseguido impedir a expedição romana de atravessar o Estreito de Messina ou derrotar o exército de Cláudio após o seu desembarque, talvez tivessem dissuadido os Romanos de novas aventuras ultramarinas, pelo menos no curto prazo, o que, para todos os efeitos, teria impedido a crise de se transformar numa guerra. Mas era muito difícil esquadras de gales conseguirem bloquear uma extensão de água, e as forças púnicas que se encontravam na Sicília em 264 eram totalmente inadequadas para alcançar tão rapidamente uma vitória sobre um exército consular romano.
Além da decisão de prosseguir a guerra e enviar um grande exército para a Sicília depois da derrota de Siracusa petos Romanos, o esforço de guerra cartaginês foi essencialmente passivo, uma série de reações às iniciativas romanas, integralmente destinadas a proteger a sua posição na Sicília. Mesmo quando procuraram flagelar o inimigo com incursões sobre a costa italiana, o seu objetivo primordial foi induzir a retirada de forças romanas da Sicília. Na ilha propriamente dita, a sua estratégia seguiu o padrão tradicional cartaginês de aguentar a investida inimiga e tentar manter o controle do maior número possível de praças-fortes, esperando que o inimigo enfraquecesse para poder recuperar o terreno cedido. Quando os Romanos chegaram à Sicília, há séculos que Cartago se vinha envolvendo em conflitos esporádicos na região; nunca conseguira garantir o controle total da ilha, nem nunca fora completamente expulsa.
Os Romanos não eram como Pirro, que desistiu da sua ofensiva quando não conseguiu garantir o apoio generalizado das comunidades gregas da Sicília, e o seu poderio também não era tão precário como o dos sucessivos tiranos de Siracusa. A persistência romana foi, no mínimo, idêntica à cartaginesa, e combinou-se com um modo extremamente agressivo de fazer a guerra, aplicando continuamente pressão sobre o inimigo para forçar uma decisão. Durante todo o conflito, os Romanos estiveram consistentemente ao ataque, expandindo de forma metódica o território que controlavam na Sicília e continuando a faze-lô mesmo quando o moral dos seus exércitos caiu a pique devido a derrota de Régulo. Mais importante ainda, estiveram dispostos a escalar o conflito na tentativa de derrotar o inimigo, invadindo a África e, acima de tudo, decidindo construir uma armada e prosseguir a guerra no mar apesar das suas perdas colossais. Os enormes recursos humanos de Roma tornaram-lhe possível absorver perdas colossais, mas isto não chega para explicar a determinação com que a população continuou disposta a servir na guerra. A substituição anual dos comandantes supremos poderá significar que eram geralmente menos experientes do que os seus opositores, mas é difícil encontrar exemplos concretos da afirmação de Zonaras de ter sido esta a causa de numerosas derrotas romanas. Das principais batalhas terrestres e navais, todas menos duas foram vitórias romanas, e é provável que a maioria das suas derrotas tenha sido em combates de pequena envergadura. Amílcar Barca, considerado por Polibio o comandante mais capaz da guerra, demonstrou o seu talento em incursões e escaramuças relativamente menores. Em certo sentido, a chegada anual de novos comandantes romanos poderá ter-se revelado um ativo, ao garantir que o exército e a marinha eram liderados de forma extremamente agressiva, com os comandantes a procurarem distinguir-se na sua curta vigência no cargo. A estratégia romana manteve-se continuamente agressiva, ainda que por vezes inconsistente. Se isto deu origem a atos de grande audácia ou até de temeridade, como os malogrados ataques de surpresa a Lipara, em 260, e a Drépane, em 249, também gerou alguns êxitos notáveis, tais como a vitória de Régulo em Adis. Na globalidade, o desempenho dos generais romanos foi bastante bom. Com o evoluir da guerra, aumentou o número de homens que ocupavam o cargo pela segunda vez, o que poderá ter garantido comandantes mais experientes, se bem que, no caso de Cipião Asina, cônsul em 260 e 254, a experiência foi de derrota e cativeiro. Dos quarenta e sete cônsules eleitos durante os vinte e três anos de guerra – o número impar resulta da morte de Quinto Cecidio, pouco depois de assumir o cargo, em 256, e da sua substituição por Régulo -, onze já tinham exercido o cargo e de entre estes apenas dois não o tinham ocupado durante o conflito. Outros dois ascenderiam a um segundo consulado, depois de 241. A proporção de múltiplos consulados foi muito semelhante nas décadas anteriores à guerra e poderá ter sido mais um reflexo da política da época e do domínio de algumas famílias aristocráticas do que o desejo, por parte do eleitorado, de escolher comandantes experientes durante uma guerra difícil. Uma alteração no equilíbrio politico explicará talvez o ligeiro declínio no número de múltiplos consulados nos anos que mediaram entre a Primeira e a Segunda Guerras Púnicas.
Depois do desastre de Drépane, em 249, o Senado selecionou efetivamente um comandante com base na sua experiência e influência politica, ao tomar a raríssima medida de nomear um ditador militar para tomar o seu cargo as operações na Sicília. A escolha recaiu em Aulo Atilio Caiatino, fora pretor em 257 e que na qualidade de cônsul, em 258 e 254, comandara em duas campanhas na Sicília. Contudo, o Senado fez pouco uso da sua prerrogativa de prolongar o imperium dos magistrados (o prolongamento do comando dos que eram comprovadamente capazes), algo que se tornaria comum na Segunda Guerra Púnica.
Isto deveu-se, em parte, ao fato de o teatro de operações da Primeira Guerra Púnica ser mais restrito, mas também refletiu a reduzida percentagem de baixas entre os oficiais superiores romanos em comparação com a Guerra Anibalica. Nas campanhas da Primeira Guerra Púnica, os cônsules operaram juntos com mais frequência do que no passado. As discordâncias entre homens de igual estatuto partilhando o comando de um exército figurariam proeminentemente nas explicações dos desastres romanos da Segunda Guerra Púnica, mas não se encontram vestígios deste tipo de situação no conflito anterior, talvez porque houve menos derrotas para justificar. O diferendo entre Catulo e Faltão ocorreu depois da vitória e não terá dado origem a nenhuma dificuldade durante a conduta da campanha. As duas grandes derrotas da guerra ocorreram com um único cônsul no comando e Agrigento, a única batalha terrestre em que o comando foi partilhado, saldou-se por uma clara vitória romana. Todavia, as batalhas campais foram raras durante o conflito e eram as sutis manobras que as antecediam que proporcionavam mais oportunidades para um comando dividido gerar confusão. Os comandantes cartagineses seriam mais “profissionais” do que os seus homólogos romanos e não ha dúvida de que permaneciam no seu posto durante mais tempo, mas poucos teriam muita experiência de comando de forças tão grandes como as utilizadas com frequência durante a guerra. Este fato aplica-se particularmente aos almirantes nomeados para controlar as operações das esquadras de dimensões inéditas formadas em varias ocasiões. A sua inexperiência de comando a esse nível agudizou as acentuadas dificuldades de coordenação dos movimentos de centenas de navios de guerra a remos, e terá sido outro fator a negar a marinha cartaginesa as vantagens que deveria ter derivado da perícia superior das suas tripulações. Vários generais púnicos foram crucificados em consequência de fracassos militares durante a guerra, geralmente, ao que parece, por ordem dos seus subordinados imediatos. Mas houve lideres vencidos que escaparam ao castigo e foram nomeados para outros comandos, o que sugere que o seu destino foi determinado não só pela sua responsabilidade, mas também pela sua influência politica. Os Romanos foram consideravelmente mais brandos para os seus magistrados que presidiram a desastres militares, concedendo triunfos a uma sucessão de almirantes que tinham perdido a maior parte das suas esquadras devido ao mau tempo. Apenas Cláudio foi julgado sob a acusação de perduellio no sentido de “causar o descrédito do Estado” pelo seu comportamento em Drépane, mas escapou por um triz à condenação, sendo antes considerado culpado de uma acusação menor e multado. No entanto, o subsequente julgamento da irmã sugere que a família foi tida como politicamente vulnerável nos anos seguintes.
Segunda Guerra Púnica
República Romana (509 – 49 a.e.c.)
Desde a sua eclosão, a Segunda Guerra Púnica foi uma contenda muito mais séria do que a Primeira, que rebentou na Sicília e foi essencialmente uma luta pelo controle da ilha. A invasão de Régulo colocou os Cartagineses à beira da capitulação mas resultou numa derrota e não foi repetida pelos Romanos. O conflito converteu-se numa prova de resistência que acabou por ser decidida com a derrota da última esquadra púnica nas ilhas Egates. O tratado de paz deixou Cartago forte na África e capaz de se expandir na Hispânia, mas afigurou-se mais duro depois de Roma se ter apoderado da Sardenha. A Segunda Guerra Púnica foi um conflito muito mais simples, pela supremacia, na qual os territórios foram sempre de importância secundária. A tentativa cartaginesa de reconquista da Sardenha foi débil e as movimentações contra a Sicília só tiveram inicio alguns anos depois da eclosão da guerra. Em ambos os casos, a iniciativa partiu de lideres das ilhas e não de Cartago. A conquista de territórios ao inimigo e a persuasão dos seus aliados para que desertassem foram meios de exercer pressão e não fins a atingir. Os tratados que garantiram a Estados como Cápua ou Tarento a independência de Cartago deixaram claro que não havia a intenção de estabelecer uma província púnica no Sul do Lácio. A guerra foi travada para forçar o adversário a submeter-se e a aceitar um tratado muito favorável para o vencedor. Em 218, ambas as partes planejaram atacar o coração do território inimigo, os Romanos a África e na Hispânia, Hannibal na Itália. Apesar dos reveses, das distrações e das discórdias no seio das lideranças rivais, este objetivo manteve-se até ao fim, com Asdrúbal e Magão renovando a invasão da Itália e Cipião terminando a guerra na África. À medida que ambos os lados procuraram lançar ataques adicionais e incrementar a pressão sobre o inimigo o conflito alastrou a outros teatros. Mas estes estiveram sempre subordinados ao esforço principal. A maior intensidade da Segunda Guerra Púnica é ilustrada pelo equilíbrio verificado entre os três tipos de combate principais, as batalhas, os cercos e as incursões. As batalhas campais foram muito mais comuns mas os recontros navais foram poucos e em escala reduzida, nada que se compare as grandes batalhas navais da Primeira Guerra Púnica. Entre 218 e 202, registraram-se cerca de doze batalhas campais, três vezes o número das travadas entre 265 e 241, e talvez outros doze embates de alguma dimensão. As breves narrativas de muitos confrontos tornam difícil discernir a sua escala. A sua natureza é, por vezes, o seu desfecho, o que faz com que os números supra-referidos sejam aproximados. Um pouco mais da metade das batalhas foi travada na Itália, as restantes na África e na Hispânia. Tal como na Primeira Guerra Púnica, o terreno da Sicília não favoreceu a ocorrência de batalhas campais formais e o mesmo aconteceu em grande parte da Hispânia, da Ilíria e da Grécia. E além de as batalhas campais se concentrarem em certas regiões, tenderam a ocorrer em períodos de campanha breves e de extrema intensidade. Hannibal travou três grandes batalhas e vários combates importantes entre 218 e 216, e muito menos nos anos posteriores.
Cipião Africano travou uma batalha na Hispânia, em 208, tentou infrutiferamente travar outra em 207, e completou a sua vitória com uma última batalha, em 206. Repetiu este padrão na África, travando grandes batalhas em 203 e 202. As batalhas tinham mais tendência a ocorrer quando o general agia de forma excepcionalmente agressiva, de um modo geral internando-se profundamente em território inimigo, como foram os casos, por exemplo, das primeiras invasões da Itália e da África, ou das grandes incursões de Cipião na província púnica da Hispânia. A resposta romana a este tipo de ameaça foi a batalha campal, e foram necessárias sucessivas derrotas até que comandantes como Fábio Máximo instilassem alguma cautela nas operações romanas na Itália. A ocorrência de uma batalha campal exigia um grau tão elevado de consentimento mútuo que até generais tão competentes como Hannibal e Cipião se viram frequentemente incapazes de obrigarem o inimigo a combater. Esta realidade toma a decisão de Cipião de atacar uma posição tão formidável como a de Asdrúbal em Bécula tão notável como o seu sucesso. Os Romanos perderam vários confrontos de menor dimensão mas só foram derrotados numa batalha campal por Hannibal, na Itália. As derrotas de Públio e Gneu Cipião, em 212, resultaram de uma série de embates confusos, gerados por uma situação estratégica marcadamente desfavorável. À exceção destes casos, os exércitos romanos demonstraram, em batalhas campais, uma superioridade inegável sobre todos os outros exércitos e generais púnicos.
O exército de Hannibal na Itália foi, sem qualquer sombra de dúvida, o melhor jamais alinhado por Cartago, beneficiando da liderança carismática de Hannibal e dos longos anos de campanha na Hispânia. Outra das suas vantagens foi um rácio cavalaria/infantaria excepcionalmente elevado, que chegou a ser de 1:3 a 1:4, mais do dobro da media de ambas as partes. Os continuados êxitos de Hannibal sobre os Romanos conferiram ao seu exército uma vantagem em termos de moral que, até ao fim da campanha italiana, nunca perdeu. Outros exércitos púnicos apresentaram uma mistura similar de nacionalidades e tipos de tropas, mas o seu desempenho no campo de batalha foi medíocre. Os outros generais eram muito inferiores a Hannibal como lideres e táticos, e não tiveram a oportunidade para converter os dispares contingentes que comandavam numa unidade coesa através da combinação de uma instrução longa e da participação em operações bem sucedidas sob oficiais que lhes eram familiares. As fontes apresentam com frequência um elemento como a única parte verdadeiramente fiável e eficaz do exército, como por exemplo, os Líbios em Ilipa ou os Celtiberos nas Grandes Planícies. E nem Hannibal conseguiu, no pouco tempo disponível, fundir os três exércitos da África para a campanha de Cannae. O sistema de milícia romano produzia exércitos muito mais homogéneos em termos de língua, cadeia de comando, instrução e organização. Isto facilitava a integração de legiões de diferentes forças num mesmo exército. O prolongado tempo de serviço aumentava inexoravelmente a eficácia dos exércitos romanos, um processo que era muito mais rápido do que numa força púnica de várias nacionalidades. As legiões da Segunda Guerra Púnica serviram durante muito mais tempo do que quaisquer outras tropas romanas até então, pelo que na fase final da guerra muitos soldados estavam tão bem instruídos e confiantes como quaisquer tropas profissionais. A flexibilidade tática demonstrada pelos Romanos no Metauro, em Ilipa e em Zama foi uma prova tangível desta realidade. Soldados e oficiais tinham-se tornado capazes de feitos que seriam inimagináveis em 218. Estes exércitos eram muitíssimo superiores a maioria das forças púnicas e mesmo em grande inferioridade numérica conseguia derrotar o inimigo, como Cipião demonstrou. Com a evolução do conflito, o desdém que os Romanos mostravam por todos os exércitos e generais cartagineses – à exceção de Hannibal – foi-se fundamentando cada vez mais na realidade. Apesar do considerável número de batalhas e confrontos importantes tratados na Segunda Guerra Púnica, não deixaram de ser acontecimentos raros na experiência da maioria dos soldados, que participaram com muito mais frequência em incursões ou cercos. As incursões não se destinavam primariamente a providenciar comida para os exércitos, embora pudessem ser combinadas com esta atividade. O seu objetivo principal era provocar o máximo de danos possível às zonas rurais do inimigo, matando ou capturando as populações, destruindo quintas e aldeias, incendiando as colheitas e roubando o gado. Todas estas atividades exigiam tempo e esforço, e algumas, como por exemplo, a destruição das colheitas, só podiam ser concretizadas durante as semanas que antecediam a apanha. Os danos tendiam a limitar-se a uma área e tinham pouco efeito a longo prazo mas eram inegavelmente horríveis para as vítimas. Mas quando as incursões prosseguiam durante um longo período, as consequências para a região podiam ser muito graves. As perdas em mão-de-obra rural, devido a captura, a morte ou a conscrição, e os danos prolongados aos campos, as colheitas e ao gado, reduziam a produtividade e davam origem a uma escassez de alimentos que por sua vez enfraquecia a população e encorajava o aparecimento de doenças, provocando um declínio adicional na produção. Algumas áreas, especialmente o Brútio e outras partes do Sul de Itália, onde Hannibal e o seu exército estiveram confinados durante anos, foram palco das repetidas incursões dos beligerantes e terão sofrido grandemente. Uma das grandes controvérsias da Segunda Guerra Púnica, que discutiremos num capitulo posterior, é o seu impacto sobre a população e a economia rural da Itália.
A consequência mais imediata das incursões eram os danos causados ao prestigio do inimigo por não conseguir defender o seu territorio. A visão das quintas a arder deixadas pela marcha de Hannibal, em 217, incitou Flaminio a persegui-lo incautamente, desejoso de vingar aquela humilhante demonstração da debilidade de Roma. Mais tarde, ainda no mesmo ano, Fábio Maximo tornou-se muito impopular por se negar a impedir tais depredações. Um Estado que se revelava incapaz de proteger os seus aliados contra as depredações do inimigo perdia prestigio e poderia também perder os seus aliados. Isto aplicou-se particularmente à áreas como a Sicília ou a Hispânia, onde as comunidades revelaram um empenho compreensivelmente diminuto para com ambos os lados. O fracasso de Hannibal em proteger das incursões romanas muitos dos seus aliados italianos foi um fator de peso no seu lento mas inexorável regresso à aliança com Roma. As cidades com muros estavam a salvo das incursões, e só as menores poderiam eventualmente sucumbir a um assalto. As cidades constituíam os centros políticos da maioria dos povos envolvidos no conflito, controlando amplas áreas circundantes. As incursões podiam intimidar a população de uma região, mas só a ocupação das suas praças-fortes mais importantes garantia o seu controle em termos permanentes. A vitória romana na Sicília decorreu da conquista dos dois principais bastiões inimigos, Siracusa e Agrigento. Durante toda a guerra, nenhuma das partes conseguiu conquistar a capital inimiga, demasiado grande e defendida, ainda que, em várias ocasiões, tanto Roma como Cartago se tenham sentido diretamente ameaçadas. A conquista de posições fortificadas foi sempre extremamente difícil, o que constituiu um dos motivos para a predominância dos cercos na propaganda dos “Grandes Reis”, dos faraós em diante. Só quando o exército profissional romano combinou as capacidades de engenharia com a predisposição para aceitar as baixas inevitáveis nos assaltos é que a balança começou a pender para os sitiantes. Os ataques diretos contra uma grande cidade apenas tinham sucesso quando combinavam a surpresa com a traição ou com o conhecimento de pontos fracos nas defesas. Os bloqueios demoravam muito mais tempo e exigiam a permanência de forças consideráveis no mesmo lugar durante meses ou anos, agudizando o problema do aprovisionamento. Foi a superioridade numérica dos Romanos e a sua capacidade para alimentar os seus exércitos que lhes permitiu montar os longos e vitoriosos assédios À Cápua e Siracusa. A devastação dos campos, a conquista das cidades e as batalhas campais eram os três meios de sapar a determinação do inimigo para prosseguir a luta. O equilíbrio entre estes três meios variou de teatro para teatro mas o maior impacto adveio sempre de uma grande derrota em combate. A guerra terminou com a vitória romana de Zama, tal como a Primeira Guerra Púnica terminara com as Ilhas Egates. Outras batalhas revelaram-se vitorias táticas mais completas mas não tiveram um efeito tão decisivo. Isto aplica-se particularmente à série de vitórias esmagadoras que Hannibal alcançou na Itália e que forçaram os Romanos a admitir que não podiam enfrenta-lo em campo aberto. Hannibal assolou as terras por onde passou e, no Sul, promoveu a defecção de muitos aliados de Roma. Mas apesar de tudo isto, os Romanos recusaram ceder. Quando reconquistou Cápua e Tarento, os mais importantes Estados desertores, Roma já se tinha reapoderado da maior parte das áreas que tinham desertado e o poder de Hannibal na Itália estava em declínio. Nenhuma cidade latina aderiu à sua causa. As tentativas para o reforçar com novos exércitos fracassaram e tornou-se óbvio que não poderia vencer. Entretanto, os Romanos haviam reconquistado a Sicília, tinham expulsado os Cartagineses da Hispânia e estavam instalados na África. É difícil ver o que mais poderia Hannibal ter feito para alcançar a vitória. Nunca saberemos a que ponto estiveram os Romanos de admitir a derrota. Talvez uma marcha sobre Roma após Canaae tivesse levado os Romanos a perder o sangue-frio, mas não podemos estar certos de que assim seria e essa opção teria constituído um risco enorme. Um dos problemas principais dos Cartagineses foi terem ao seu dispor um general soberbo à frente de um exército excelente num dado teatro, enquanto que em outros dispuseram de generais medíocres com exércitos medianos ou generais medianos com exércitos medíocres. Desde o principio, os Romanos conseguiram produzir, em quantidade considerável, exércitos e generais de qualidade mediana, com vantagem sobre todos os adversários à exceção de Hannibal. Com a evolução do conflito, os lideres e os soldados romanos adquiriram experiência e a sua superioridade sobre os outros exércitos púnicos tornou-se ainda mais vincada. Se os Romanos não tivessem encontrado tropas para travarem e vencerem as campanhas nas frentes fora da Itália, o desfecho da guerra teria seguramente sido muito diferente. O Senado romano teve o mérito imenso de continuar a empenhar homens e recursos em teatros de operações distantes quando o desastre parecia ameaçar a Itália. Sob ameaça direta, Roma e Cartago comportaram-se de forma fundamentalmente diferente. Quando um exército romano apareceu às portas da cidade, em 255, 203 e 202, a liderança cartaginesa respondeu procurando a paz. Lívio acredita que o fizeram com falsidade em 203, e neste ano e em 255 retomaram as hostilidades quando não conseguiram garantir os termos que consideravam apropriados ao seu poderio, que ainda era considerável. Em 216, 212 ou em outra fase negativa da guerra, nunca o Senado ou qualquer general romano contemplou seriamente admitir a derrota e negociar com o inimigo. Apesar das perdas calamitosas, da sucessão de derrotas humilhantes, da defecção de alguns aliados e da continuação da nefasta presença do exército de Hannibal na Itália, os Romanos recusaram pura e simplesmente entender-se com os Cartagineses, tal como se tinham negado a negociar com Pirro. Depois, levaram o inimigo de vencido em todas as outras frentes e obrigaram Hannibal, apesar de invicto, a abandonar o Lácio e a regressar a Cartago para a proteger. Os Cartagineses contavam que as guerras terminassem com uma paz negociada. Os Romanos contavam que as guerras terminassem com a sua vitória total ou com a sua própria aniquilação, algo que nenhum Estado contemporâneo dispunha de recursos para conseguir. Foi esta atitude que impediu os Romanos de perderem a guerra e que lhes deu a vitória.
O fator mais importante que permitiu a Roma adotar esta atitude tão rígida foi provavelmente a sua enorme reserva de potenciais soldados. As suas perdas foram colossais, muito superiores as da Primeira Guerra Púnica, com particular incidência sobre as classes mais abastadas, os senadores, os membros da Ordem Equestre e os lavradores que serviam na infantaria pesada das legiões. Nos primeiros anos de guerra, Roma terá talvez perdido 25% dos homens qualificados para o serviço militar devido a mortes e defecções, mas mesmo assim o número de legiões foi aumentado. Tornaram-se algumas medidas de exceção para suprir a lacuna de recrutas, alistando homens mais novos e mais velhos do que o habitual, reduzindo as posses mínimas exigidas para o cumprimento do serviço militar e formando legiões com condenados e escravos. No seu conjunto, esta expansão foi possibilitada pela anuência dos cidadãos comuns em submeterem-se a anos de severa disciplina militar e de campanhas extremamente perigosas. É vital não nos esquecermos de que, em Roma e na maioria dos aliados, todas as classes mantinham fortes laços de lealdade entre si e para com o Estado. Verificaram-se algumas exceções, nomeadamente a recusa das doze colônias latinas de fornecerem mais homens, em 209, mas foram extremamente raras. E note-se que estas colônias apenas declararam ter esgotado os seus recursos. Não recomendaram nenhum entendimento com o inimigo nem tomaram nenhuma medida tendente a desertarem. Do mesmo modo, alguns homens tentaram evitar o serviço militar, outros procuraram lucrar custa das tropas que deveriam abastecer e alguns, muito poucos, desertaram e combateram ao lado do inimigo; mas a esmagadora maioria não fez nada disto e foi movida, por orgulhoso patriotismo, a sacrificar-se pelo Estado.
Os Cartagineses sofreram muito menos baixas, quer em número, quer em percentagem do total dos cidadãos. Os cidadãos púnicos apenas entraram em campanha em número significativo na África, e as suas perdas nas Grandes Planícies e em Zama não foram elevadas. Parece nunca ter faltado dinheiro para contratar mercenários, mas o que frequentemente escasseou foi o tempo para os recrutar e converter num exército eficaz. A verdade é que Cartago não estava tão organizada para a atividade bélica como Roma, onde a guerra era parte integral do sistema politico. O Senado romano decidia anualmente a atribuição de comandos e recursos militares, e durante a Guerra Anibálica assistiu-se a uma simples continuação deste procedimento normal. Não se pode afirmar peremptoriamente que os Romanos faziam a guerra com mais ou menos frequência do que outros povos contemporâneos, mas do que não restam dúvidas é de que a faziam com maior eficácia e entrega. Polibio acerta em cheio no alvo ao destacar a organização politica, a estrutura social e as instituições militares de Roma como chaves da sua vitória sobre Cartago. Durante a Guerra Anibálica, todas elas tiveram que ser modificadas para lidar com a crise. Tornaram-se comuns as múltiplas magistraturas e promagistraturas, as lacunas nas fileiras do Senado foram preenchidas em massa, recrutaram-se escravos para o exército e a instrução ministrada às legiões foi de molde a permitir-lhes atingirem níveis inéditos de eficácia. Cada uma destas instituições revelou-se suficientemente flexível para se adaptar sem ter que alterar a sua natureza essencial. No meio século seguinte, dariam a Roma o domínio do mundo mediterrânico.
Depois da batalha, Hannibal e o seu estado-maior fugiram para a sua base principal, em Adrumeto. Os Romanos reuniram os prisioneiros e pilharam o acampamento púnico. Cipião recebeu a noticia animadora de que se aproximava de Castra Cornelia um comboio com mantimentos, e Lélio foi de novo enviado a Roma para dar conta da vitória. A derrota do seu último exército deixou Cartago com a única alternativa de procurar novamente a paz. Cipião conduziu a esquadra numa demonstração de força junto da própria cidade de Cartago, uma pressão adicional para que se submetesse. Em termos militares, os Romanos pouco poderiam ameaçar uma urbe tão bem fortificada. Mesmo recorrendo a todo o seu exército, o cerco de Cartago teria sido uma empresa enormíssima e de desfecho incerto. Cipião rejeitou prontamente a ideia, apesar de, segundo Lívio, ter sido advogada por vários dos seus oficiais. Não obstante ter-se negado a receber uma primeira embaixada de paz púnica, o general romano estava desejoso de chegar a um entendimento. Em particular, estaria de novo preocupado com a manutenção do seu comando e com a obtenção da glória que a vitória lhe merecera. De fato, mesmo com a guerra prestes a acabar, um dos cônsules de 201 tentou substituir Cipião no comando na África mas depois da intervenção de alguns dos tribunos da plebe e de novos debates senatoriais acabou por substituir Nero no comando naval. Os termos do tratado ditado por Cipião foram duros. Entrega, sem resgate, de todos os prisioneiros e desertores romanos. Confiscação de todos os elefantes de guerra. Redução da armada a dez trirremes. Cartago manteve a maior parte do seu território na África mas perdeu todas as suas possessões ultramarinas, e até na África foi obrigada a reconhecer Masinissa como soberano de um reino substancialmente aumentado. Cartago foi obrigada a pagar uma indenização de 10.000 talentos de prata, em prestações anuais, durante mais de cinquenta anos, uma recordação constante da sua derrota. Outra indicação do seu novo estatuto foi a estipulação de que Cartago não poderia entrar em guerra fora da África, e na África só com autorização de Roma. Cartago continuaria a ser governada pelas suas próprias leis mas ficava claramente subordinada a Roma em todos os assuntos externos. Por fim, os Cartagineses deveriam fornecer alimentos e provisões ao exército de Cipião durante três meses, e custear o seu soldo até a ratificação do tratado. E em pagamento pelo que os Romanos consideravam ser a sua recente traição, deveriam também indenizar a perda de bens romanos quando da violação da trégua e do ataque ao comboio naval. Foram selecionados reféns entre as famílias nobres da cidade, como garantia para que não se repetisse o mesmo tipo de incidente durante as negociações. A mensagem do tratado foi clara e talvez reforçada se, como afirma Apiano, os Cartagineses passariam a ser designados como “Amigos e Aliados” do povo romano, a fórmula usada para os aliados subordinados de Roma na Itália. E tinham-se efetivamente tornado, de forma inequívoca, aliados subordinados de um Estado superior ao qual pagavam um tributo anual e a cuja autoridade se submetiam em questões importantes de politica externa. O império ultramarino e a marinha orgulhosa que o protegera foram abolidos. Não admira que alguns líderes púnicos pretendessem rejeitar tão dura paz. Quando um dos senadores embarcou num discurso nesta veia, Hannibal, sempre realista, arrastou-o do pódio dos oradores. Pediu desculpa pelo seu comportamento, dizendo que trinta e seis anos de ausência de Cartago o tinham levado a esquecer a etiqueta politica, mas instou com veemência os líderes a não rejeitarem uma paz que, tendo em conta a situação de Cartago, poderia ter sido muito pior. Por fim, o senado púnico aceitou esta via e enviou delegações a Roma para confirmar os termos. Foi somente no principio da Primavera de 201 que o Senado confirmou finalmente a sua decisão anterior de aceitar quaisquer termos de paz propostos por Cipião. Imediatamente após o regresso dos emissários, acompanhados por representantes do clero romano, os feciais, para supervisionar os importantes rituais envolvidos, as provisões do tratado começaram a ser implementadas. Um grande número de navios de guerra púnicos, 500 segundo algumas das fontes de Lívio, saiu do grande porto da cidade e foi depois incendiado.
Aos desertores que tinham combatido pelos Cartagineses, estava reservado um destino terrível: os romanos foram crucificados e os latinos decapitados. Cipião regressou a Roma, onde celebrou um triunfo espetacular.
As causas da Segunda Guerra Púnica


Existiram decerto momentos de tensão depois da Primeira Guerra Púnica, mas as relações entre Roma e Cartago não eram inteiramente hostis. Renovado o intercâmbio comercial, os mercadores púnicos eram uma visão tão familiar em Roma como os italianos parecem ter sido em Cartago. Com efeito, terá sido durante estes anos que foram criados laços de hospitalidade – ou ressuscitados os anteriores a 265 -, uma característica tão comum das relações internacionais no mundo antigo, ligando famílias aristocráticas púnicas e romanas. A paz concluída em 241 durou vinte e três anos, se descontarmos a ameaça romana de reabrir as hostilidades por causa da Sardenha, em 238, e terminou quando Hannibal Barca, comandante supremo cartaginês na Hispânia, atacou a cidade ibérica de Sagunto, que estava sob proteção romana. Nenhuma das partes se mostrou muito relutante em entrar em guerra, não obstante as memórias do conflito anterior que fora renhido e dispendioso. Os motivos que as levaram a guerra têm sido tema de intensos debates desde então, debates que procuram quase sempre atribuir a culpa a uma das partes. E com igual frequência, os historiadores têm caído na armadilha de analisar os eventos em função de padrões modernos, esquecendo-se de que até Estados antigos mais politicamente avançados entravam em guerra com frequência e entusiasmo, em especial quando contavam vencer e imaginavam os benefícios que a vitória lhes traria. Antes de abordarmos estas questões, convirá passarmos em revista à sucessão de acontecimentos que levaram à declaração de guerra por parte de Roma. Provavelmente em 226, Asdrúbal aceitou as exigências de emissários romanos no sentido de os Cartagineses não atravessem o rio Ebro. A ideia de colocar uma fronteira física ao poder de um Estado era um conceito familiar a ambas as culturas. Nesse caso, não se tratou de uma grande restrição, já que o coração da província púnica ainda estava muito longe do rio. Os argumentos de que o tratado definiu uma fronteira muito mais a sul não convencem, e são ainda menores os fundamentos para o comum pressuposto de que os Romanos se comprometeram a não intervir a sul do Ebro. De fato, nesta altura, o Estado romano carecia de qualquer ligação direta à Hispânia, exceto se considerarmos que a sua aliada, Massília, tinha comunidades dependentes em Empório e Rode. Em determinada altura, depois de 226, Roma associou-se à cidade de Sagunto (a moderna Sagunto, perto de Valência). Polibio diz-nos que isto aconteceu “alguns anos” antes da época de Hannibal. Mas seria plausível a sua menção no tratado do Ebro se a ligação já existisse, dado que a cidade se localizava muito a sul do rio. A discussão sobre se existia ou não um tratado formal garantindo o estatuto de aliada a Sagunto ou se a cidade simplesmente requereu a proteção de Roma, como Utica tentara fazer durante a Guerra dos Mercenários, não é relevante para o nosso propósito. A dada altura, o Senado romano foi solicitado a arbitrar a disputa interna da cidade, muito possivelmente entre facções rivais adeptas de Roma e Cartago, e os enviados ordenaram a execução de vários nobres saguntinos. Parecem óbvios para a cidade hispânica os atrativos de uma aliança com Roma. Sagunto, uma cidade-estado de importância local, assistiria com preocupação a expansão da província cartaginesa na sua direção. O apoio romano oferecia a maior segurança possível contra o seu poderoso vizinho. O motivo pelo qual os Romanos aceitaram a aliança é menos claro e está estreitamente associado à causa da guerra. Em 221, Hannibal, então com 26 anos de idade, sucedeu ao cunhado e continuou a agressiva politica expansionista na Hispânia, levando a cabo operações muito mais vastas do que os seus antecessores. Conduziu os seus exércitos contra as tribos da Hispânia Central, avançando bastante para norte, até região da moderna Salamanca. Cerca de 220-219, eclodiu uma disputa entre Sagunto e uma tribo vizinha, acusada de realizar incursões no seu território. Os pormenores são obscuros e até o nome do povo em causa é incerto, mas a tribo era aliada de Cartago e recebeu o apoio de Hannibal. No Inverno, uma embaixada romana apresentou-se a Hannibal, em Nova Cartago, e recordou-lhe a existência do tratado do Ebro, avisando-o também para não atacar Sagunto. A embaixada foi recebida com extrema frieza e deslocou-se a Cartago para repetir as suas exigências. O jovem general também pediu instruções a Cartago, e na Primavera conduziu o seu exercito contra a cidade. Sagunto situava-se numa posição forte, no cimo de uma colina, a quilômetro e meio do mar (No Outono de 1811,os defensores espanhóis de uma fortaleza improvisada entre as ruínas ibéricas, romanas e mouras da cidade repeliram vários ataques lançados por um dos mais capazes comandantes de Napoleão, Suchet.) Hannibal levou oito meses para se apoderar da cidade, mas desde o inicio foi claro que a sua intenção era toma-la de assalto e não submetê-la pela fome. As suas tácticas foram muito mais agressivas do que as adotadas pelos Cartagineses em qualquer um dos cercos da Primeira Guerra Púnica, pelo que as baixas também foram mais elevadas. Lívio diz mesmo que o próprio Hannibal foi ferido ao dirigir um ataque demasiado próximo da peleja. Os Romanos nada fizeram para auxiliar os Saguntinos depois de iniciado o assedio. Lívio afirma que enviaram outra embaixada a Hannibal, mas a sua cronologia é irremediavelmente confusa neste ponto e, dado que Polibio não menciona semelhante iniciativa, mais vale rejeitá-la. Sagunto caiu em finais de 219 ou nas primeiras semanas de 218, e a noticia poderá ter chegado a Roma num mês. No fim do Inverno, foi enviada a Cartago uma embaixada que incluía os dois cônsules de saída, Lúcio Emilio Paulo e Marco Lívio Salinator. Lívio diz que a delegação era chefiada por Quinto Fábio Máximo, ficando assim completo o trio que desempenharia papeis de relevo na guerra que se avizinhava, mas parece mais provável que o líder fosse Marco Fábio Buteão, o experiente ex-censor que combatera na Sicília quando era cônsul, em 245. A embaixada protestou contra os atos de Hannibal e exigiu saber se ele agia com a aprovação do senado cartaginês. Os Cartagineses viram-se confrontados com as alternativas de condenarem Hannibal e entregarem-no e aos seus oficiais superiores aos Romanos para serem punidos, ou de entrarem em guerra contra Roma. O estilo de diplomacia praticado pelas embaixadas romanas raramente parece ter sido muito sutil, mas neste caso os Romanos eram claramente obrigados a vingarem um ataque contra um aliado. Numa versão da história, que refere um poderoso partido oposto aos Barcas, um certo Hanão terá condenado as ações de Hannibal mas os Cartagineses, na sua maioria, responderam furiosamente as bruscas exigências romanas. Negaram-se a reconhecer o tratado do Ebro, dizendo que nunca o tinham ratificado, citaram o exemplo de Catulo, que em 241 submetera os termos de paz a apreciação de Roma, e contestaram a sua obrigatoriedade de terem que reconhecer qualquer relação entre Roma e Sagunto. Reza a história que Fábio se plantou no meio da câmara e anunciou que trazia nas dobras da toga a paz e a guerra, e que deixaria cair a que os Cartagineses escolhessem. Os ânimos dos senadores púnicos exaltaram-se e o sufeta presidente gritou-lhe que escolhesse ele. Quando Fábio respondeu que deixava cair a guerra, o salão encheu-se com um grande grito de “Aceitamos”. Assim foi declarada a guerra, mas talvez já fosse inevitável. Regressado aos aquartelamentos de Inverno depois da queda de Sagunto, Hannibal fez seguramente preparativos para a invasão da Itália, e também é bastante possível que os Comitia Centuriata já tivessem votado a favor da guerra caso os embaixadores não conseguissem uma resposta satisfatória de Cartago. Polibio discute com algum detalhe as causas subjacentes à retoma das hostilidades e conclui que foram três os fatores principais. O primeiro foi o ressentimento ou a raiva de Amílcar Barca no fim da Primeira Guerra Púnica, ao ser forçado a capitular apesar de invito na Sicília. O segundo fator – e o mais importante – foi a descarada conquista romana da Sardenha, em 238, quando Cartago ainda se encontrava abalada pela desordem da Revolta dos Mercenários. Esta humilhação, além de aumentar o ressentimento de Amílcar, propalou o ódio a Roma a toda a população púnica. Foi com o objetivo de construir uma base de poder para usar contra Roma que Amílcar se deslocou para a Hispânia, lançando-se de corpo e alma num programa de expansão. Os êxitos da sua família na Península Ibérica constituíram a terceira causa, pois o crescimento do poderio cartaginês encorajou os Púnicos a julgarem-se suficientemente fortes para derrotarem a sua antiga rival.
Polibio sustenta a sua visão da motivação de Amílcar com um episódio narrado por Hannibal na corte do rei selêucida Antioco III, na década de 190. Pouco antes de partir para assumir o comando na Hispânia, Amílcar Barca sacrificou no altar de uma divindade a que Polibio chama Zeus e Lívio designa por Júpiter, mas tratava-se provavelmente de BaaI Shamin. Recebendo sinais favoráveis, chamou junto de si o seu filho Hannibal, então com nove anos de idade, e perguntou-lhe se gostaria de o acompanhar na expedição. O garoto, que provavelmente vira poucas vezes o pai durante os seus primeiros anos de vida, respondeu entusiasticamente, implorando-lhe autorização para ir com ele. Amílcar colocou a mão do rapaz na vitima sacrificial e obrigou-o a jurar solenemente nunca ser amigo dos Romanos. Hannibal contou esta história para convencer Antioco de que não estava conluiado com os Romanos, que eram inimigos do rei, e dado que Polibio a recebeu em terceira mão – na melhor das hipóteses -, é impossível avaliar a sua veracidade. Na versão romana, que é posterior, o juramento torna-se mais severo, com o garoto prometendo inimizade eterna a Roma. Na versão dos acontecimentos dada por Polibio, Hannibal herda do pai a guerra contra Roma, do mesmo modo que Alexandre Magno realizaria a expedição à Pérsia planejada por Filipe II, seu pai. Durante muito tempo, os historiadores modernos aceitaram esta interpretação e alguns foram mais longe, afirmando que o plano de invadir a Itália pelos Alpes e até as táticas de combate de Hannibal poderão ter sido concebidas pelo pai. Mais recentemente, a ideia de que a guerra foi um projeto premeditado dos Barcas caiu em desfavor, em parte porque os historiadores tem geralmente relutância em atribuir acontecimentos importantes aos humores e ações dos líderes, preferindo procurar a explicação em tendências mais gerais. O debate tem incidido, com mais frequência, nos pormenores e na cronologia dos acontecimentos que conduziram à guerra, dado que Polibio é vago nesta matéria, enquanto que as outras fontes que possuímos são de questionável credibilidade.
De importância fundamental é a questão de saber o que esperavam conseguir na Hispânia os Cartagineses liderados pelos Barcas, e também aqui temos que lamentar a ausência de fontes ilustrativas da perspectiva púnica. Tem-se partido do principio de que a perda de territórios rentáveis na Sicília e na Sardenha forçou Cartago a procurar receitas noutros locais, e as minas de prata ibéricas são amiúde citadas neste contexto. É certo que Amílcar colocou muitas delas sob controlo púnico, e embora tenham sido necessários vários anos para dar inicio à sua exploração, isto permitiu à sua família cunhar várias series de moedas com um teor de prata especialmente elevado. Noutros aspectos, é difícil perceber como é que a expansão na Hispânia permitiu uma exploração mais lucrativa dos seus recursos do que através das comunidades púnicas presentes na região. No curto prazo, várias campanhas bem sucedidas geraram certamente receitas consideráveis, parte das quais poderá ter chegado às mãos do Estado – daqui a resposta de Amílcar, quando a embaixada romana exigiu saber porque travava ele tantas guerras de conquista, de que necessitava de anexar terras para ter lucros com que pagar a divida de guerra púnica a Roma. Uma grande parte dos dividendos restantes das campanhas foi para pagar e aumentar o exército na Hispânia. Há muito que os oficiais púnicos recrutavam soldados hispânicos, mas a província bárcida assumiu o controle sobre grande parte desta enorme reserva de recursos humanos. As comunidades da Hispânia produziam um excedente de jovens que não podiam obter o seu sustento da terra e era frequente tonarem-se bandidos ou mercenários. Em pelo menos uma ocasião, Amílcar recrutou para o seu exército guerreiros inimigos capturados, dado que a remoção deste elemento da sociedade tornava as conquistas mais seguras. Os exércitos da Primeira Guerra Púnica tinham sido predominantemente africanos, mas embora muitos destes soldados ainda estivessem no ativo, na Segunda Guerra Púnica o seu número seria ultrapassado, de longe, pelos Hispânicos. Na sua maioria, estes guerreiros hispânicos não serviriam como mercenários, por dinheiro, mas sim na qualidade de aliados. A Hispânia proporcionou aos Barcas e – dependendo da perspectiva que se tenha da independência do seu poder – a Cartago uma força militar formidável e a riqueza para a sustentar. Embora este recurso tenha permitido a Hannibal prosseguir a guerra com tanta eficácia, isto não significa necessariamente que tenha sido criado para a fazer. Poderá argumentar-se que o incremento do poderio militar púnico foi essencialmente defensivo, dando-lhe alguma proteção contra atos romanos tão arbitrários como o roubo da Sardenha. A perda da guerra contra Roma e os acontecimentos que se lhe seguiram foram claramente um grande golpe para o orgulho de um império poderoso. A empresa hispânica poderia simplesmente ter sido uma tentativa de reafirmação da sua independência. Contudo, para validar esta afirmação seria necessário acreditar que o ataque de Hannibal a Sagunto foi uma mera declaração de revivalismo do poderio púnico, que não contava provocar uma guerra com Roma. A rapidez com que Hannibal deu início aos colossais preparativos para a expedição à Itália torna esta hipótese extremamente improvável. Os Romanos parecem ter sentido sempre algum nervosismo perante as atividades dos Barcas na Hispânia, como comprova o número de embaixadas que aí enviaram.
A Segunda Guerra Púnica foi claramente uma herança do primeiro conflito, que terminou subitamente, com ambos os beligerantes quase no mesmo nível de exaustão. Os Romanos esperavam que as guerras que travavam se saldassem pela vitória completa das suas armas, com o ex-inimigo deixando de constituir uma ameaça ao ser geralmente absorvido na qualidade de aliado subordinado. Fosse qual fosse a autonomia interna que preservavam, os aliados não estavam autorizados a conduzir uma politica externa independente, e muito menos uma que entrasse em conflito com os interesses de Roma. Em 241, Cartago era demasiado grande e estava demasiado longe para ser absorvida por Roma do mesmo modo que acontecera grande parte da Itália, mas mesmo assim os Romanos negaram-se a tratá-la como igual nas décadas que se seguiram à guerra. A Sardenha deu corpo a um exemplo gritante desta atitude, com os Cartagineses obrigados a curvarem-se perante uma exigência injusta, e as repetidas intervenções romanas na Hispânia foram outro sintoma. Embora o tratado do Ebro possa não ter imposto grandes limites a expansão cartaginesa na Hispânia, deixou bem claro que os Romanos se sentiam no direito de imporem restrições as atividades púnicas longe de território romano. A aceitação de uma ligação com Sagunto recordou aos Cartagineses que os Romanos não se submetiam aos mesmos constrangimentos. O pagamento anual da indenização era uma lembrança constante da derrota de Cartago, mas estaria provavelmente concluído em meados da década de 220, e foi talvez nesta altura que Roma se começou a interessar cada vez mais pela Península Ibérica. Um antigo inimigo que aparentasse estar a converter-se de novo numa potência independente e rival seria considerado pelos Romanos uma ameaça inequívoca, independentemente da realidade da situação militar. As intervenções das embaixadas romanas serviram para recordar a Cartago o seu estatuto. Até 219, os Cartagineses cederam sempre perante as exigências romanas. É muitíssimo provável que o Senado contasse que o fizessem de novo quando a delegação disse a Hannibal para não atacar Sagunto, e a surpresa dos senadores quando ele ignorou a proibição ajuda a explicar porque é que os Romanos não enviaram nenhuma ajuda a cidade. Os Cartagineses não viam qualquer razão para se comportarem como um aliado subordinado de Roma. A sua cultura militar era diferente da romana e não esperava que os desfechos das guerras fossem tão definitivos. Além do mais, o seu poder real não fora tão enfraquecido pela derrota de 241 como a atitude romana sugeria, especialmente depois de Cartago ter recuperado dos custos da guerra e da agitação da Revolta dos Mercenários. Cartago ainda era um Estado grande e rico, com extensos territórios na África e um reino em expansão na Hispânia. Não existiam bons motivos para que os cidadãos púnicos considerassem a sua cidade inferior a Roma, e é compreensível o seu ressentimento face a recusa dos Romanos de reconhecerem esta realidade. Ambos os Estados possuíam amplos recursos para fazerem a guerra e desconfiavam um do outro. Nestas circunstâncias, a retoma das hostilidades afigura-se menos surpreendente. O desejo de se reafirmarem como potência independente era tão natural para os Cartagineses como aparentemente ameaçador para os Romanos. Alguns indivíduos poderão ter desejado e planejado a guerra. Hannibal era um jovem nobre a frente de um exército poderoso e estava seguro da sua capacidade para o comandar. Os autores antigos explicam sempre as grandes guerras como inspiradas pela ânsia de gloria de reis, imperadores e príncipes, e faríamos mal em rejeitar Iiminarmente esta visão. É possível que Hannibal tenha procurado uma guerra, e não restam dúvidas de que a aceitou prontamente e que a travou com considerável entusiasmo. Poderia certamente existir em Cartago quem se opusesse ao jovem general e desejasse a paz, mas a verdade é que a maioria da elite não via motivos para que o renovado Estado púnico se submetesse a exigências romanas tão arrogantes. É impossível dizer se aquiesceram nas atividades de Hannibal que provocaram a crise, ou se as terão mesmo ordenado.Existiram decerto momentos de tensão depois da Primeira Guerra Púnica, mas as relações entre Roma e Cartago não eram inteiramente hostis. Renovado o intercâmbio comercial, os mercadores púnicos eram uma visão tão familiar em Roma como os italianos parecem ter sido em Cartago. Com efeito, terá sido durante estes anos que foram criados laços de hospitalidade – ou ressuscitados os anteriores a 265 -, uma característica tão comum das relações internacionais no mundo antigo, ligando famílias aristocráticas púnicas e romanas. A paz concluída em 241 durou vinte e três anos, se descontarmos a ameaça romana de reabrir as hostilidades por causa da Sardenha, em 238, e terminou quando Hannibal Barca, comandante supremo cartaginês na Hispânia, atacou a cidade ibérica de Sagunto, que estava sob proteção romana. Nenhuma das partes se mostrou muito relutante em entrar em guerra, não obstante as memórias do conflito anterior que fora renhido e dispendioso. Os motivos que as levaram a guerra têm sido tema de intensos debates desde então, debates que procuram quase sempre atribuir a culpa a uma das partes. E com igual frequência, os historiadores têm caído na armadilha de analisar os eventos em função de padrões modernos, esquecendo-se de que até Estados antigos mais politicamente avançados entravam em guerra com frequência e entusiasmo, em especial quando contavam vencer e imaginavam os benefícios que a vitória lhes traria. Antes de abordarmos estas questões, convirá passarmos em revista à sucessão de acontecimentos que levaram à declaração de guerra por parte de Roma. Provavelmente em 226, Asdrúbal aceitou as exigências de emissários romanos no sentido de os Cartagineses não atravessem o rio Ebro. A ideia de colocar uma fronteira física ao poder de um Estado era um conceito familiar a ambas as culturas. Nesse caso, não se tratou de uma grande restrição, já que o coração da província púnica ainda estava muito longe do rio. Os argumentos de que o tratado definiu uma fronteira muito mais a sul não convencem, e são ainda menores os fundamentos para o comum pressuposto de que os Romanos se comprometeram a não intervir a sul do Ebro. De fato, nesta altura, o Estado romano carecia de qualquer ligação direta à Hispânia, exceto se considerarmos que a sua aliada, Massília, tinha comunidades dependentes em Empório e Rode. Em determinada altura, depois de 226, Roma associou-se à cidade de Sagunto (a moderna Sagunto, perto de Valência). Polibio diz-nos que isto aconteceu “alguns anos” antes da época de Hannibal. Mas seria plausível a sua menção no tratado do Ebro se a ligação já existisse, dado que a cidade se localizava muito a sul do rio. A discussão sobre se existia ou não um tratado formal garantindo o estatuto de aliada a Sagunto ou se a cidade simplesmente requereu a proteção de Roma, como Utica tentara fazer durante a Guerra dos Mercenários, não é relevante para o nosso propósito. A dada altura, o Senado romano foi solicitado a arbitrar a disputa interna da cidade, muito possivelmente entre facções rivais adeptas de Roma e Cartago, e os enviados ordenaram a execução de vários nobres saguntinos. Parecem óbvios para a cidade hispânica os atrativos de uma aliança com Roma. Sagunto, uma cidade-estado de importância local, assistiria com preocupação a expansão da província cartaginesa na sua direção. O apoio romano oferecia a maior segurança possível contra o seu poderoso vizinho. O motivo pelo qual os Romanos aceitaram a aliança é menos claro e está estreitamente associado à causa da guerra. Em 221, Hannibal, então com 26 anos de idade, sucedeu ao cunhado e continuou a agressiva politica expansionista na Hispânia, levando a cabo operações muito mais vastas do que os seus antecessores. Conduziu os seus exércitos contra as tribos da Hispânia Central, avançando bastante para norte, até região da moderna Salamanca. Cerca de 220-219, eclodiu uma disputa entre Sagunto e uma tribo vizinha, acusada de realizar incursões no seu território. Os pormenores são obscuros e até o nome do povo em causa é incerto, mas a tribo era aliada de Cartago e recebeu o apoio de Hannibal. No Inverno, uma embaixada romana apresentou-se a Hannibal, em Nova Cartago, e recordou-lhe a existência do tratado do Ebro, avisando-o também para não atacar Sagunto. A embaixada foi recebida com extrema frieza e deslocou-se a Cartago para repetir as suas exigências. O jovem general também pediu instruções a Cartago, e na Primavera conduziu o seu exercito contra a cidade. Sagunto situava-se numa posição forte, no cimo de uma colina, a quilómetro e meio do mar (No Outono de 1811,os defensores espanhóis de uma fortaleza improvisada entre as ruinas ibéricas, romanas e mouras da cidade repeliram vários ataques lançados por um dos mais capazes comandantes de Napoleão, Suchet.) Hannibal levou oito meses para se apoderar da cidade, mas desde o inicio foi claro que a sua intenção era toma-la de assalto e não submetê-la pela fome. As suas tácticas foram muito mais agressivas do que as adotadas pelos Cartagineses em qualquer um dos cercos da Primeira Guerra Púnica, pelo que as baixas também foram mais elevadas. Lívio diz mesmo que o próprio Hannibal foi ferido ao dirigir um ataque demasiado próximo da peleja. Os Romanos nada fizeram para auxiliar os Saguntinos depois de iniciado o assedio. Lívio afirma que enviaram outra embaixada a Hannibal, mas a sua cronologia é irremediavelmente confusa neste ponto e, dado que Polibio não menciona semelhante iniciativa, mais vale rejeitá-la. Sagunto caiu em finais de 219 ou nas primeiras semanas de 218, e a noticia poderá ter chegado a Roma num mês. No fim do Inverno, foi enviada a Cartago uma embaixada que incluía os dois cônsules de saída, Lúcio Emilio Paulo e Marco Lívio Salinator. Lívio diz que a delegação era chefiada por Quinto Fábio Máximo, ficando assim completo o trio que desempenharia papeis de relevo na guerra que se avizinhava, mas parece mais provável que o líder fosse Marco Fábio Buteão, o experiente ex-censor que combatera na Sicília quando era cônsul, em 245. A embaixada protestou contra os atos de Hannibal e exigiu saber se ele agia com a aprovação do senado cartaginês. Os Cartagineses viram-se confrontados com as alternativas de condenarem Hannibal e entregarem-no e aos seus oficiais superiores aos Romanos para serem punidos, ou de entrarem em guerra contra Roma.
O estilo de diplomacia praticado pelas embaixadas romanas raramente parece ter sido muito sutil, mas neste caso os Romanos eram claramente obrigados a vingarem um ataque contra um aliado. Numa versão da história, que refere um poderoso partido oposto aos Barcas, um certo Hanão terá condenado as ações de Hannibal mas os Cartagineses, na sua maioria, responderam furiosamente as bruscas exigências romanas. Negaram-se a reconhecer o tratado do Ebro, dizendo que nunca o tinham ratificado, citaram o exemplo de Catulo, que em 241 submetera os termos de paz a apreciação de Roma, e contestaram a sua obrigatoriedade de terem que reconhecer qualquer relação entre Roma e Sagunto. Reza a história que Fábio se plantou no meio da câmara e anunciou que trazia nas dobras da toga a paz e a guerra, e que deixaria cair a que os Cartagineses escolhessem. Os ânimos dos senadores púnicos exaltaram-se e o sufeta presidente gritou-lhe que escolhesse ele. Quando Fábio respondeu que deixava cair a guerra, o salão encheu-se com um grande grito de “Aceitamos”. Assim foi declarada a guerra, mas talvez já fosse inevitável. Regressado aos aquartelamentos de Inverno depois da queda de Sagunto, Hannibal fez seguramente preparativos para a invasão da Itália, e também é bastante possível que os Comitia Centuriata já tivessem votado a favor da guerra caso os embaixadores não conseguissem uma resposta satisfatória de Cartago. Polibio discute com algum detalhe as causas subjacentes à retoma das hostilidades e conclui que foram três os fatores principais. O primeiro foi o ressentimento ou a raiva de Amílcar Barca no fim da Primeira Guerra Púnica, ao ser forçado a capitular apesar de invito na Sicília. O segundo fator – e o mais importante – foi a descarada conquista romana da Sardenha, em 238, quando Cartago ainda se encontrava abalada pela desordem da Revolta dos Mercenários. Esta humilhação, além de aumentar o ressentimento de Amílcar, propalou o ódio a Roma a toda a população púnica. Foi com o objetivo de construir uma base de poder para usar contra Roma que Amílcar se deslocou para a Hispânia, lançando-se de corpo e alma num programa de expansão. Os êxitos da sua família na Península Ibérica constituíram a terceira causa, pois o crescimento do poderio cartaginês encorajou os Púnicos a julgarem-se suficientemente fortes para derrotarem a sua antiga rival.
Polibio sustenta a sua visão da motivação de Amílcar com um episódio narrado por Hannibal na corte do rei selêucida Antioco III, na década de 190. Pouco antes de partir para assumir o comando na Hispânia, Amílcar Barca sacrificou no altar de uma divindade a que Polibio chama Zeus e Lívio designa por Júpiter, mas tratava-se provavelmente de BaaI Shamin. Recebendo sinais favoráveis, chamou junto de si o seu filho Hannibal, então com nove anos de idade, e perguntou-lhe se gostaria de o acompanhar na expedição. O garoto, que provavelmente vira poucas vezes o pai durante os seus primeiros anos de vida, respondeu entusiasticamente, implorando-lhe autorização para ir com ele. Amílcar colocou a mão do rapaz na vitima sacrificial e obrigou-o a jurar solenemente nunca ser amigo dos Romanos. Hannibal contou esta história para convencer Antioco de que não estava conluiado com os Romanos, que eram inimigos do rei, e dado que Polibio a recebeu em terceira mão – na melhor das hipóteses -, é impossível avaliar a sua veracidade. Na versão romana, que é posterior, o juramento torna-se mais severo, com o garoto prometendo inimizade eterna a Roma. Na versão dos acontecimentos dada por Polibio, Hannibal herda do pai a guerra contra Roma, do mesmo modo que Alexandre Magno realizaria a expedição à Pérsia planejada por Filipe II, seu pai. Durante muito tempo, os historiadores modernos aceitaram esta interpretação e alguns foram mais longe, afirmando que o plano de invadir a Itália pelos Alpes e até as táticas de combate de Hannibal poderão ter sido concebidas pelo pai. Mais recentemente, a ideia de que a guerra foi um projeto premeditado dos Barcas caiu em desfavor, em parte porque os historiadores tem geralmente relutância em atribuir acontecimentos importantes aos humores e ações dos líderes, preferindo procurar a explicação em tendências mais gerais. O debate tem incidido, com mais frequência, nos pormenores e na cronologia dos acontecimentos que conduziram à guerra, dado que Polibio é vago nesta matéria, enquanto que as outras fontes que possuímos são de questionável credibilidade.
De importância fundamental é a questão de saber o que esperavam conseguir na Hispânia os Cartagineses liderados pelos Barcas, e também aqui temos que lamentar a ausência de fontes ilustrativas da perspectiva púnica. Tem-se partido do principio de que a perda de territórios rentáveis na Sicília e na Sardenha forçou Cartago a procurar receitas noutros locais, e as minas de prata ibéricas são amiúde citadas neste contexto. É certo que Amílcar colocou muitas delas sob controlo púnico, e embora tenham sido necessários vários anos para dar inicio à sua exploração, isto permitiu à sua família cunhar várias series de moedas com um teor de prata especialmente elevado. Noutros aspectos, é difícil perceber como é que a expansão na Hispânia permitiu uma exploração mais lucrativa dos seus recursos do que através das comunidades púnicas presentes na região. No curto prazo, várias campanhas bem sucedidas geraram certamente receitas consideráveis, parte das quais poderá ter chegado às mãos do Estado – daqui a resposta de Amílcar, quando a embaixada romana exigiu saber porque travava ele tantas guerras de conquista, de que necessitava de anexar terras para ter lucros com que pagar a divida de guerra púnica a Roma. Uma grande parte dos dividendos restantes das campanhas foi para pagar e aumentar o exército na Hispânia.
Há muito que os oficiais púnicos recrutavam soldados hispânicos, mas a província bárcida assumiu o controle sobre grande parte desta enorme reserva de recursos humanos. As comunidades da Hispânia produziam um excedente de jovens que não podiam obter o seu sustento da terra e era frequente tonarem-se bandidos ou mercenários. Em pelo menos uma ocasião, Amílcar recrutou para o seu exército guerreiros inimigos capturados, dado que a remoção deste elemento da sociedade tornava as conquistas mais seguras. Os exércitos da Primeira Guerra Púnica tinham sido predominantemente africanos, mas embora muitos destes soldados ainda estivessem no ativo, na Segunda Guerra Púnica o seu número seria ultrapassado, de longe, pelos Hispânicos. Na sua maioria, estes guerreiros hispânicos não serviriam como mercenários, por dinheiro, mas sim na qualidade de aliados. A Hispânia proporcionou aos Barcas e – dependendo da perspectiva que se tenha da independência do seu poder – a Cartago uma força militar formidável e a riqueza para a sustentar. Embora este recurso tenha permitido a Hannibal prosseguir a guerra com tanta eficácia, isto não significa necessariamente que tenha sido criado para a fazer. Poderá argumentar-se que o incremento do poderio militar púnico foi essencialmente defensivo, dando-lhe alguma proteção contra atos romanos tão arbitrários como o roubo da Sardenha. A perda da guerra contra Roma e os acontecimentos que se lhe seguiram foram claramente um grande golpe para o orgulho de um império poderoso. A empresa hispânica poderia simplesmente ter sido uma tentativa de reafirmação da sua independência. Contudo, para validar esta afirmação seria necessário acreditar que o ataque de Hannibal a Sagunto foi uma mera declaração de revivalismo do poderio púnico, que não contava provocar uma guerra com Roma. A rapidez com que Hannibal deu início aos colossais preparativos para a expedição à Itália torna esta hipótese extremamente improvável. Os Romanos parecem ter sentido sempre algum nervosismo perante as atividades dos Barcas na Hispânia, como comprova o número de embaixadas que aí enviaram.
A Segunda Guerra Púnica foi claramente uma herança do primeiro conflito, que terminou subitamente, com ambos os beligerantes quase no mesmo nível de exaustão. Os Romanos esperavam que as guerras que travavam se saldassem pela vitória completa das suas armas, com o ex-inimigo deixando de constituir uma ameaça ao ser geralmente absorvido na qualidade de aliado subordinado. Fosse qual fosse a autonomia interna que preservavam, os aliados não estavam autorizados a conduzir uma politica externa independente, e muito menos uma que entrasse em conflito com os interesses de Roma. Em 241, Cartago era demasiado grande e estava demasiado longe para ser absorvida por Roma do mesmo modo que acontecera grande parte da Itália, mas mesmo assim os Romanos negaram-se a tratá-la como igual nas décadas que se seguiram à guerra. A Sardenha deu corpo a um exemplo gritante desta atitude, com os Cartagineses obrigados a curvarem-se perante uma exigência injusta, e as repetidas intervenções romanas na Hispânia foram outro sintoma. Embora o tratado do Ebro possa não ter imposto grandes limites a expansão cartaginesa na Hispânia, deixou bem claro que os Romanos se sentiam no direito de imporem restrições as atividades púnicas longe de território romano.
A aceitação de uma ligação com Sagunto recordou aos Cartagineses que os Romanos não se submetiam aos mesmos constrangimentos. O pagamento anual da indenização era uma lembrança constante da derrota de Cartago, mas estaria provavelmente concluído em meados da década de 220, e foi talvez nesta altura que Roma se começou a interessar cada vez mais pela Península Ibérica. Um antigo inimigo que aparentasse estar a converter-se de novo numa potência independente e rival seria considerado pelos Romanos uma ameaça inequívoca, independentemente da realidade da situação militar. As intervenções das embaixadas romanas serviram para recordar a Cartago o seu estatuto. Até 219, os Cartagineses cederam sempre perante as exigências romanas. É muitíssimo provável que o Senado contasse que o fizessem de novo quando a delegação disse a Hannibal para não atacar Sagunto, e a surpresa dos senadores quando ele ignorou a proibição ajuda a explicar porque é que os Romanos não enviaram nenhuma ajuda a cidade.
Os Cartagineses não viam qualquer razão para se comportarem como um aliado subordinado de Roma. A sua cultura militar era diferente da romana e não esperava que os desfechos das guerras fossem tão definitivos. Além do mais, o seu poder real não fora tão enfraquecido pela derrota de 241 como a atitude romana sugeria, especialmente depois de Cartago ter recuperado dos custos da guerra e da agitação da Revolta dos Mercenários. Cartago ainda era um Estado grande e rico, com extensos territórios na África e um reino em expansão na Hispânia. Não existiam bons motivos para que os cidadãos púnicos considerassem a sua cidade inferior a Roma, e é compreensível o seu ressentimento face a recusa dos Romanos de reconhecerem esta realidade. Ambos os Estados possuíam amplos recursos para fazerem a guerra e desconfiavam um do outro. Nestas circunstâncias, a retoma das hostilidades afigura-se menos surpreendente. O desejo de se reafirmarem como potência independente era tão natural para os Cartagineses como aparentemente ameaçador para os Romanos. Alguns indivíduos poderão ter desejado e planejado a guerra. Hannibal era um jovem nobre a frente de um exército poderoso e estava seguro da sua capacidade para o comandar. Os autores antigos explicam sempre as grandes guerras como inspiradas pela ânsia de gloria de reis, imperadores e príncipes, e faríamos mal em rejeitar Iiminarmente esta visão. É possível que Hannibal tenha procurado uma guerra, e não restam dúvidas de que a aceitou prontamente e que a travou com considerável entusiasmo. Poderia certamente existir em Cartago quem se opusesse ao jovem general e desejasse a paz, mas a verdade é que a maioria da elite não via motivos para que o renovado Estado púnico se submetesse a exigências romanas tão arrogantes. É impossível dizer se aquiesceram nas atividades de Hannibal que provocaram a crise, ou se as terão mesmo ordenado.
Os Romanos reagiram com muita lentidão ao ataque a Sagunto, provavelmente em parte, como vimos, por esperarem que os Cartagineses se submetessem à pressão diplomática. Além disso, a prática bélica romana ainda estava muito ligada ao ano consular. Quando o Senado soube que Sagunto estava sitiada, os cônsules desse ano já se encontravam no estrangeiro, no comando da esquadra e do exército em campanha na Ilíria. Esta guerra ainda estava em curso, e mesmo que um cônsul fosse chamado levaria algum tempo a recrutar um novo exército. Por conseguinte, a época de campanha já estaria bastante adiantada quando um exército romano chegasse a Hispânia, e serlhe-ia difícil conseguir alguma coisa antes que o Inverno pusesse fim às operações. Era mais sensato e, pelos padrões romanos, próprio para o Senado aguardar e atribuir a importante guerra contra Cartago como responsabilidade especial aos cônsules de 218, que assumiriam o cargo em Março. Obviamente, isto de pouco serviu aos Saguntinos, que lutaram sozinhos até ao fim contra um inimigo avassalador mas é duvidoso que lhes pudesse ter sido enviado qualquer auxilio eficaz. O plano do Senado para a conduta da guerra era simples e direto, de um modo caracteristicamente romano. Os cônsules operariam separadamente, um indo para a Hispânia para fazer frente a Hannibal, enquanto o outro iria para a Sicília, de onde lançaria uma invasão ao Norte da África. Assim, o general inimigo que provocara a guerra seria derrotado em combate e as autoridades cartaginesas que o tinham apoiado ver-se-iam a braços com um ataque direto à sua cidade. Ao confrontarem o inimigo nos seus pontos mais fortes, os Romanos colocavam uma forte pressão sobre os pilares da sua oposição. Cartago quase se vergara sob esta pressão em 256-255, e não havia razões para pensar que não voltaria a faze-lo. De fato, dada a tendência de Cartago de ceder às ameaças romanas nas décadas entre as guerras, os Romanos terão contado que seria menos resistente em caso de guerra.

Quanto aos cônsules de 218, Público Cornélio Cipião recebeu a Hispânia como província e Tibério Semprônio Longo a Sicília e a África. Foram criadas seis legiões para esse ano, consistindo cada uma de 4000 infantes e 300 cavaleiros. Foi atribuído a cada cônsul um exército consular padrão de duas legiões apoiadas por duas alas latinas. No total, Cipião recebeu 14.000 infantes e 1.600 cavaleiros aliados, e Longo 16.000 infantes e 18000 cavaleiros. As restantes legiões, juntamente com 10.000 infantes e 1.000 cavaleiros aliados, foram enviadas para a Gália Cisalpina, sob o comando do Pretor Lúcio Mânlio Vulsao. A prontidão para alterar o tamanho dos contingentes aliados de modo a lidar com a escala do problema demonstra mais uma vez que o sistema militar romano não era tão rígido como às vezes se julga. A avaliação que o Senado fez da tarefa em mãos refletiu-se também na distribuição dos recursos navais. Longo, cuja projetada invasão da África contaria possivelmente com a oposição de uma poderosa esquadra púnica, recebeu 160 quinquerremes e vinte navios mais ligeiros. Cipião teria muito menos probabilidades de encontrar uma forte armada inimiga ao deslocar o seu exercito para a Hispânia, pelo que lá foram atribuídos sessenta “cincos”. A recente guerra na Ilíria terá garantido a boa condição da marinha romana. Antes que pudesse ser empreendida qualquer movimentação contra Cartago, eclodiu uma rebelião na Gália Cisalpina, novamente provocada pelo ressentimento das tribos perante as incursões dos colonos romanos. Os Boios e os Insubres expulsaram-nos das colônias de Cremona e Placência, que ainda não estavam fortificadas, e perseguiram-nos até a cidade de Mutina. Depois, os Gauleses plantaram-se junto s muralhas da urbe e deram início a um bloqueio. Três comissários senatoriais, enviados para organizarem a distribuição de terras nas novas colônias, foram presos ao tentarem negociar. Partiu imediatamente uma coluna de socorro, sob o comando do pretor Mânlio Vulsão. Marchando rapidamente e negligenciando o reconhecimento do terreno, foi emboscada ao avançar por um trilho numa região densamente arborizada e sofreu pesadas baixas – Lívio afirma que se perderam 500 homens numa primeira emboscada e 700 e seis estandartes na segunda. O exército, muito maltratado, conseguiu chegar a uma cidadezinha chamada Taneto, onde ficou também bloqueado. A situação era grave e a agitação na Gália Cisalpina demasiado próxima de Roma para que o Senado a ignorasse até a conclusão da guerra contra Cartago. O exército de Cipião estava a reunir-se no Norte de Itália antes de partir para a Hispânia, pelo que o Senado ordenou a outro pretor, Gaio Atulio Serrano, que assumisse o comando de uma legião e 5000 soldados aliados e socorresse Mânlio, uma missão que ele cumpriu com rapidez e sem oposição. Cipião recebeu ordens para recrutar uma nova legião e tropas aliadas adicionais para substituir estas unidades, mas não é claro se o total avançado por Lívio de seis legiões constituídas para esse ano inclui este contingente. A demora consequente significou o adiamento do avanço para a Hispdnia. Entretanto, Longo rumou a Lilibeu, onde empreendeu grandes preparativos pana a expedição africana. No entanto, a guerra não seria travada como o Senado contava.
Durante a Primeira Guerra Púnica, os Cartagineses tinham invariavelmente respondido as movimentações romanas em vez de tentarem eles próprios ditar o rumo da contenda. Tinham sido sempre os seus oponentes a escalar o conflito e a procurar um resultado decisivo. Pois a Segunda Guerra Púnica foi muito diferente desde o início, e a principal razão para que assim tenha sido prende-se com a influência de um homem, Hannibal Barca. Nas fontes, Hannibal é apresentado como o autor de todas as decisões cruciais para organizar o esforço bélico púnico inicial, em 219-218, não só na Hispânia, mas também na África. Por norma, os Cartagineses interferiam muito pouco com os generais que nomeavam para as suas missões, chegando frequentemente ao ponto de não os apoiarem nas operações subsequentes, mas os recursos ao dispor imediato do jovem general eram enormes. É nesta altura, mais do que em qualquer outra, que Hannibal aparenta ser o senhor do principado semi-independente da Hispânia retratado por alguns estudiosos. A guerra eclodira a propósito de uma disputa local na Hispânia, com os Cartagineses deixando de reconhecer as restrições que os Romanos lhes tinham imposto na região. Os Romanos esperavam claramente que os Cartagineses permanecessem no local e travassem uma guerra defensiva para protegerem o seu território, semelhança da que tinham travado na Sicília. Com as forças ao seu dispor, Aníbal encontrava-se numa posição sólida para enfrentar qualquer invasão. De fato, beneficiaria de uma grande superioridade numérica sobre o único exército consular que Cipião ia conduzir para a Península, e derrotá-lo-ia facilmente se conseguisse forçá-lo ao combate. Contudo, a experiência da Primeira Guerra Púnica mostrara que a destruição de uma esquadra ou de um exército romanos significaria simplesmente que seriam substituídos por outros. A tenaz persistência que os Romanos haviam demonstrado face a perdas colossais tornava improvável que desistissem rapidamente.

Quanto mais se prolongasse a guerra na Hispânia, menos sólidas pareceriam as conquistas dos Barcas. Muitas tribos tinham ficado atemorizadas face ao poderio militar púnico mas a sua lealdade poderia não perdurar na presença de um exército hostil cujos comandantes não poupariam seguramente esforços para seduzirem os chefes hispânicos. A prática bélica cartaginesa, mais tradicional, resistir ao inimigo até o seu poder começar a enfraquecer, na melhor das hipóteses, a perspectiva de um impasse prolongado ou, no pior dos cenários, a derrota quando o inimigo era Roma. Hannibal rejeitou a partida à opção defensiva e decidiu que deveriam ser empreendidos todos os esforços para derrotar Roma. Dado que as pesadas perdas sofridas por Roma no estrangeiro pouco tinham enfraquecido o seu poder, Roma teria que ser confrontada e vencida no seu próprio território, na Itália.
Em muitos aspectos, a invasão da Itália foi uma operação marcadamente “romana”, aplicando diretamente uma força poderosa contra um ponto forte do inimigo. Neste sentido, talvez fosse de esperar que os Romanos tivessem ficado menos surpreendidos quando Hannibal escolheu esta opção, mas a forma de guerrear púnica, conhecida do passado, não indiciava uma iniciativa arrojada, especialmente tendo em conta as inerentes dificuldades de ordem prática. Em 218, uma invasão anfíbia não era exequível.
Sem bases na Sicília, até o Sul de Itália ficava no limite máximo do alcance operacional de uma esquadra de gales operando a partir do Norte da África, e o poderio naval púnico na Hispânia não era substancial. Em qualquer dos casos, o desembarque numa costa hostil, provavelmente face à oposição de uma poderosa marinha romana, era uma empresa extremamente arriscada e não é de crer que pudesse ser desembarcado um exército suficientemente grande para operar com um mínimo de eficácia. Restava a opção de uma invasão terrestre a partir da Hispânia, mas as dificuldades eram formidáveis. A expedição implicaria uma marcha de centenas de quilômetros pelo território de tribos neutrais – no melhor dos cenários – ou potencialmente hostis, e a travessia do importante obstáculo formado pelos Alpes. Na Itália, o exército púnico não disporia de nenhuma base nem de mantimentos, e teria pela frente um número crescente de inimigos. Foi uma empresa arriscada, e o fato de conhecermos a história não nos deve levar a ignorar o choque que os Romanos terão tido quando souberam que fora precisamente essa a opção de Hannibal.
Depois da queda de Sagunto, Hannibal retirou para invernar em Nova Cartago, onde recompensou prodigamente os seus soldados com parte dos despojos. As tropas hispânicas foram autorizadas a regressar aos seus lares, com ordens para se apresentarem no princípio da Primavera. Prevendo corretamente as movimentações romanas, Hannibal tomou medidas para melhorar as defesas da África e da Hispânia. Os números relativos às forças envolvidas são invulgarmente precisos pelos padrões antigos, e Polibio diz-nos que provieram de uma inscrição erguida por ordem do próprio Hannibal durante a sua estada na Itália. A África foi reforçada com 13.850 infantes e 1200 cavaleiros ibéricos, apoiados por 870 dos selvagens fundibulários das Baleares. Um pequeno destacamento destas tropas foi estacionado na cidade de Cartago, juntamente com 4000 infantes Ilírios, que entregaram reféns como penhor do bom comportamento das suas comunidades.
O grosso das forças foi instalado na região Líbia conhecida por Metagônia. Asdrúbal, irmão de Hannibal, recebeu o comando da província hispânica, dando continuidade à tradição de governo pelos Barcas. Asdrúbal parece ter sido um homem capaz e gozava indubitavelmente da confiança do irmão, mas outro motivo para a tomada desta decisão poderá ter sido a natureza pessoal da lealdade entre as tribos hispânicas. Além dos aliados que podiam ser recrutados na província, Asdrúbal recebeu um poderoso contingente de soldados africanos. No total, dispunha de vinte e um elefantes, 2500 cavaleiros (450 líbio-fenícios e líbios, 300 ilergetes e 1800 númidas oriundos de quatro tribos) e 12.650 infantes, na sua maioria líbios mas incluindo 300 ligures e 500 fundibulários das Baleares. O apoio naval era garantido por uma pequena esquadra de 50 “cincos”, 2 “quatros” e 5 “três”, mas apenas uma parte – trinta e duas quinquerremes e todas as trirremes – se encontrava devidamente guarnecida e em estado de prontidão. O intercâmbio de soldados recrutados na Hispânia e na África era considerado um bom método para garantir a sua lealdade, dificultando-lhes a possibilidade de desertarem e regressarem a casa.
O grosso dos preparativos prendeu-se com a expedição à Itália, congregando, segundo Polibio, o gigantesco total de 12.000 cavaleiros e 90.000 infantes. Infelizmente, Polibio não entra em pormenores quanto à sua composição, embora seja provável que estivessem presentes a maioria das nacionalidades e tipos de tropas constantes dos outros contingentes. O grosso provinha evidentemente da Península Hispânica, e os acontecimentos posteriores mostram claramente a presença de representantes dos principais povos da região – Iberos, Lusitanos e Celtiberos. Estes povos tribais forneceram tropas de qualidade, cavalaria para combater em ordem cerrada e infantaria para combater em ordem cerrada e aberta. Incluíam-se ainda um forte contingente de infantaria regular africana, bem treinada e disciplinada, cavaleiros ligeiros e talvez alguns infantes númidas, e uma unidade de elefantes de guerra – Apiano fala em trinta e sete. Este exército era muito maior do que qualquer outra força registada para os Cartagineses durante o século, e é provável que muitos soldados, em particular os hispânicos, tivessem sido recrutados recentemente. O núcleo do exercito era constituído pelas tropas que, sob o comando de Hannibal, de seu pai e seu cunhado, tinham vencido as muitas guerras de conquista na Hispânia. Eram lideradas por um conjunto de oficiais superiores que conheciam e em quem confiavam. Estes homens tinham fundido os guerreiros de muitas raças díspares numa força de combate extremamente eficaz e que, para o número dos seus efetivos, era provavelmente melhor do que quaisquer outras forças então existentes no mundo mediterrânico.
Pelos padrões da época, esta gigantesca tropa requeria um gigantesco apoio logístico para se alimentar, vestir e equipar. Este problema terá ocupado Hannibal e os seus oficiais durante todo o Inverno e provavelmente durante muitos meses ou anos antes. Houve quem sugerisse que as campanhas hispânicas de Hannibal, a partir de 221, tiveram como um dos seus objetivos principais a conquista de algumas das regiões mais férteis da Península de modo a garantir o abastecimento de cereais para a projetada expedição à Itália. E havia muitos outros preparativos que não podiam ser completados rapidamente. Foram enviados homens para obterem o máximo possível de informações sobre a rota que se pensava seguir para Itália e, em particular, sobre os grandes obstáculos como os Alpes. Foram enviados representantes as tribos localizadas ao longo do caminho, em especial as da Gália Cisalpina, procurando o seu apoio contra Roma quando o exército chegasse à Itália.
A memória recente das pesadas derrotas infligidas pelos Romanos desde 225 garantiu uma calorosa recepção a estas aproximações. Com aliados transalpinos, Hannibal poderia contar com provisões e acrescentar muitos guerreiros ao seu exército. Polibio diz-nos que os emissários regressaram no fim do Inverno e garantiram a Hannibal um bom acolhimento. Isto significa que terão partido logo após a queda de Sagunto, o mais tardar, e é bem possível que tenham partido antes. Todos estes preparativos indiciam que a expedição à Itália, e consequentemente a guerra contra Roma, vinham sendo ponderadas há muito e talvez ativamente preparadas pelo jovem general púnico. Alguns autores vêem na expectativa de auxilio gaulês como parte do plano à prova de que o conceito não pode ter sido elaborado antes de 225, pelo que, no máximo, terá sido uma criação de Asdrúbal e não de Amílcar. Todavia, talvez isto signifique apenas que um plano anterior se tornou mais exequível a partir dessa data. Mais uma vez, na ausência da perspectiva cartaginesa, resta-nos especular.
Aníbal empreendeu outro preparativo no Inverno, talvez tão importante como todos os outros pelos padrões antigos – não pelos modernos: deslocou-se a Gades para sacrificar no Templo de Melcarte-Hércules, uma divindade associada aos Barcas e que surge em algumas moedas por eles cunhadas. Cumpriu votos antigos e fez novos votos em nome do êxito da expedição.

Qual foi o objetivo de Hannibal ao invadir a Itália? Há muito que este tópico vem sido sujeito a intenso debate, frequentemente centrado na sua decisão de não marchar sobre Roma quando teve a oportunidade para o fazer, em 217 ou 216. A opinião hoje mais comum é a de que o plano de Hannibal nunca foi conquistar a cidade, mas sim enfraquecer o seu poder persuadindo o maior número possível dos seus aliados italianos e latinos a desertar. Por consequência, quando Hannibal negociou uma aliança contra Roma com Filipe V da Macedônia, os termos previam claramente que Roma continuaria a existir, num estado enfraquecido, depois da sua vitória conjunta. De modo similar, Lívio diz que depois de Cannae, em 216, Hannibal se dirigiu aos prisioneiros romanos e lhes garantiu que não combatia para os aniquilar, mas sim “pela honra e pelo poder”.

A resposta é muito mais simples do que a controvérsia sobre esta matéria sugeriria. Hannibal atacou a Itália para ganhar a guerra. No período em causa, raramente era possível um beligerante aniquilar por completo o inimigo, a menos que os Estados envolvidos fossem muito pequenos e um deles detivesse uma vantagem esmagadora. Mais tarde, em 146, Roma possuiu este tipo de vantagem sobre Cartago e conseguiu, depois de uma luta renhida destrui-la como entidade politica. Por norma, as guerras, em particular entre Estados tão grandes como Cartago ou Roma, terminavam quando um dos lados perdia a vontade de prosseguir o combate, e não a capacidade para o fazer. Chegado a esse ponto, tal como Cartago esteve a ponto de fazer em 255 e fez efetivamente em 241, reconhecia a derrota e aceitava termos de paz que a refletissem. O objetivo de qualquer guerra era encurralar o inimigo numa posição em que seria obrigado a ceder. O método poderia ser vencê-lo em uma ou em várias batalhas campais, conquistar-lhe cidades, devastar-lhe os campos e incendiar-lhe aldeias ou, mais frequentemente, uma combinação de todas estas coisas.
Todos os Estados mais poderosos tinham absorvido muitas comunidades pequenas como aliados subordinados com vários graus de aceitação. Uma demonstração de fraqueza por parte dos seus amos às mãos de um invasor daria seguramente lugar a defecções, com cada comunidade procurando alinhar-se com o potencial vencedor do conflito. A maioria das cidades-estado e tribos estavam fraturadas por disputas internas cujas facções não costumavam ter pejo em alinharem com uma potência estrangeira que estivesse disposta a colocá-los no controle do seu próprio povo. Foi assim que as cidades sicilianas se juntaram rapidamente a Roma depois dos seus êxitos iniciais, em 264, e que os Líbios, em 240, alinharam de imediato com os mercenários rebeldes. Durante a Segunda Guerra Púnica, as tribos hispânicas mostraram-se sempre prontas a renegarem uma aliança e a juntarem-se ao lado que aparentasse estar na mó de cima. Um Estado que visse os seus aliados e súditos a romperem consigo ver-se-ia ainda mais pressionado para entrar num compromisso e aceitar a derrota. Por consequência, não é irrazoavel acreditar que, se Hannibal conseguisse chegar à Itália e começasse a obter vitórias, os aliados começariam a vacilar. Hannibal não estava a adotar uma estratégia novel, e não é necessário declarar que ele compreendeu que a verdadeira força de Roma assentava na sua rede de aliados. Hannibal estava simplesmente a travar uma guerra como soíam travar-se. Aquilo que os seus planos tiveram de invulgar, pelo menos em comparação com as recentes práticas bélicas cartaginesas, foi a predisposição para agir de modo tão agressivo e levar a guerra a uma conclusão.
Roma após a Segunda Guerra Púnica


A conquista romana do Mediterrâneo trouxe como consequência inevitável profundas mudanças na vida política, social e econômica de Roma e da Itália. No âmbito politico, a conduta do Senado com respeito ao esforço realizado na guerra com Hannibal e seus subsequentes triunfos no Leste grego comportou uma aceitação geral entre as pessoas do governo senatorial; a legislação popular e os ataques a ordem estabelecida foram muito pouco frequentes no século seguinte ao tribunado de C. Flaminio em 232 a.e.c.. Foi um período de aparente calma e estabilidade politica, mas Cícero o recordaria como a idade de ouro do mandato senatorial.

O Senado mesmo foi dominado pelos nobres, que se encontravam divididos em dois campos totalmente opostos. Esses grupos adotaram uma forma de alianças ad hoc entre amigos e parentes que se uniam para promover programas políticos próprios e mobilizavam seus clientes e seguidores para votar e favorecer seus candidatos nas eleições. Na verdade, essas facções não eram partidos políticos permanentes, e, apesar de algumas amizades terem durado mais tempo que outras, isso não é suficiente para supor que os políticos romanos fossem dominados por alianças preestabelecidas e hereditárias de famílias nobres ou gentes. As rivalidades entre indivíduos e grupos eram habituais, o que garantia uma espécie de equilíbrio; mas as tensões dentro da oligarquia senatorial ressurgiram em consequência do aumento da retribuição pelos cargos e da forte concorrência pelas magistraturas principais.

No curso da guerra contra Hannibal, as necessidades militares obrigaram, na prática, a prolongar os mandatos dos generais vitoriosos para além do limite regulamentar de um ano. Ainda que isso pudesse ser justificado do ponto de vista prático, teve como resultado perigosas consequências politicas, já que gerou ambições pessoais como as de Cipião, que minaram de fora o sistema das magistraturas anuais. Esses homens também se destacaram de seus iguais por levar um estilo de vida afetado e luxuoso e por vangloriar-se de seu conhecimento da cultura grega. Outros nobres se apressaram a segui-los, e o resultado foi a intensificação da luta pelos cargos, o auto-enriquecimento, a corrupção e um indiscriminado culto ao helenismo. A oposição a essas tendências foi assumida por Catão, o Censor (234-149 a.e.c.), que adotou deliberadamente um tom austero de vida, imitando com isso um dos grandes homens do passado, M. Cúrio Dentato. Catão ridicularizou o frívolo exibicionismo dos helenistas, advogou pelas virtudes simples e mostrou profundo respeito pelas tradições nacionais italianas. Seus esforços por manter a coesão tradicional da oligarquia lhe permitiram levar a cabo um ataque politico contra Cipião, que se viu obrigado a tirar-se por algum tempo da vida pública em 184 a.e.c. Catão apoiou o cumprimento de leis suntuárias e se opôs com frequência aos subornos, à corrupção e aos abusos de poder. A oposição de Catão ao helenismo não se baseou em simples preconceitos. Ele mesmo falava grego e conhecia a cultura grega muito melhor que muitos daqueles que atacava; favoreceu de fato que se tomassem emprestadas idéias gregas, sempre que pudessem ser adaptadas às necessidades romanas. Foi Catão quem ordenou, durante o período de censura que ele mesmo iniciou, a construção da primeira basílica romana, no estilo das construções gregas. É um dos numerosos exemplos de construções públicas de tipo grego que se ergueram nessa época.
Mas o exemplo mais notável da adaptação das idéias gregas às necessidades romanas é o desenvolvimento da literatura latina, para o que Catão contribuiu decisivamente. O primeiro escritor da literatura latina foi Lívio Andrônico, um grego levado preso para Roma depois da tomada de Tarento em 272 a.e.c. A Lívio Andrônico se deve a tradução para o latim da Odisseia; ele compôs também tragédias baseadas em originais gregos. Seu exemplo foi seguido por Cneu Névio (para 275-200 a.e.c.) e Quinto Ênio (239-169), que escreveram poemas épicos e obras teatrais.

Vale destacar que não eram latinófonos: Cneu Névio, procedente da Campânia, era de fala osca, e Quinto Ênio era um messápio de Rúdias. Idêntica situação foi a do Úmbrio Tito Mácio Plauto, do celta Célio Estácio e de Públio Terêncio Áfer, que produziram durante a primeira metade do século II a.e.c. comédias latinas ao estilo grego (as de Tito Plauto e as de Públio Terêncio Áfer tem o mesmo estilo). Outras figuras proeminentes da literatura latina inicial foram os autores trágicos M. Pacúvio (220 – por volta de 130 a.e.c.) e C. Acio (170 – por volta de 90 a.e.c.) e o satírico C. Lucilo (por volta de 180-20 a.e.c.). O grande êxito de Catão foi a criação da literatura latina em prosa. Entre suas obras, há discursos, 142 dos quais foram conhecidos por Cícero, que os admirou muito; uma obra sobre agricultura, que se conservou; e uma obra histórica sobre Roma e a Itália intitulada Origines. As historias mais antigas de Roma (por exemplo, a de Fábio Pictor) foram escritas em grego. Uma das características das Origines foi que incluía tanto a historia dos povos italianos como a dos romanos.



Assim, os esforços de Catão se voltaram para a exploração construtiva da cultura grega tomada de empréstimo e a recusa da influência corruptora da riqueza, do luxo e da busca do poder, que ele associava ao helenismo como produto indireto da conquista militar. Mas, como podemos ver, Catão não se dava conta das profundas e sérias consequências do imperialismo romano. Durante sua vida, a economia rural da Itália foi transformada por um processo que levou a uma crise agrária grave. Os sintomas mais óbvios dessa mudança foram o empobrecimento e deslocamento do campesinato italiano, como resultado de mais de meio século de guerras continuas. A guerra afetou a política econômica da Itália em dois aspectos: primeiro, com os efeitos diretos da invasão de Hannibal, que teve por resultado uma extensa devastação do campo, sobretudo no Sul da Itália, e a aniquilação de comunidades inteiras. Por exemplo, quando Tarento caiu nas mãos dos romanos em 209 a.e.c., a maior parte de sua população foi escravizada, e aquela cidade, antes próspera, se transformou num lugar desolado. A devastação afetou necessariamente a capacidade produtiva do terreno agrícola, e a destruição das colheitas, das edificações do gado foi suficiente para arruinar muitas famílias de camponeses e para despovoar grandes áreas do território. Os efeitos indiretos das continuas guerras foram até mais sérios para os camponeses que tiveram de suportar a carga de um prolongado serviço militar. O exército romano tradicional foi uma milícia camponesa que se mostrou eficiente enquanto as guerras eram locais e os conflitos eram com as comunidades vizinhas; mas foi insuficiente para as necessidades militares romanas durante e depois da guerra contra Hannibal, quando se recrutaram grandes contingentes de soldados para servir por muitos anos em áreas distantes do Mediterrâneo.

Estimou-se que, em media, os exércitos combinados de romanos e italianos, durante os 35 anos que se seguiram à derrota de Hannibal, superavam os 130.000 homens; isso representa uma proporção muito elevada do total de homens adultos da Itália. A média de cidadãos romanos homens adultos em serviço por certo tempo durante os dois últimos séculos da República é calculada em cerca de 13 por cento. Isso significa que mais da metade dos homens adultos serviu regularmente nas legiões por no mínimo sete anos. Tal nível de dedicação à guerra foi desastroso para o pequeno campesinato. Muitas famílias de camponeses ficaram assim privadas da força de trabalho essencial durante longos períodos e até permanentemente, Se seus homens morressem no campo de batalha. As fazendas foram abandonadas, contraíram-se dividas, e a isso se seguiu o despojamento através da venda ou do despejo. O processo se acelerou pelo fato de os ricos buscarem investir os ganhos das guerras vitoriosas em terras italianas. Isso permitiu o crescimento de grandes fazendas (latifundia) mediante a acumulação por parte de poucos da terra que antes o pequeno campesinato havia trabalhado. Famílias inteiras de camponeses foram afastadas de suas terras por esses endinheirados investidores e substituídas por escravos. Estes eram fornecidos em abundância graças às vitórias militares e às escravizações maciças de populações vencidas; organizados em verdadeiras equipes de trabalhadores para proporcionar o trabalho necessário às empresas agrícolas em grande escala, eram relativamente baratos, e havia a vantagem adicional de os escravos serem isentos do serviço militar. Assim, o desenvolvimento dos latifundia se viu favorecido pelo influxo da riqueza e dos escravos, produto das vitórias conseguidas pelos esforços e sacrifícios dos camponeses italianos que serviram no exército.

O desenvolvimento dos latifúndios no século II a.e.c. foi acompanhado de novos métodos de cultivo, pensados para proporcionar aos latifundiários ausentes s rendas da venda dos produtos excedentes. O novo regime foi bem exemplificado na obra de Catão De Agricultura, manual dirigido aos proprietários de fazendas de tipo médio (ele especifica propriedades de 25 a 60 hectares) trabalhadas por escravos e supervisionadas pelos vilici, escravos administradores residentes.
Catão trata especialmente dos cultivos de vinhas e oliveiras, que dão bons lucros, mas requerem um alto investimento de capital inicial e posses relativamente extensas para conseguir economias em grande escala. Igualmente proveitosa era a prática da criação de gado e do pastoreio de ovelhas, mas também requeria capital e grandes áreas. Havia pastos extensivos disponíveis no Sul da Itália, onde a totalidade das regiões tinha ficado despovoada na Segunda Guerra Púnica.
Muitas daquelas terras se transformaram tecnicamente em agerpublicus, ao terem sido confiscadas por Roma aos Estados aliados que se tinham unido a Hannibal.
Mas o governo romano não foi muito exigente diante da expropriação de tais terras e não fez cumprir as restrições legais à extensão das propriedades. Parece provável que acontecesse o mesmo com o agerpublicus em outras partes da Itália.
Muitos dos camponeses deslocados emigraram para as vilas ou cidades da Itália e especialmente para Roma, onde começaram a ser criadas possibilidades de emprego devido aos grandes gastos dos ricos em luxos, serviços, subornos políticos e diversões. Assim, os gastos públicos contribuíram para o desenvolvimento de uma economia de mercado urbanizada. As receitas estatais em forma de butim, indenizações e taxas foram imensas; depois da colonização da Macedônia em 167 a.e.c., aboliu-se o tributum e não se exigiram taxas diretas sobre as propriedades dos cidadãos romanos. Uma elevada proporção das receitas públicas foi reinvestida em conquistas ulteriores, ou seja, foi gasta em pagamentos e fornecimentos ao exército. O restante serviu para levar a cabo extensos projetos de obras públicas empreendidos por todas as partes em Roma e nas cidades da Itália durante o século II a.e.c. (isso demonstra que não houve um declínio na atividade construtora na década de 130, como às vezes se disse). O desenvolvimento ou crescimento das cidades criou um mercado para os produtos dos grandes Latifundiários, enquanto as necessidades do exército deram conta de grande parte da lã e do couro que se produziam nas fazendas do Sul da Itália.

Os povos e as cidades também foram centros de intensa produção e de certa atividade industrial em pequena escala, provavelmente baseada no trabalho dos escravos. O principal mercado de produtos manufaturados foi indubitavelmente o exército, que necessitava regularmente de provisões de roupas, equipamento e armas. A organização do fornecimento era levada a efeito por setores privados que competiam pelos contratos com o governo. Esses contratistas privados eram chamados publicanos “publicani”. Faziam contratos para a construção e reforma dos prédios públicos e das estradas e outros serviços, e foram ele que adquiriram os direitos de exploração das propriedades mineiras do Estado e de arrecadação dos impostos indiretos (como pedágios e direitos portuários), bem como das rendas do erário público. Os contratos que cada cinco anos os censores emitiam foram imensamente lucrativos e de grande importância econômica. Polibio conta que quase não houve ninguém em Roma que não estivesse envolvido na venda desses contratos ou nos negócios que surgiam deles. Isso implicou riqueza e poder para os principais publicanos, que formaram um grupo de pressão muito influente fora do Senado (aos senadores não era permitido participar dos contratos públicos).

Terceira Guerra Púnica
O confronto final entre Roma e Cartago durou apenas quatro anos e terminou com a destruição total de Cartago. A guerra foi travada inteiramente na África, com os invasores romanos procurando conquistar a capital inimiga, e o desfecho nunca esteve verdadeiramente em dúvida, a menos que os Romanos decidissem abandonar a expedição. Não é fácil atribuir responsabilidades pela eclosão dos dois conflitos anteriores mas não restam dúvidas de que a Terceira Guerra Púnica foi deliberadamente provocada pelos Romanos, que tinham decidido, em consciência, aniquilar o seu velho inimigo. Os negociadores romanos exploraram descaradamente a predisposição cartaginesa para fazer concessões com o propósito de evitar a guerra com Roma, aumentando constantemente as suas exigências para impor um conflito a um inimigo debilitado. Foi uma atitude muitíssimo pior do que qualquer um dos exemplos registados da proverbial “falsidade púnica”. Pelos padrões da estratégia moderna, a guerra foi desnecessária, dado que Cartago não parece ter constituído uma verdadeira ameaça para Roma. Para compreendermos porque é que os Romanos embarcaram numa politica tão intencionalmente implacável, temos que olhar de novo para a atitude romana face a guerra e para as condições peculiares de meados do século II.

A partir de 201, os Cartagineses mostraram-se consistentemente aliados leais de Roma. Forneceram cereais aos exércitos romanos e, em 191, enviaram a sua minúscula marinha para integrar a esquadra que operava contra Antioco III. Com a ajuda da reforma das finanças do Estado, levada a cabo por Hannibal, a indenização anual foi paga pontualmente até ao fim, em 151. Na série de disputas fronteiriças com a Numídia de Masinissa, Cartago submeteu-se ao arbítrio romano apesar de este, de forma declarada ou tácita, ser sempre favorável ao rei. Com ou sem verdade na acusação, foram nobres cartagineses que relataram as alegadas conversações de Hannibal com Antioco e provocaram a sua fuga, em 195. Também foram eles que prenderam e julgaram o seu agente, Ariston de Tiro, que em 193 fora enviado a Cartago para persuadir a cidade a apoiar os Selêucidas contra Roma, embora Ariston tenha conseguido escapar antes da conclusão do julgamento. Foi enviada uma delegação a Roma para dar conta do incidente e garantir ao Senado a continuada lealdade de Cartago.

As fontes dizem-nos que neste meio século a politica cartaginesa foi dominada por três facções: um grupo simpatizante de Roma, liderado por Hanão, o Grande, outro pró-Masinissa, sob a liderança de Hannibal, o Estominho, e o terceiro derivando o seu apoio dos cidadãos mais pobres e chefiado por Hannibal, o Samnita, e Cartalao. O cognome de Hannibal derivaria talvez de um pai ou de um avô que servira com Hannibal em Itália, e as fontes referem também neste período um certo Magão, o Brútio, cujo nome sugere uma associação semelhante, mas não é totalmente claro que o partido democrático estivesse tão estreitamente associado aos Barcas como alguns estudiosos tem opinado. Nenhum destes grupos parece ter sido abertamente hostil a Roma. Não se sabe ao certo se a renovada prosperidade da cidade terá dado origem a algum rearmamento; as fontes literárias dizem que não mas as escavações realizadas no porto indiciam o contrário. O que sabemos é que em meados do século os Cartagineses não estavam em condições de lançarem uma ofensiva de peso contra Roma, mesmo que o pretendessem fazer. No entanto, não ha dúvida de que os Romanos foram ficando cada vez mais receosos do seu aliado no período em causa. O fim do pagamento da divida de guerra de cinquenta anos, em 151, eliminou o lembrete anual da derrota de Cartago e o estatuto subordinado da cidade. Os tratados que estipulavam um período fixo de paz entre dois Estados eram uma característica comum dos acordos gregos que punham fim aos conflitos, mas eram muito raros para os Romanos, que esperavam desfechos mais permanentes para as suas guerras. Em 265, Cartago convertera-se de aliado de longa data e distante em inimigo, o que originou uma mudança permanente na percepção romana de Cartago. Roma nunca se contentou com alianças que implicassem qualquer nível de igualdade com um antigo inimigo.
A guerra foi rapidamente renovada com a Macedônia, em 200, e de novo quando Perseu aparentou estar a tornar-se forte e independente. Um aliado leal devia submeter-se a interferência de Roma, especialmente nos assuntos externos, sempre que isso fosse do interesse de Roma. Entre 241 e 218, os Romanos apoderaram-se da Sardenha e intervieram na Hispânia, impondo concessões aos lideres púnicos sem se restringirem minimamente, e esta atitude continuou depois de 201. Em 151, Cartago deixou de pagar uma prestação anual a Roma. A cidade era próspera e o seu poder no Norte de África ainda era considerável, não obstante as terras perdidas para a Numídia. As tradições da prática bélica púnica não esperavam que um Estado vencido, em especial um Estado que não tivesse sido conquistado nem absorvido, permanecesse eternamente sujeito ao vencedor. Só os Romanos pensavam assim. Os Cartagineses já não eram aliados inequivocamente subordinados de Roma. O fato de um antigo inimigo, um inimigo que levara Roma a beira da derrota total, fosse de novo forte e independente constituía uma ameaça nas costas dos Romanos. Era esta a raiz do crescente receio que Roma tinha de Cartago. Este sentimento era personificado por Catão. Em meados do século, o “homem novo” que combatera em Tarento, no Metauro e na África era um dos mais influentes e respeitados membros do Senado, e um dos poucos da sua geração que ainda participavam ativamente nos assuntos do Estado. Provavelmente em 153, Catão integrou uma das embaixadas enviadas para arbitrar uma disputa entre Masinissa e Cartago. Catão estava com setenta e muitos mas ainda era um orador enérgico e convincente.
A delegação romana ficou profundamente impressionada com as crescentes riqueza e população da sua antiga rival.
Regressado e Roma, Catão deu em concluir todos os seus discursos no Senado com a mesma frase:
“Cartago deve ser destruída”. Diz-se que numa ocasião deixou cair alguns figos da dobra da toga. Os figos, informou ele aos seus ouvintes, espantados com o tamanho dos frutos, tinham sido colhidos num país a apenas três dias de viagem por mar, Catão exagerou a rapidez com que a armada púnica poderia cair sobre Roma, embora fosse efetivamente possível chegar ao Sul da Itália em poucos dias, e alguns estudiosos especularam com alguma irrelevância se Catão não teria comprado os figos em Roma ou mandado colhê-los na sua propriedade. Tratou-se de um gesto simbólico e poderoso que as fontes consideram digno de ser repetido e que ainda é recordado. Outro eminente senador, Cipião Nasica, mediu-se com Catão terminando os seus discursos com a opinião de que Cartago deveria ser preservada. Dizem as fontes que ele acreditava que a presença de um rival poderoso manteria intacta a virtude dos Romanos, um argumento que se tornou um continuo lamento no século seguinte, quando Roma mergulhou numa série de guerras civis. Na altura, poucos Romanos parecem ter concordado com ele. Plutarco refere que foi principalmente a influência de Catão que convenceu Roma a destruir Cartago, e em alguns relatos modernos figura com igual destaque a persistente malevolência do velho. Tal como em muitos outros aspectos da sua carreira, Catão terá aparentemente expressado o sentimento da maioria da população. Durante a década de 150, houve um sentimento crescente de insegurança em Roma. As guerras das primeiras décadas do século tinham sido ganhas, com grande facilidade, por exércitos romanos compostos de oficiais e soldados extremamente experientes. A geração da Guerra Hannibalica foi-se tornando demasiado velha para cumprir o serviço militar e os seus conhecimentos e competências perderam-se. Dada a impermanência das legiões de Roma, a desmobilização dos exércitos obrigava a recomeçar o processo de instrução de novas tropas. Os soldados experientes foram substituídos por homens mais jovens e menos conscientes de que os êxitos militares de Roma se baseavam numa instrução rigorosa, numa cuidada preparação logística e numa liderança competente, convencendo-se de que o êxito lhes cabia por direito simplesmente por serem Romanos. No segundo quartel do século, houve menos gente em armas e as campanhas foram relativamente poucas. Em 155, os guerreiros lusitanos lançaram uma série de grandes incursões na província romana da Hispânia Ulterior, ataques cuja escala foi aumentando a cada sucesso. Em 154, um pretor foi morto e o seu exército duramente derrotado.
Em 153, os Celtiberos infligiram várias derrotas a um exército consular comandado por Quinto Fúlvio Nobilior. Os relatos de combates duros e perigosos na Hispânia provocaram uma mini-crise em Roma, ao serem muito poucos os homens que se ofereceram para servir no exército que estava a ser formado para combater os Celtiberos, sob o comando de Lúcio Licinio Luculo. Só o exemplo de Públio Cornélio Cipião Emiliano, filho adotivo do Africano, que se ofereceu publicamente para servir como tribuno, garantiu voluntários em número suficiente. Na verdade, a guerra foi concluída antes da chegada de Luculo mas este, ávido de glória e riquezas, lançou o exército contra uma tribo amistosa, que se rendeu e foi traiçoeiramente massacrada. No ano seguinte, ocorreu uma atrocidade semelhante, quando o pretor da Hispânia Ulterior, Públio Sulpicio Galba, que já fora derrotado uma vez pelos Lusitanos, ofereceu a paz as tribos. Prometendo instalá-los em boas terras aráveis, Galba dividiu os Lusitanos em três grupos, desarmou-os e depois ordenou aos seus legionários que chacinassem os guerreiros indefesos. Um dos poucos que escapou ao massacre foi um homem chamado Viriato, que viria a revelar-se um líder carismático e um irredutível adversário de Roma. Durante mais de uma década, os Romanos foram confrontados com uma dura contenda contra os Lusitanos e os Celtiberos. Em 140, um dos seguidores de Viriato foi subornado e assassinou-o, mas foram necessários mais sete anos e recursos enormes até que o bastião celtibero de Numância fosse conquistado.
Regressado a Roma, Galba foi julgado por quebra de fides, a prezada fé de Roma, sendo Catão um dos seus acusadores. Mas Galba foi inesperadamente absolvido depois de se apresentar no tribunal com os filhos, que imploraram em lágrimas clemência para o pai. Galba tornar-se-ia um dos mais famosos oradores de Roma.

As derrotas sofridas na Hispânia trouxeram à luz a inexperiência de quase todos os exércitos romanos. A substituição anual dos governadores de província e a raridade das promagistraturas encorajavam os generais a procurarem a glória antes de serem substituídos, e negavam-lhes o tempo necessário para converterem os seus soldados num exército eficaz. Esta realidade tivera muito menos peso no principio do século, quando a qualidade dos recursos humanos de Roma fora mais elevada. Mas mesmo nessa altura, a pressão para obter êxito num único ano de mandato levara Flamínio a iniciar conversações de paz com Filipe V, em 198, para logo a seguir romper as negociações e procurar uma vitória militar quando o seu comando foi prolongado por mais um ano. As sucessivas derrotas faziam cair o moral e tornavam ainda mais prováveis novas derrotas.

O fracasso na proteção das comunidades hispânicas aliadas era conducente a sua defecção, aumentando o número de inimigos a combater. A dada altura, uma grande parte da Hispânia Ulterior submeteu-se a Viriato. As perdas sofridas na Hispânia ocorreram demasiado longe para constituírem uma ameaça direta ao Lácio, mas foram um grande golpe para o prestígio romano. As dificuldades para recrutar oficiais e soldados para a Hispânia, em 151, foram particularmente chocantes, pois nem a crise da invasão de Hannibal causara nos cidadãos romanos semelhante relutância face ao cumprimento do serviço militar. Apiano diz que o Senado decidiu em segredo procurar um pretexto para uma guerra contra Cartago pouco depois de Catão regressar da África. Talvez sim, talvez não, mas as atitudes do Senado não deixam dúvidas de que era essa a sua intenção em 150-149, e é provável que o pagamento da última prestação da indenização por Cartago, em 151, tenha contribuído para essa decisão. Apenas faltava aos Romanos um pretexto para a guerra, e os seus aliados númidas não tardariam a fornecê-lo.
Catão constituiu um elo entre a Segunda e a Terceira Guerras Púnicas do mesmo modo que as carreiras de Hierão, Fábio Máximo e Marcelo abarcaram a primeira e a segunda conflagrações. Também Masinissa era uma ligação ao passado. Em 150, estava com 88 anos de idade mas ainda montava sem sela, à maneira do seu povo, e liderava os seus homens em combate. Quando morreu, dois anos mais tarde, o rei deixou um filho com quatro anos de idade, um dos dez rapazes legítimos e ilegítimos que gerou durante a sua longa vida. Masinissa passara uma grande parte dos seus primeiros tempos de vida em Cartago, conhecera profundamente a cultura púnica e introduzira muitos dos seus aspectos, da literacia a religião, no reino que lutara para criar com base nas tribos independentes do seu povo. Fora encorajado o estabelecimento de comunidades urbanas, embora se desconheça até que ponto eram habitadas por uma população importada e não por Númidas persuadidos a abandonarem o nomadismo. Masinissa deu a cada filho uma propriedade rural para ser cultivada com os mais modernos métodos púnicos, pois compreendera que a promoção da agricultura fortaleceria o reino e daria poder aqueles que controlassem as novas fontes de produção.
Contudo, não obstante a sua admiração pela cultura púnica e os serviços distintos que prestou com os exércitos cartagineses na Hispânia, Masinissa demonstrou uma grande hostilidade para com o seu antigo aliado durante todo o seu reinado. O tratado de 201 incluíra a provisão algo vaga de que Cartago deveria restituir a Masinissa todos os territórios que tinham pertencido aos seus antepassados.
Apiano refere que os limites do território púnico estavam marcados com “trincheiras fenícias” mas ainda não foi possível estabelecer com precisão onde se localizavam. As ambiguidades do tratado encorajaram Masinissa a abocanhar um número crescente de territórios cartagineses, sob o pretexto de que haviam pertencido ao seu povo. As suas pretensões acabaram por conceder apenas aos colonos púnicos a área de Birsa, a povoação original de Cartago, situada no cimo de uma colina e que, segundo o mito, Elishat recebera do governante local. As delegações romanas enviadas para resolverem as disputas entre os dois aliados de Roma decidiram repetidamente a favor do rei, que assim pôde adquirir mais terras férteis e, por fim, os importantes portos conhecidos por empórios. Os políticos desejosos de agradar a Masinissa e de satisfazer as suas exigências foram finalmente expulsos de Cartago, em 152-151, e o partido popular tornou-se temporariamente dominante. Os líderes exilados refugiaram-se junto do monarca, que enviou a Cartago dois dos seus filhos, Gulussa e Micipsa, com a exigência da restituição dos exilados. Gulussa deslocara-se em tempos a Roma como representante do pai, mas nesta ocasião os irmãos nem sequer foram autorizados a entrar em Cartago. Na viagem de regresso, a comitiva de Gulussa foi atacada por Amilcar, o Samnita, e um grupo dos seus apoiantes, que mataram várias pessoas. Em 150, os Númidas recomeçaram os seus ataques contra território púnico, devastando as terras e sitiando uma cidade chamada Oroscopa, cuja localização desconhecemos.
Pela primeira vez desde 201, Cartago decidiu entrar em guerra sem procurar o arbítrio ou a aprovação de Roma, e formou um exército de 25.000 infantes e 400 cavaleiros, sob o comando de Asdrúbal. As fontes referem que os cavaleiros foram recrutados na cidade de Cartago, pelo que seriam cidadãos. Eram pouco numerosos mas receberam um reforço substancial quando uma disputa entre os filhos de Masinissa e dois chefes númidas, Asasis e Suba, levou a deserção dos dois últimos, à frente de 6.000 cavaleiros ligeiros. Asdrúbal ganhou vantagem em algumas escaramuças e seguiu a retirada do exército númida, que atraiu o inimigo para terreno mais acidentado e quase desprovido de alimentos e água. Por fim, Masinissa decidiu oferecer batalha, dando origem a um dia de combates no qual nenhum lado conseguiu uma vantagem decisiva. A batalha foi observada, à distância, por Cipião Emiliano, que se encontrava na África para, fazendo uso da ligação da sua família a Masinissa, persuadir o velho soberano a fornecer elefantes ao exército de Luculo na Hispânia. Asdrúbal retirou para o seu acampamento, montado numa colina, e iniciaram-se negociações, com Cipião no papel de mediador. As conversações romperam-se quando os Cartagineses recusaram entregar Asasis e Suba para serem punidos. As tropas de Masinissa construíram uma paliçada e um fosso em redor do terreno elevado ocupado pelo inimigo, algo que terão provavelmente aprendido durante o seu serviço com o exército romano. Sem possibilidade de serem aprovisionados e não querendo tentar um rompimento do cerco nem admitir a derrota, os homens de Asdrúbal não tardaram a consumir a comida que tinham consigo. Imóveis, os Cartagineses mataram e comeram os animais de carga, e depois as montadas da cavalaria. Já sem lenha para cozinharem a carne que constituía agora o essencial da sua dieta, os soldados partiram os escudos aos bocados para os utilizarem como combustível.
Dá a sensação de que Asdrúbal contava que os Númidas ficassem sem provisões e dispersassem, mas o exército que Masinissa criara durante o seu reinado era nitidamente uma força muito mais organizada e eficiente do que qualquer contingente tribal de antanho. Por fim, Asdrúbal rendeu-se, prometendo que Cartago pagaria uma indenização de guerra durante cinquenta anos e que receberia de volta os aristocratas que tinham fugido para a corte de Masinissa. Ao abandonarem o acampamento, os soldados cartagineses foram atacados por um grupo de cavaleiros númidas liderados por Gulussa e muitos foram mortos. E impossível saber se o ataque foi premeditado ou se contou com o envolvimento de Masinissa, pois também se tem revelado impossível atribuir responsabilidades por massacres similares mais recentes. Asdrúbal e muitos dos seus oficiais escaparam incólumes. A capacidade de Cartago para criar um exército e travar uma guerra, ainda que sem êxito, confirmou os receios e suspeitas de Roma. O tratado de 201 proibia expressamente Cartago de declarar a guerra na África sem aprovação romana. Esta violação seria provavelmente suficiente para originar veementes protestos mas o Senado romano, mais experiente em diplomacia depois de cinquenta anos de envolvimento no mundo helenístico, procurava um pretexto para uma guerra aberta. Entretanto, foram iniciados os preparativos para uma grande invasão da África, mas sem declarar o seu propósito.
De modo característico, os Cartagineses tentaram deitar as culpas para o seu comandante no terreno e negar as suas responsabilidades pela guerra recente. Asdrúbal, Cartalão (o líder do partido popular) e vários outros oficiais foram condenados à morte. As tropas de Asdrúbal ter-se-ão mantido leais ao seu comandante, dado que, pouco depois, ele surge à frente de 30.000 homens. Foram enviados a Roma embaixadores para se queixarem da provocação de Masinissa e condenarem os oficiais púnicos que tinham irresponsavelmente entrado em guerra. A resposta romana foi observar que se as autoridades cartaginesas se tivessem verdadeiramente oposto à guerra teriam condenado os seus comandantes antes de eles passarem à ação. A delegação foi brindada com a frase cniptica de que Cantago devenia xdar satisfaçoes ao povo romano). Uma segunda embaixada não conseguiu descobrir o que queriam os Romanos dizer com aquilo

Nesta altura, Utica passou-se para os Romanos e os seus portos forneceram-lhes uma base ideal para atacar Cartago. Em 149, o Senado e os Comitia Centuriata aprovaram a declaração de guerra. Ambos os cônsules seriam enviados para África, Mânio Manilio no comando do exército e Lúcio Márcio Censorino à frente da esquadra. Tal como em 218 e 205-204, Os Romanos concentraram-se em Lilibeu, na Sicília, de onde embarcariam para África. Entretanto, Cartago enviou outra embaixada a Roma, e o Senado exigiu que 300 reféns, filhos das principais famílias nobres, fossem entregues em Lilibeu no prazo de trinta dias. Assim foi feito, apesar de o Senado apenas ter garantido aos Cartagineses o seu território e que seriam governados pelas suas próprias leis.

O fraseamento evitou cuidadosamente qualquer menção da cidade de Cartago, um subterfúgio semelhante à justificação técnica utilizada por Cipião, em 203, para romper as tréguas. Os reféns foram levados para Roma num grande “dezesseis”, um navio provavelmente confiscado a armada macedônica no fim da Terceira Guerra Macedónica. Não obstante a aceitação das exigências romanas por parte dos Cartagineses, os cônsules rumaram a Utica. Ainda sem certezas quando as intenções dos Romanos, Cartago enviou uma delegação aos cônsules, que a receberam com grande pompa, sentados numa tribuna, flanqueados pelos seus oficiais superiores e à frente do exército atrás, formado em parada. Foi uma exibição intimidadora do poderio de Roma, destinada a persuadir os embaixadores de que qualquer resistência às exigências dos cônsules seria infrutífera. Censorino, o primeiro a ser eleito pelos comícios e que era provavelmente o mais velho e o melhor orador dos dois, respondeu as indagações dos Cartagineses com a exigência de que a cidade deveria entregar todo o armamento que possuísse. Mais uma vez, apesar do seu nervosismo face a solicitação, os Cartagineses submeteram-se. Diz-se que entregaram 200.000 panóplias, 2.000 engenhos de guerra de torção e quantidades enormes de dardos, flechas e munições para catapulta. Como de costume, a fiabilidade destes números é discutível, sendo óbvio que as fontes romanas estariam dispostas a exagerar a condição militar da cidade que os Romanos se preparavam para destruir, mas não restam dúvidas de que grandes quantidades de armas foram entregues aos representantes de Roma. A chegada ao acampamento romano do comboio transportando estes equipamentos constituiu o preliminar para uma ordem ainda mais severa. Censonino informou os embaixadores de que os Cartagineses deveriam abandonar a cidade de Cartago. A população mudar-se-ia para uma nova urbe, que instalaria onde lhe aprouvesse, desde que fosse a pelo menos a 15km do mar. Cartago seria arrasada mas os santuários e cemitérios que lhe estavam associados ficariam intactos e os Cartagineses poderiam visitá-los. Foi um golpe devastador, pois a cidade era o centro físico, espiritual e emocional do Estado. E o corte da ligação de qualquer nova comunidade ao mar, durante tanto tempo fonte da riqueza púnica, duplicava a magnitude do desastre. Diz-se que Censorino recorreu a argumentos platônicos para sustentar a opinião de que o mar exercia uma influência malsã sobre a vida politica e social das cidades. No fim, os embaixadores foram grosseiramente postos a andar pelos lictores dos cônsules. No entanto, prometeram apresentar os termos ao seu governo e até sugeriram que a esquadra romana fizesse uma demonstração de força na baia da cidade para recordar aos cidadãos a alternativa à aceitação das exigências romanas. Os rumores tinham-se espalhado rapidamente em Cartago, e uma multidão ansiosa rodeou os embaixadores quando eles entraram na cidade e ficaram a espera para apresentarem o seu relatório ao Conselho dos 104. A exigência romana foi imediatamente rejeitada. Os homens que tinham apelado a conciliação de Roma foram linchados, bem como alguns infelizes mercadores italianos que se encontravam na cidade. Os escravos foram libertados e recrutados para o exército, Asdrúbal foi perdoado e foram-lhe enviadas mensagens implorando-lhe que auxiliasse os seus ingratos concidadãos. Outro Asdrúbal, filho de uma das filhas de Masinissa – mais um exemplo dos fortes laços existentes entre as nobrezas cartaginesa e númida – recebeu o comando na própria cidade de Cartago. Desta vez, os cidadãos púnicos, na sua totalidade, empenharam-se de corpo e alma no esforço de guerra. Produziram-se rapidamente armas, e as mulheres sacrificaram os seus longos cabelos para cordas para as catapultas de torção. A Terceira Guerra Púnica tinha começado. Os Romanos ficaram algo surpreendidos com o fato de os Cartagineses decidirem lutar depois de se terem submetido docilmente a cada uma das suas escandalosas exigências. Os Romanos tinham dado mostras de um cinismo extremo, dissimulando as suas intenções de destruírem a cidade enquanto extorquiam o máximo possível de concessões. Cartago, desprevenida e desarmada, parecia à sua mercê. A verdade é que a guerra se arrastaria até ao ano de 146 e se revelaria muito mais difícil do que os cônsules esperavam.
Ao final as tropas romanas venceram o inimigo em 146 a.C., alcançaram a cidade e obrigaram a todos que ali estavam a sair. Existe a lenda de que foi jogado sal no espaço para que nenhuma outra coisa voltasse a crescer ali, mas isso na verdade não foi contado por romanos, mas sim por cartagineses.
No mesmo ano, os romanos terminaram de conquistar a Grécia e destruíram a cidade de Corintios.
As lutas civis durante a República Romana
O regime aristocrático de governo predominante durante o período republicano foi incapaz de administrar o imenso território conquistado pelo exército romano.
O senado continuava exercendo o monopólio sobre as principais decisões políticas, excluindo do poder a grande massa de habitantes das províncias. A passagem do regime republicano ao imperial foi marcada, portando, por uma série crise econômica e social proveniente do próprio movimento expansionista.
As disputas pelo poder político em Roma tiveram início com as propostas de reforma apresentadas pelos irmãos Tibério e Caio Graco, eleitos tribunos da plebe em 133 e 123 a.C., respectivamente. Tibério apresentou uma ousada proposta de reforma agrária, causando uma forte reação por parte da aristocracia patrícia, que mandou assassiná-lo juntamente com muitos de seus seguidores. Caio Graco, inspirado na concepção de democracia ateniense, procurou transferir as decisões políticas da esfera exclusiva do senado para a Assembléia popular. Seu destino, no entanto, não foi muito diferente do de seu irmão, pois uma nova repressão aristocrática pôs fim às idéias reformistas, levando-o a cometer suicídio.
O conflito entre os anseios da camada popular e dos membros da aristocracia prossegue. Após a morte dos irmãos Graco, a disputa entre Mário – cônsul da República, chefe do partido popular – e Sila – representante do senado – expressava a intensificação das lutas políticas. Mais uma vez, na história da política republicana, predominava a força da elite conservadora e Sila tornou-se ditador da República.
Durante o governo de Sila, a aristocracia consolidava seu poder, a medida que o ditador limitava o poder dos tribunos da plebe. Os plebeus responderam prontamente através de uma nova revolta, desta feita liderada por Catilina, senador de grande prestígio popular, o qual representava os interesses desta camada social. No entanto, o orador Cícero (cônsul da República) através de inflamados discursos denunciou a conspiração de Catilina, acusando-o de tentar um golpe de estado e transformando-o em inimigo de Roma.
Os triunviratos
Diante do grave quadro de crise política, três líderes populares, Pompeu, Crasso e Júlio César, impuseram-se diante do senado estabelecendo um acordo político (60 a.C.) o Primeiro Triunvirato. Após a morte de um dos triúnviros, Crasso, em 53 a.C., os outros dois Pompeu e Júlio César, lutaram pelo exercício do poder pessoal. Contando com o apoio popular (possuía muito prestígio junto à Plebe), César venceu Pompeu e tornou-se ditador da república romana.
César possuía plenos poderes, e seu governo indicava uma forte tendência à monarquia. No sentido de atender aos anseios da plebe, realizou um conjunto de reformas sociais ferindo os interesses da classe dominante. Ele procurou unificar o mundo romano ampliando o direito à cidadania romana aos habitantes das províncias; promoveu a fundação de várias colônias fora da Itália; reformou o calendário romano utilizando seu nome para designar o sétimo mês (daí a denominação Julho); organizou as finanças públicas, proibindo o abuso do luxo, e construiu diversas obras públicas (estradas em todos os domínios do Império, melhorias em Roma, drenagens dos pântanos, etc.). Dentre as novas leis que atingiam diretamente os privilégios da aristocracia, devemos destacar a obrigação de os proprietários empregarem pelo menos um terço dos homens livres em suas terras e a introdução de cidadãos estrangeiros no senado.



A aristocracia romana, despojada de muitos de seus privilégios e temendo que César concentrasse o poder em suas mãos, tornando-se imperador, resolveu assassiná-lo, procurando restaurar o regime republicano. Contudo, a morte de Júlio César revolto a camada popular, tornando ainda mais acirrada a disputa entre os defensores de um governo pessoal e absoluto e aqueles que defendiam a restauração da republica. Os responsáveis pelo assassinato de César – os republicanos Cássio e Brutus – tentaram tomar o poder, mas foram impedidos por Marco Antônio, importante líder “cesarista” que instigava a massa plebéia contra o senado, evitando a conspiração restauradora.

Nesse contexto, formou-se o segundo triunvirato, composto por Marco Antônio, Lépido e Otávio, que dividem o governo das províncias entre si: Marco Antônio comandaria o Oriente; Otávio, o ocidente; e Lépido, a África. No entanto, a rivalidade entre os triúnviros logo provoca a passagem da ditadura coletiva para a ditadura pessoal e, consequentemente, desta para a instauração da Monarquia. Lépido é afastado pelas forças de Otávio, rompendo o equilíbrio do poder e gerando o confronto com Marco Antônio. Este rompeu definitivamente com Otávio e, ao se aliar com Cleópatra no Egito, fortaleceu sua base militar no Oriente.

Otávio, visando tomar o Egito, fortalece seu exército e inicia uma campanha para derrotar Marco Antônio. Durante a batalha Naval de Cio, 31 a.C., Otávio consegue finalmente afastar o último dos seus oponentes, tornando-se senhor absoluto de Roma.
Otávio manteve as instituições republicanas, mas reduziu o poder do senado e das Magistraturas. Desta forma, Otávio consolida seu poder pessoal sobre o estado e, ao receber do senado o título de Augusto (significa sagrado, divino), torna-se definitivamente o primeiro imperador romano em 27 a.C.
Júlios Claudianos

Todos estavam cansados de tanta matança e assassinato. E todos tinham medo de Otávio. Então governando com poderes parecidos com os dos antigos reis de Roma, ninguém tentou impedi-lo. Ele fez o povo chama-lo de “Augusto” (que significa o bom) ao invés de Otávio. Augusto não chamou a si mesmo de ditador como seu tio Julio Cesar havia feito, mas de “princips” (primeiro cidadão). Ele não desmobilizou o Senado, mas o fez aprovar todas as reformas que quis. E fez a si mesmo um Tribuno, assim poderia vetar qualquer coisa que o Senado aprovasse e que lhe desagradasse.
Augusto viveu um longo tempo, até 14 d.C. Seu genro Tiberio, assumiu o cargo de princips após a sua morte. Tibério nem de longe lembrava a genialidade da administração de Augusto. E gastava seu tempo nadando e realizando grandes festas, deixando boa parte do trabalho para seus assistentes. Mas aos olhos do povo esta situação era melhor do que a guerra civil.
Tiberio morre em 37 d.C., e seu sobrinho Germanicus Gaius, que era melhor conhecido como Caligula(apelido dado em razão de sua sandália), assume o poder. Caligula não era mal no inicio, mas ao que relata a história sofria de distúrbios mentais. Após atos como nomear como senador seu cavalo e tentar casar-se com sua irmã em 41 d.C., o povo se volta contra ele e é morto pela sua própria guarda. Foi sucedido por Claudio. E após a sua morte por Nero.
Nero tornou-se imperador romano em 13 de outubro de 54, numa época de grande esplendor do Império Romano. Nos cinco primeiros anos de seu governo, Nero mostrou-se um bom administrador. Na política, usou a violência e as armas para combater e eliminar as revoltas que aconteciam em algumas províncias do império. No tocante às guerras de expansão, Nero demonstrou pouco interesse. De acordo com os historiadores da antiguidade, empreendeu apenas algumas incursões militares na região da atual Armênia. Suas decisões políticas, militares e econômicas eram fortemente influenciadas por algumas figuras próximas. Entre elas, podemos citar sua mãe, Agripina, e seu tutor, Lucio Sêneca. O que mais marcou a história de Nero foi o caso do incêndio que destruiu parte da cidade de Roma, no ano de 64. Porém, de acordo com alguns historiadores, não é certa a responsabilidade de Nero pelo incidente. O imperador estava em Anzio no momento do incidente e retornou à Roma ao saber do incêndio. Os que apontam Nero como culpado baseiam-se nos relatos de Tácito. Este afirma que havia rumores de que Nero ficou cantando e tocando lira enquanto a cidade queimava.
O fato é que Nero culpou e ordenou perseguição aos cristãos, acusados por ele de serem os responsáveis pelo incêndio. Muitos foram capturados e jogados no Coliseu para serem devorados pelas feras. 
Além deste episódio, outros colaboraram para a fama de imperador violento e desequilibrado. No ano de 55, Nero matou o filho do ex-imperador Cláudio. Em 59, ordenou o assassinato de sua mãe Agripina.Nero se suicidou em Roma, no dia 6 de junho de 68, colocando fim a dinastia Julio-Claudiana.
O ano dos 4 imperadores


                            
  
Galba                            Otho


Vitellius
Com o fim da família de Augusto, alguns pensaram que a República voltaria. Mas o medo da guerra civil ainda estava muito presente então, não havia espaço para tentativas muito ousadas. Com o suicídio de Nero, o governador da Espanha Galba, decidiu tornar-se imperador. Mas quase que imediatamente em 69 d.C., o governador da Alemanha, Vitellius também marchou em direção a Roma para reivindicar o titulo. Os planos de Galba não chegaram a se concretizar nem pela metade, pois foi assassinado por um de seus homens, chamado Otho. Otho assumiu o império, mas ainda tinha que lidar com Vitellius em batalha. Os dois se enfrentam com seus exércitos, e Vitellius vence. Vitellius é mais lembrado por sua reputação de ser um grande glutão (comilão)do que pelo governo. Naquele momento a maioria das tropas romanas estava estacionada na parte leste e oeste da Asia e resolvem apoiar a indicação do general Vespasiano ao cargo. Em 69 d.C., um dos amigos de Vespasiano enfrenta Vitellius e o mata. Vespasiano torna-se imperador. 4 diferentes imperadores em um mesmo ano !


Vespasiano
Flavianos
Vespasiano finalmente deixou o Oeste da Asia e navegou para Roma na primavera de 70 d.C. Ele tornou-se um bom imperador, favorecendo especialmente ao exercito. Ele era popular e reservado e não gastava dinheiro como os anteriores imperadores. Então o império acumulou uma enorme quantia nos cofres. Vespasiano foi imperador por 10 anos, em morreu em sua cama no ano de 79 d.C. Quando ele morreu, segundo relatos teria dito:” Oh meu deus, eu acho que estou virando um deus!”
Quando Vespasiano morreu, seu filho mais velho Tito, assumiu o império. Quase que imediatamente Tito, teve que lidar com uma questão importante que foi a erupção vulcânica que soterrou Pompéia. Tito enfrentou problemas com o Senado devido a sua paixão por uma mulher judia de nome Berenice, que era uma princesa, mas não era romana. Tito esmagou uma revolta judia em Israel e destruiu o grande templo de Jerusalém. Mas no geral é lembrado como um bom imperador. Ele morreu jovem, no ano de 81 d.C., após governar por três anos.
Tito não tinha filhos, então seu irmão mais novo Domiciano tornou-se imperador. Domiciano era invejoso e sempre considerou que seu pai Vespasiano amou  mais a Tito do que a ele. Como imperador tornou-se paranóico e achava que todos tramavam contra ele. Assim muitos senadores foram acusados injustamente e assassinados. Ele assim como Nero, perseguiu ferozmente os cristãos. Ele denominava-se “dominus et deus” (senhor e deus). No fim o povo cansou de seus desmandos e ele foi assassinado em 96 d.C.
Após o assassinato de Domiciano, o senado para evitar uma guerra civil escolheu entre si um novo imperador. Eles escolheram Nerva, que era um homem velho, sem filhos e que com toda certeza não deixaria o trono nas mãos de um sucessor sanguineo. Em 98 d.C., ele morreu após somente dois anos no poder. Mas deixou um nova forma de escolha para o cargo. Ele escolheu alguém que tinha executado um bom trabalho em alguma área política ou militar e o adotou como filho.

Nerva
O homem que Nerva adotou foi Trajano. Trajano levou o exercito romano a uma nova conquista contra o exercito da Dácia. A Dácia era cobiçada a tempos pelos romanos pela sua quantidade de ouro. Trajano também não tinha filhos e adotou como seu sobrinho Adriano.

Adriano
Adriano manteve a paz em Roma, utilizando de diplomacia. Quando Adriano morreu em 134 d.C., seu filho adotado Antonio tornou-se imperador. Antonio é também chamado “ Antonio Pio”, em razão do seu interesse pela religião. Assim como seus sucessores Antonio, escolheu e adotou uma pessoa como seu filho para reinar quando ele morresse. Antonio escolheu um homem crescido, chamado Marco Aurelio.

Antonio Pio
Severos
Marco Aurelio, adotou alguém para lhe suceder. Seu filho se chamava Comodo, e quando Marco Aurelio morreu em 180 d.C., passou a comandar o Império Romano. Mas Comodo, como os Julio Claudianos ou como Domiciano, havia crescido na corte e se preocupava muito mais em aproveitar a vida do que governar. Ainda assim um ponto positivo de seu governo, foi a negociação de paz com os bárbaros germânicos. Mas quando depois da negociação ele retorna para Roma, sua irmã Lucilla com ajuda de alguns senadores tenta mata-lo. Comodo torna-se paranóico como Domiciano e assassina vários senadores e pessoas do povo por desconfiança. No final é assassinado pelos seus amigos mais próximos. O caos volta a reinar, sem que se saiba quem pode mesmo governar.
Em 193 d.C., um Africano de nome Séptimo Severo, que era general romano na região tornou-se imperador com o apoio do exercito. Ele acaba derrotando os outros candidatos e sua ameaça mais séria, Clodius Albinus também africano e governador da Bretanha.

Séptimo Severo
Septimo Severo morre em 211 d.C. Ele deixa no comando do império seus dois filhos, Caracala e Geta. Deixa a instrução para um cuide do outro, do exército e não lutem entre si.
A crise do terceiro século
Em 200 d.C., (terceiro século), o Império Romano passava por um periodo difícil. Os motivos podem ser citados com os constantes ataques  a oeste e norte por tribos bárbaras. Era muito caro manter o exército e enfrentar as duas ameaças. Também havia um aumento significativo das taxas o que deixava a plebe muito insatisfeita. Essa insatisfação acabou gerando revoltas. Por causa da irregularidade no poder, pois muitos imperadores acabavam morrendo com traições ou nas batalhas, os governos passaram a ser muito curtos e inexpressivos.
Por volta do ano 280 d.C., os ataques cessaram em número no leste, e o império romano pode concentrar esforços na luta no norte, contra as tribos germânicas. Mas na mesma época surgiram revoltas dentro do império. Essas revoltas foram eliminadas por um jovem e talentoso imperador chamado Deocleciano. Deocleciano subiu ao trono em 284 d.C., e como outros imperadores era também um general. Deocleciano propôs e pôs em pratica uma divisão de poder em que haveria dois imperadores e este contariam com dois assistentes diretos. Este sistema é a chamada “tetrarquia” ou governo dos quatro. Quando um imperador morria, o assistente tornava-se imperador e escolhia um novo assistente

Deocleciano
A tetrarquia de Deocleciano funcionou muito bem por volta de 20 anos. Mas em 306 d.C., um dos imperadores, Constantino morreu e deveria ser sucedido pelo seu assistente Severo. Mas ele tinha um filho que também se chamava Constantino, que declara guerra contra Severo quando o pai morre pelo poder.
Em uma das batalhas em 312 d.C., Constantino enfrentaria o próprio genro, Maxentius. A batalha aconteceria as portas de Roma. As tropas de Constantino estavam e menor número. A noite antes da batalha Constantino, teria tido uma visão com um símbolo cristão. No sonho uma voz lhe dizia “ in hoc signo vinces” (com este símbolo vencerá). De acordo com a historia Constantino, na manhã seguinte teria visto cruzando o céu um objeto que desenhou em sua trajetória o mesmo símbolo. Imediatamente Constantino mandou que os soldados pintassem nos escudos o símbolo e partiu para  a batalha vencendo-a. Constantino estava muito impressionado com o poder do deus Cristão e tornou-se cristão e fez do cristianismo a religião oficial de Roma. Em 324 d.C., Constantino matou todos os seus adversários e no mesmo ano fundou uma capital no leste em Constantinopla. A ideia era poder se deslocar mais rapidamente ao centro da batalha no leste ou no norte sem dividir as forças.
A queda

O Império Romano do Ocidente resistia há mais de um século aos ataques dos seus inimigos exteriores,mas as suas fronteiras do Reno e do Danúbio permaneciam incólumes, apesar dos inúmeros sinais que profetizavam apróxima catástrofe. Nesta altura, era visívela miséria e degradação que reinavam nas províncias, esgotadas pelomantimento dos exércitos e pela vida fausta dos imperadores. Entre os sintomas mais graves da ruína, contavase: a diminuição da população e, consequentemente, dos contribuintes e dos possíveis soldados; o número cada vez maior de terras ermas, abandonadas pelos seus proprietários ou  cultivadores para escapar às exigências do fisco; osconstantes  motins ou insurreições, tanto no campo como nas grandes cidades. Recentemente  descobriu-se que,provavelmente, uma epidemia de malária pode ter enfraquecido a população romana na Itália e dizimado muitas vidas.
A penúria   agravava-se com as guerras civis e a rapacidade dos tiranos; mas, sobretudo, pelas incursões dos bárbaros,que aproveitavam todas as ocasiões para entrar em domínios de Roma e saquear as províncias. Entre os povos”bárbaros”,  destacam-se os Francos e Alamanos na fronteira das Gálias, os Pictos e Escotos na Bretanha,  os piratas saxões em ambas as costas; os Quados, Sármatas e, sobretudo, os Godos no Danúbio, que penetravam na Panónia eMésia, chegando até à Macedónia e Trácia.
A política, inaugurada pelo próprio Augusto, de estabelecer colónias bárbaras dentro dos limites do Império e formar com elas grande parte dos exércitos romanos, teve como resultado a sua influência crescente, que se revela nos nomes de Arbogasto, Estilicão e Rufino. Destes bárbaros, estabelecidos no Império, partiram os primeiros ataques contra Roma. Os Visigodos, estabeleceram-se a sul do Danúbio com Teodósio. Dirigidos por Alarico e em nome do imperador do Oriente, ocuparam o Ilírico e a partir daí desolaram a Grécia, que pertencia ao Império Ocidental. Em 396, Alarico, perante o general de Honório, Estilicão, retirou-se novamente para a Ilíria e no ano 400 mudou-se com todo o seu povo para o Sul dos Alpes depois da terrível batalha de Pollentia, deixou a Itália até ao ano de 408, ano em que, sem qualquer oposição, marchou contra Roma, que só pode salvar-se mediante um forte resgate. Como as suas exigências, bastante moderadas, não foram atendidas por Honório, voltou a atacar Roma e obrigou Augusto a declarar guerra ao grego Átalo, tornando-se Alarico o seu comandante-em-chefe. Poucos meses depois, depôs o inapto Átalo e sitiou e saqueou Roma (410). O seu sucessor, Ataúlfo, guiou os Visigodos para as Gálias. Esta sucessão de eventos demonstra a anarquia reinante no Oeste, permitindo a Ataulfo lutar nas Gálias a favor de Honório e contra os Francos e, em Espanha, contra os Vândalos, Suevos e Alanos. Finalmente, Vália, sucessor de Ataulfo, estabeleceu-se na Gália ocidental com o consentimento de Honório, e fundou a monarquia visigótica. Nesta altura, também sob a égide imperial, a Espanha dividiu-se entre godos, suevos, vândalos e alanos. Estes últimos cruzaram o Reno e foram vencidos em Itália por Estilicão, tendo penetrado na Península Ibérica, até então livre de invasões, através das Gálias.
Honório morreu no ano 423. As províncias, à exceção da Bretanha, não tinham cortado formalmente os laços com o Império. A autoridade deste era simplesmente nominal e nas províncias estavam já em processo de formação os novos estados bárbaros. Ao longo do reinado de Valentiniano III, que sucedeu a Honório, destacam-se o estabelecimento dos Vândalos em África e a invasão dos Hunos de Átila. Os primeiros foram chamados pelo conde de África, Bonifácio, pelo ódio que nutria por Aício, conde de Itália, e em 440 tinham-se fixado definitivamente naquela região, se bem que reconhecessem a autoridade de Roma. Em 451, Átila invade as Gálias, acompanhado por tribos germânicas do Reno e do Danúbio, mas foi detido em Châlons pelos Visigodos e Romanos, unidos, a mando de Aécio, e teve que retirar-se para Panónia, a partir de onde, no ano seguinte, invadiu a Lombardia. Com o assassinato de Valentiniano III (455), o ramo ocidental da família de Teodósio extinguiu-se. Contra o assassino Petronio Máximo, a imperatriz Eudóxia chamou os Vândalos de África, que não só mataram Máximo como também assolaram Roma. Principalmente devido à prisão do rei visigodo Teodorico II, Avito foi nomeado para o trono (455-456), mas o poder foi exercido pelo suevo Recimero, o qual nomeou e destronou imperadores de acordo com os seus caprichos; primeiro Majoriano (457-461), seguidamente, após as suspeitas pelo seu empenho em restabelecer o prestígio do Império, Libio Severo (461-465); depois de um interregno de dois anos, seguiu-se Antémio (467-472), e, finalmente, em 472, por pouco tempo, Olíbrio. Com a morte de Recimero e de Olíbrio (472), seguiram-se Glicério (473), Júlio Nepos (474-475) e, por fim, Rómulo Augústulo.
Porém os povos germânios, que exigiam uma terça parte das terras italianas, insurgiram-se contra Orestes e puseram à sua frente Odoacro, rei dos Hérulos, que obrigou Rómulo Augústulo (476) a retirar-se e fez-se proclamar rei da Itália. Os povos vieram com ele e fixaram residência em Itália, sendo-lhes distribuído um terço das terras. Todo o ocidente do Império caiu na posse dos povos germânicos. Este acontecimento acabou por determinar as mudanças operadas no resto do Império. Em Espanha, Gália e África foram estabelecidos novos reinos bárbaros, mas em Itália continuou a reconhecer-se a supremacia do imperador de Constantinopla. O novo rei, por outro lado, foi investido da dignidade patrícia que antes dele tinham ostentado Aécio e Recimero.
As leis, a administração e a língua continuaram romanas, no entanto, a emancipação da Itália e de todo o Ocidente da influência imperial direta é considerada, com razão, como acontecimento que assinala a abertura de uma nova era. Este evento tornou possível o desenvolvimento da cultura germano-romana, facilitou o nascimento de diversos estados e nacionalidades, deu novo impulso à influência da Igreja cristã e levou à criação dos fundamentos do poder dos Pontífices.
Mesmo com o fim do Império romano ocidental, o Império Oriental ou Bizantino não caiu, mas os turcos otomanos, em plena ascensão, conquistaram o a Ásia Menor bizantina no princípio do século XIV. Depois de 1354, ocuparam os Balcãs e finalmente tomaram Constantinopla, o que representou o fim do Império Oriental em 1453.

Estudos sobre a Civilização Romana: "Os Etruscos"

Olá, é sempre bom ver você de volta ao nosso blog. Continuando a nossa ideia, vamos hoje discutir um assunto, que em sala de aula infelizmente não teremos tempo suficiente de discutir. Como você se lembra, neste inicio de ano, estamos realizando uma revisão a respeito da Civilização Romana. Um ponto importante dessa revisão é a luta dos romanos contra outros povos, o que acaba consolidando naquele civilização a experiência e ideia da conquista e supremacia como meio de existência. Vamos então antes de avançar e falar mais um pouco sobre os romanos, falar sobre os Etruscos. A fonte de nossa fala aqui hoje é resultado do trabalho de pesquisa de uma outra professora e historiadora chamada Valéria Pereira. O trabalho da colega historiadora é impressionante e rico em fontes que vão nos ajudar a entender melhor este povo, assim como os romanos.
Os Etruscos foram um povo antigo, cuja origem muito já foi discutido e continua-se a discutir ainda hoje. Muitas são as teorias a respeito. Segundo Heródoto (considerado o pai da História), eles seriam provenientes da Lídia (antiga região histórica e reino da Idade do Ferro localizada na Anatólia Ocidental, na Ásia Menor, em terras pertencentes hoje à Turquia). Segundo Dioniso de Halicarnasso seriam autóctones, isto é, da própria Itália. Alguns os consideravam descendentes dos antigos Sardos (os Šardana), os quais, entre os séculos XII e IX a.C. se estabeleceram nas costas da península italiana, fundando mais tarde algumas colônias, como Vetulonia, Populonia e Vulci. Mas, para outros estudiosos de etruscologia a hipótese mais convincente ainda é a vilanoviana, segundo a qual as raízes proto-históricas dos Etruscos remontariam a uma antiga civilização que habitava os locais que mais tarde iriam constituir a Etrúria.

mapa da Etruria
A civilização vilanoviana é assim chamada pelo fato de as primeiras descobertas arqueológicas terem ocorrido em Villanova, localidade próxima a Bolonha(Itália). Essa cultura, a partir de uma fase específica de seu desenvolvimento, a fase chamada “orientalizante”, não é mais denominada civilização vilanoviana e sim civilização etrusca.

Tumba dos Relevos, Necrópoles de Banditaccia, Cerveteri, Itália.


Mas o que é essa fase “orientalizante” ?

Os etruscos foram fortemente influenciados pelos Gregos antigos. Alguns estudiosos definem o século VIII a.C. como o período ‘orientalizante’ da história etrusca, referindo-se à influência proveniente do Oriente Próximo. Os períodos posteriores são chamados de Clássico e Helenístico, segundo os estilos da arte grega . Em sua própria língua os Etruscos, chamavam-se Rasenna ou Rasna, em grego Tyrsenoi, que tomaram o significado de “Tirrenos” e mais tarde “Etruscos”, isto é, habitantes da ΤυρσηνίηTürsenie ou Etrúria.


vaso Etrusco

Os Etruscos também adotaram uma forma do alfabeto grego e elementos de sua mitologia, incluindo deuses do panteão grego.
Estela funerária com inscrição em etrusco.
Documentos etruscos

Os gregos também influenciaram a cerâmica etrusca em muitos aspectos, introduzindo o próprio vasilhame e permutando-o com outras mercadorias. Ceramistas gregos dirigiram-se à Magna Grécia e à Etrúria, onde ensinaram artesãos e artistas locais suas técnicas e habilidades. Alguns se estabeleceram na península italiana, onde continuaram a produzir e decorar vasos segundo seu próprio estilo. Também introduziram o torno veloz e técnicas de cozimento das cerâmicas em alta temperatura em fornos mais avançados.


A Magna Grécia


Inúmeras colônias foram fundadas nas costas meridionais da península italiana e na Sicília no século VIII a.C., tanto que os escritores romanos antigos denominaram esta área Magna Grecia ou Grande Grécia. Os colonos gregos trouxeram consigo a cultura helênica, inclusive suas tradições religiosas e mitos.
Abaixo podemos ver em que local ficavam as antigas colônias e onde se localizam hoje na Itália:

Colônias gregas (Calábria)
Atualmente localizada no território comunal (municipal) de:
Rhegion, Rhegium
Reggio Calabria
Locri Epizefiri 
Portigliola 
Kroton 
Crotone 
Kaulon 
Monasterace 
Sybaris 
Sibari 
Petelia 
Strongoli 
Krimisa 
Cirò 
Hipponion 
Vibo Valentia 
Metauros 
Gioia Tauro 
Medma 
Rosarno 
Laos 
Santa Maria del Cedro 
Thurii 
Thurio 
Temesa 
Amantea 
Terina 
Lamezia Terme 
Scolacium 
Borgia 

Colônia grega (Campania)
Atualmente localizada no território comunal (municipal) de:
Pitecusa                                   
Ischia 
Kyme                                        
Cuma 
Parthenope                              
Nápoles 
Dikaiarcheia 
Pozzuoli 
Neapolis 
Nápoles 

Colônia (Campania meridional)             
Atualmente localizada no território comunal (municipal) de:
Poseidonia – Paestum 
Capaccio – Paestum 
Elea – Velia 




Pixunte


Palinuro e Molpa               
Ascea / Moio della Civitella (phrourion,isto é, posto defensivo, de Elea) 


Santa Marina


Centola

Colônia (Lucania – atual Basilicata)
Atualmente localizada no território comunal (municipal) de:
Metapontion, Metapontum 
Metaponto 
Siris 
Policoro/Nova Siri 
Heraclea 
Policoro 
Pandosia 
Tursi (fração Anglona) 
Pistoicos 
Pisticci 
Troilia, Obelanon 
Ferrandina 

Colônia (Puglia)
Atualmente localizada no território comunal (municipal) de:
Taras, Tarentum 
Taranto 
Sidion – Silvium 
Gravina 
Canusion – Canusium 
Canosa 
Kallipolis 
Gallipoli 
Apeneste 
Vieste 
Matinum 
Mattinata 
Argyrippa – Arpi 
Foggia 

Colônias gregas não pertencentes à Magna Grecia
Colônia
Atualmente localizada no território comunal (municipal) de:
Ankon, Ancona     
Ancona 
Adria 
Adria 
Teate, Chieti 
Chieti 
Muitos daqueles gregos que chegaram às costas meridionais da península e à Etrúria eram mercadores que traziam mercadorias gregas para vender ou permutar (trocas por valor ou uso equivalente) com produtos etruscos. Este comércio contribuiu para a difusão de idéias e costumes diversos.

As primeiras civilizações conhecidas na Itália são a de terramar (1500 a.C.) e a vilanoviana (1.000 a.C.)desenvolvidas no norte (vale do rio Pó) no final da pré-história. A área ocupada pelos Etruscos  localiza-se entre os rios Tibre (Roma) e Arno (Florença) , o mar Tirreno (oeste da Itália), a planície do rio Pó (norte da Itália) e o mar Adriático (leste).
A economia etrusca se baseia no comércio através do mar Mediterrâneo. A concorrência dos gregos e dos fenícios provocou sua crise econômica. Sem poder comerciar através do mar, dedicaram-se à agricultura, menos rendosa. A partir do séc. III a.C. serão absorvidos pela cultura romana.


“É na verdade impressionante constatar que, por duas vezes, no século VII a.C. e no século XV d.C., praticamente a mesma região da Itália central, a Etrúria antiga e a Toscana moderna, tenha sido o centro determinante da civilização italiana”.
(James Heurgon, A vida cotidiana dos etruscos, 1967).
A documentação arqueológica da primeira fase do vilanoviano poderia dar a impressão de uma sociedade que tendia ao igualitarismo. A simplicidade das evidências funerárias poderia, porém, não espelhar fielmente a sociedade, mas estar determinada pelas ideologias religiosas e funerárias. Em todo caso, mesmo no período vilanoviano mais antigo, não faltam descobertas que trazem signos de diferenciações sociais.
Vaso ossuário em bronze com elmo datado do séc. IX a.C., Museo Archeologico Nazionale de Florença, Itália.



Cratera com tampa, 725-700 a.C.
Em Tarquínia, por exemplo, na necrópole de Poggio Selciatello, foram encontrados alguns sepultamentos, masculinos e femininos, com enxovais funerários particularmente significativos pela qualidade ou quantidade dos elementos. Em alguns sepultamentos masculinos do século IX a.C. (em Bolonha, Tarquínia, Cerveteri e Veios) foram encontradas hastes de bronze ou de osso que foram interpretadas como “cetros”, ou seja atributos de prestígio e relativos à função do defunto. Outros arqueólogos observaram (por exemplo, Jean-Paul Thuillier) que as formas de povoamento do vilanoviano, caracterizadas pelo deslocamento em direção a planícies e colinas e pela centralização dos indivíduos em vilarejos maiores do que os do período anterior, parecem corresponder a um verdadeiro projeto político, o que evidencia a existência de chefes no âmbito destas comunidades.
Diferenciação social
Espelho etrusco em bronze, séc. IV a.C., Coleção George Ortiz.

A partir do início do século VIII a.C. encontram-se traços de uma diferenciação social que marcam o surgimento da aristocracia. Encontram-se sepultamentos, seja urnas cinerárias (cinzas) ou inumação (enterro, rito este que, especialmente no sul da Etrúria, tende a substituir a incineração) que se destacam pela riqueza dos enxovais masculinos e femininos. Os sepultamentos são marcados pelo aumento de ornamentos pessoais e pela qualidade ou pelas grandes quantidades de vasilhame de argila ou bronze.

                                                                  Guerreiro de bronze


Os objetos também evidenciam trocas entre as comunidades vilanovianas e de outras culturas. Além de objetos vindos do Lácio e de outras regiões, inclusive da Sardenha, encontram-se objetos gregos e orientais (Síria, Fenícia, Egito). Os enxovais das tumbas por inumação, em geral, são mais ricos do que os relacionados à cremação. Aumentam também de forma relevante as urnas em forma de cabana.
As sepulturas masculinas de maior prestígio apresentam arreios de cavalos, carruagens em miniatura, elmos, escudos, espadas, lanças e machados. As miniaturas de carruagens são encontradas também nas sepulturas femininas das mais altas hierarquias, as quais se caracterizam pela enorme quantidade e qualidade dos instrumentos para fiar tecidos e enfeites pessoais. 



Carruagem etrusca de bronze e marfim, 550-525 a.C., Metropolitan Museum, Nova York.
A tipologia de tumbas e rituais, embora na mesma época e lugar, é muito variada. As tumbas com aposentos contendo várias sepulturas (Populonia) e as tumbas circulares de pedra (Vetulonia), parecem evidenciar, junto aos indivíduos, a família e os grupos familiares, que são identificado pela ocupação de determinados setores das necrópoles e pelo caráter comunitário dos enxovais e rituais.
Necrópoles de Populonia.
EXPANSÃO DA CIVILIZAÇÃO ETRUSCA

O máximo de prosperidade e de expansão foi atingido pelos Etruscos por volta de meados do século VI a.C.
Acerca de 540 a.C., os etruscos de Cerveteri, aliados dos Cartagineses, derrotaram, na batalha de Alalia, diante da Córsega, os gregos foceenses de Marselha, na época, os mais poderosos navegantes marítimos.




Nesse período, os Etruscos conseguiram estabelecer sua hegemonia sobre toda a península itálica, no Mar Tirreno, graças à sua aliança com Cartago, e sobre o Mediterrâneo Ocidental.





EXPANSÃO NO NORTE E SUL

No início os Etruscos ocupavam a fértil faixa costeira da Toscana e as áreas em torno aos montes Apeninos, entre Bolonha e Volterra.
Praticavam a agricultura e recuperaram muitas áreas pantanosas, tornando os terrenos cultiváveis. Mais tarde estenderam seus territórios sobre o Lácio e sobre a Planície do Rio Pó (Pianura Padana).
Sua atividade principal era a produção de metais, que extraiam das minas. Os etruscos foram os maiores produtores de ferro do Mediterrâneo. Com os metais, criavam objetos muito apreciados pelos outros povos mediterrânicos.Desenvolveram, assim, o comércio marítimo de seus produtos manufaturados.
Cavalo de metal etrusco, da cidade de Vietri.
Cidades como Cerveteri, Vulci e Tarquínia passaram a controlar o comércio no Mar Tirreno.


Maçaneta etrusca em metal, Metropolitan Museum of Art, N. York.
A Língua etrusca 

O etrusco foi uma língua falada e escrita em diversas zonas da Itália, e precisamente na antiga região da Etrúria (atuais Toscana, Úmbria ocidental e norte do Lácio), na planície padana (atuais Lombardia e Emília-Romagna), de onde os Etruscos foram expulsos sucessivamente pelos Gauleses e mais tarde absorvidos pelos Samnitas.
Inscrição etrusca encontrada em Perúgia, ca. séc. III-II a.C. Museo Archeologico de Perúgia, Itália. A inscrição relata um acordo entre as famílias dos Velthina e dos Afuna, acerca das formas do uso comum de uma propriedade que incluía uma tumba da família Velthina.  

No entanto, o Latim substituiu completamente o etrusco, deixando apenas alguns documentos e muitos empréstimos linguísticos ao latim (como, por exemplo, persona [pessoa], do etrusco  φersu), e inúmeros nomes de locais – como Tarquínia, Volterra, Perúgia, Mântova [Mântua], e mais ou menos todos os topônimos que terminam em “-ena”, como Cesena, Bolsena, etc.


Alfabeto etrusco.

Outros exemplos de termos de provável origem etrusca são:atrium (corte ou tribunal), fullo (pleno), histrio (ator),lanista (instrutor de gladiadores), miles (um, uma), mundus(mundo, mundial), populus (povo) e radius (raio).

A língua etrusca foi amplamente documentada entre os séculos IX e I a.C.

Lâminas de ouro com um tratado escrito em Etrusco e Fenício, conhecidas como “Lâminas de Pyrgi”, de imenso valor histórico. Museo Etrusco di Villa Giulia, Roma.

Segundo a maioria dos estudiosos, é uma língua que não é indo-européia; porém alguns linguísticos, como Adrados recentemente propuseram uma controversa filiação do etrusco de uma fase muito antiga das línguas indo-européias de tipo anatólico, particularmente o lúvio, a língua dos antigos povos Hititas.
Segundo a maioria dos estudiosos, é uma língua que não é indo-européia; porém alguns linguísticos, como Adrados recentemente propuseram uma controversa filiação do etrusco de uma fase muito antiga das línguas indo-européias de tipo anatólico, particularmente o lúvio, a língua dos antigos povos Hititas.
Liber Linteus ou Zagrabiensis, o maior texto em etrusco conhecido, e o único livro etrusco em linho remanescente.

A língua etrusca, inicialmente difundida na própria Etrúria (Alto Lácio e Toscana, entre os rios Tibre e Arno), afirmou-se sucessivamente numa área mais vasta, que incluia parte da planície do rio Pó e da Campânia, após a notável expansão da cultura etrusca no século VI a.C.
Alguns estudiosos, entre os quais Helmut Rix, relacionam o etrusco também à língua rética, falada pelos Rétios na área dos Alpes até o século III d.C.

Arte e Religião


A arte etrusca está fortemente ligada a exigências de caráter religioso. Os etruscos, pelo que sabemos de sua religião possuiam uma visão bastante pessimista da morte (pelo menos é o que foi documentado no período do declínio de sua civilização).

Cabeça de divindade feminina etrusca, séc. II a.C. (?), Museu do Louvre, Paris. 

Parece não terem compartilhado tanto a crença sobre a bem-aventurança da vida ultraterrena como os Egípcios, nem se relacionado com seus deuses de uma forma “confidencial”, como os Gregos.
Cabeça Etrusca, Metropolitan Museum, N. York.

Os deuses etruscos eram, na maioria das vezes, hostis e dispostos a causar o mal. A maior parte da religião etrusca estava voltada à interpretação da vontade destes deuses e a aceitar e satisfazer cegamente suas exigências. Acreditavam, porém, na vida eterna após a morte.


Afresco de uma tumba etrusca representando uma cena de banquete. Ny Carlsberg Glyptothek, Copenhague.

As primeiras manifestações da arte etrusca remontam ao século VIII a.C. e prosseguem por mais ou menos 600 anos.
Os etruscos acolheram muitas influências gregas, mas as transformaram segundo as suas exigências. No mundo grego, a arte sofreu uma grande evolução, porém os etruscos repetiram por muito tempo os modelos que adotaram.
A arte etrusca está ligada à vida cotidiana ou às práticas rituais do culto religioso. Não tende à idealização, como a arte grega.


Dançarina, detalhe da Tumba do Malabarista, Tarquínia.

Os testemunhos da arte etrusca estão ligados a obras de caráter funerário. Sabemos pouco sobre eles pois sua língua não foi totalmente decifrada. Conhecemos apenas um número restrito de palavras, e os documentos que restaram são, quase todos, inscrições fúnebres.


Dançarinos, Tumba do Triclinium, Tarquinia.


Arquitetura


As TUMBAS representam a crença dos etruscos na vida pós-morte. As tumbas eram consideradas como casas. Nelas eram depositados objetos úteis, e também os canopos (urnas funerárias) que representavam os traços do morto. No interior das tumbas foram encontrados vasos, jóias, mobílias, enxovais, armas e pinturas murais, isto é, a maior parte do que conhecemos desta civilização.




Interiores de tumbas etruscas
 A casa, o templo e a tumba seguem um mesmo esquema construtivo.





Os restos das muralhas das cidades são de grande interesse pois introduzem um novo sistema construtivo: o arco, que vai ser amplamente usado pelos romanos.

ESCULTURA
A escultura etrusca está ligada ao culto funerário.
Suas principais manifestações são:


Os canopos são vasos funerários de terracota ou bronze, representando uma cabeça com as feições do morto. Algumas vezes podia haver braços nos corpos dos vasos. Os canopos representam os primeiros exemplos de retratos na Itália, que seriam tão importantes na arte romana.

As estelas eram também uma forma de celebrar o morto. A estela é uma espécie de coluna destinada a ter uma inscrição.

Há também inúmeros sarcófagos de pedra.
Os sarcófagos de terracota decorados com pintura ou baixo-relevos também são objetos importantes da arte etrusca.



O “Sarcófago dos esposos”, de 520 a.C.  é o mais famoso e um dos mais belos sarcófagos de “casais recostados”.


O homem, de torso nu, apóia a mão sobre o ombro da esposa, que veste o chíton e o manto. A mulher usa um barrete de lã etrusco típico chamado tutulus e sapatos pontudos, ou calcei repandi.

Os dois estão acomodados sobre um leito festivo chamado “Kline”, ou seja, participam de um banquete.
O único escultor etrusco cujo nome conhecemos foi Vulca, da cidade de Veios escultor do célebre Apolo “que caminha”. Esta obra manifesta a capacidade etrusca de reelaborar os modelos gregos.
Há aqui uma tensão que privilegia o movimento e o corpo ao invés da perfeição formal da arte grega, mais racional.


Apolo de Veios, 510-490 a.C.
A Loba Capitolina (que se tornou o símbolo de Roma) pode ser situada neste contexto: é um bronze sobriamente modelado. A loba é tensa e demonstra uma contida, porém quase demoníaca vitalidade.


Loba Capitolina (Rômulo e Remo foram acrescentados no séc. XV), 500 a.C.
A Quimera de Arezzo é um monstro com corpo de leão, serpente e cabra. É modelada de forma magistral. É representada com o corpo voltado ameaçadoramente para o inimigo, a cabeça que ruge e as massas musculares vibrantes.


A Quimera, bronze, séc. IV a.C.
Nos séculos III e II a.C. triunfa o retrato, com estátuas de bronze de alto nível, como o busto conhecido como Bruto Capitolino, que pode ter pertencido a uma estátua inteira.


Retrato de um homem de uma tumba em Cerveteri.
As maçãs do rosto salientes, os olhos penetrantes e as linhas apenas esboçadas dos cabelos e da barba lhe conferem uma dramática altivez, e  isto motivou a sua identificação com o personagem histórico, um dos fundadores da República Romana.
Outra obra-prima é a estátua do Orador, do século II a.C., retrato de Aulo Metelo, do último período da civilização etrusca. Representado com o braço direito levemente estendido, o rosto calmo e persuasivo ao pronunciar um discurso. 


O Orador, século I a.C.
O retrato reflete a presença dos Romanos no território dos Etruscos, pois o realismo da figura será um dos elementos mais característicos da escultura romana.


Cerâmica

 
Entre os etruscos a cerâmica era usada sobretudo na escultura para a produção de máscaras; na produção de sarcófagos que reproduziam os traços do defunto em tamanho natural ou figuras divinas; na produção de vasos para uso doméstico e de vasos funerários com a tampa em forma de cabeça humana para guardar as vísceras dos mortos (canopos, como já vimos).

Cratera etrusca proveniente de Caere, ca. 600 a.C. Coleção George Ortiz.
Os etruscos adquiriam dos gregos cerâmicas refinadas. A produção da cerâmica etrusca foi fortemente influenciada pela Grécia e pela Magna Grécia (sul da Itália).
Porém, o produto mais original da cerâmica etrusca é obucchero (búquero), sofisticado, geralmente negro, fino e decorado simplesmente com graffiti e relevos.




Pintura





Dança fúnebre, afresco etrusco, séc. V a.C.


Músico, Afresco da Tumba dos Leopardos, Tarquínia, 1ª metade séc. V a.C.

A pintura etrusca não era decorativa ou comemorativa. Sua intenção era recriar o ambiente terreno do defunto e provê-lo de todo o necessário para servi-lo no além.
As pinturas etruscas mais significativas se encontram nas tumbas da necrópole de Tarquínia, durante todo o período da civilização.






Harpista, afresco da Tumba do Triclinium, Tarquinia, ca. 480 a.C.
As composições são sempre vivazes, animadas com cores de tons quentes, do amarelo ao vermelho e ao marrom.
Todas as figuras são representadas de perfil, isoladas uma da outra, dispostas em um único plano, sempre definidas por uma linha de contorno bem visível.


Luta de pugilistas, afrescos da Tumba dos Áugures, Necrópoles de Monterozzi, Tarquinia.

Homens e mulheres se distinguem pela cor da pele: clara para as mulheres, escura para os homens. As pinturas das tumbas fornecem muitas informações sobre a vida social e familiar dos etruscos, e  sobre sua postura em relação à morte, no início serena e confiante, e depois cada vez mais oprimida e obcecada por obscuras presenças demoníacas.






Cena de sacrifício humano com divindades infernais, afresco etrusco.


A Roupa Etrusca



Trajes etrusco-romanos.
Embora sua expansão na Itália Meridional tenha levado os Etruscos a estabelecer fecundas relações com as colônias da Magna Grécia, os costumes típicos desse povo são mais influenciados pelas populações orientais ou da área cretense-micênica, especialmente no período mais arcaico.
Além das TOGAS DRAPEADAS de ascendência helênica e romana, de fato, os Etruscos vestem trajes cortados e costurados que seguem as linhas do corpo.

Busto de uma jovem etrusca em tamanho real usando jóias em terracota; as peças podem ter sido moldadas em jóias reais. Final do séc. IV a.C. ou início do século III a.C. Metropolitan Museum of Art, N. York.
O gosto pela cor, pelas linhas arrojadas, pela estilização e pelo movimento são outras características peculiares, tanto da arte quanto da indumentária deste povo.
Além da túnica, os homens trajam um amplo manto retangular, com bordados e cercaduras, chamado TEBENNA, que envolve a pessoa por inteiro, deixando livres apenas o ombro e o braço direito e pode ser vestido mesmo sobre o corpo nu.


Os musicistas retratados nos afrescos de Tarquínia vestem “tebennas” de cor vermelho-amaranto, turquesa e em toda a gama do ocre.
O rei, chamado lucumone (luchmon), [havia mais de um deles, que tratava-se mais de uma espécie de príncipe-magistrado] traja um manto quadrado, bordado e ornado de laços nos ângulos, com uma abertura para a cabeça ricamente bordada.


A roupa feminina tem um efeito surpreendentemente moderno: trata-se de um vestido longo e justo, sem cintura, com as mangas três quartos, que vão até os cotovelos, às vezes com um decote nas costas e dotado de um capuz.

Ou vestem trajes de duas peças, formados por uma saia longa, justa ou vaporosa, e por uma espécie de bolero, ambos espessamente bordados com motivos geométricos. 
Os tecidos mais usados são a lã e o algodão, enquanto o feltro é empregado nos calçados e os chapéus, que parecem barretes frígios, são cônicos e dobrados. 


Até o século V a.C., período em que entram em contato com as colônias gregas, os Etruscos não usam sandálias, mas um calçado característico de origem oriental, uma espécie de botina alta fechada por laços, que deixa descobertos os dedos dos pés.






                                                                                        Sandálias de couro



                                                                                 Botas de ponteiras viradas


Sandálias Etruscas


                                                                                Sapato em couro macio


As botas em feltro dos soldados são revestidas externamente em couro.

Mesmo que os Etruscos não sejam um povo essencialmente guerreiro, mas principalmente dedicado ao comércio e ao artesanato, foram encontrados grandes elmos em bronze e couraças ricamente cinzeladas.

Elmos e couraças etruscas, séc. VII ou VI a.C.


                                             Couraça heróica (em forma de torso masculino) etrusca.

Elmo etrusco em bronze


Trajes etruscos, da obra “Trachten Der Voelker” de Albert Kretschmer (1864)

As técnicas de fusão e processamento dos metais são notavelmente desenvolvidas e permitem aos ourives a realização de jóias elegantes e refinadas.



Jóias etruscas de um enxoval funerário, período Etrusco Arcaico Tardio, ca. séc. V a.C. Metropolitan Museum, N. York.
O elemento base da joalheria etrusca é a lâmina de ouro, que é trabalhada sobretudo com as técnicas da granulação (o ouro é reduzido a minúsculas esferas que seguem um desenho), da filigrana (o ouro em fios é disposto em rede para formar vários motivos decorativos, na maioria florais).


Brinco etrusco em ouro e esmalte, séc. VI a.C. Metropolitan Museum, N. York.
O ouro é freqüentemente combinado com o âmbar para criar esplêndidas jóias caracterizadas por um desenho refinado, influenciado tanto pelos luxuriantes temas figurativos orientais, quanto pela sobriedade dos modelos gregos.


Anel etrusco em prata dourada, final do séc. VI – início séc. V a.C. Metropolitan Museum, N. York.
Quando os Romanos estabelecem sua hegemonia sobre a Itália, o estilo de vida dos dominadores é imposto, e a original indumentária etrusca cai rapidamente em declínio.


Brincos de ouro, séc. IV – III a.C., Metropolitan Museum, Nova York


Jóia etrusca produzida com a técnica da granulação do ouro.

Casal romano em banquete.
Parece simples pensar que a maior influência sobre as roupas femininas romanas tenha vindo dos gregos, e em parte isso é verdade: as antigas romanas, assim como as gregas, fiavam e teciam seus tecidos em casa, mas tornaram-se muito mais refinadas quando começaram a ter contato com as elegantíssimas mulheres etruscas.
De uma mulher muito elegante dizia-se em Roma que “vestia à etrusca”. Por serem um povo de navegadores e comerciantes os Etruscos importaram tecidos preciosos vindos do Oriente, criando uma moda exótica e colorida.

“Banquete”, pintura mural, séc. III a.C., Tumba dos Escudos.
As mulheres usavam trajes de linho finíssimo, decorados por faixas em losangos ou em forma de xadrez, até mesmo com aplicações de lâminas de ouro; estes trajes eram presos à cintura por cintos enriquecidos por bordados coloridos e franjas.


Em geral (as mulheres das altas camadas, é claro) usavam véus que enfeitavam seus trajes, às vezes recamados em ouro e prata, e usavam jóias valiosas como broches, fíbulas, brincos e braceletes.
Os cabelos eram presos em coque na nuca e recobertos por uma espécie de touca de seda ou com uma rede dourada, deixando cair sobre os ombros duas tranças.




Seus calçados eram fantasiosos e originais, com uma grande variedade de sandálias pesadas ou leves, tamancos com a planta articulável pelo uso de um tipo de dobradiça, sapatos amarrados com cordões para uso doméstico ou para festas, galochas forradas com finas lâminas de bronze para os dias de chuva e sapatos sofisticados com a ponta para cima de influência oriental, ornamentados com fitas coloridas, tachas e correntinhas.

O fim da Civilização Etrusca


As cidades-estado etruscas eram autônomas, isto é, independentes, mas algo as ligava entre si: a língua e a religião.
E foi justamente a falta de unidade a causa de sua decadência: as cidades do norte foram conquistadas pelos Celtas; as do sul foram conquistadas pelos colonos da Magna Grécia e pelos Samnitas, enquanto as centrais cairam, uma sob a outra, sob o domínio de uma nova civilização que estava começando a afirmar-se no Lácio: os Romanos.

Moeda etrusca de Volterra, ca. 230-220 a.C.
A interrupção da expansão etrusca começou no final do século VI e foi seguida pelo seu declínio no século V a.C.
Primeiramente foi Roma que se libertou de sua supremacia com a expulsão, cerca de 510 a.C., dos Tarquínios (últimos reis de Roma). Depois foram os Latinos que, apoiados por Aristodemos de Cumas, derrotaram os etruscos na batalha de Ariccia, em 506 a.C.
Deste modo, os postos avançados dos Etruscos na região da Campânia ficaram isolados e se enfraqueceram após a derrota naval que os mesmos sofreram em Cumas em 474 a.C. (batalha de Cumas). Eles acabaram peridos em 423 a.C. com a conquista de Cápua por parte dos Oscios ou Campanos.

Arco Etrusco, Porta do Arco, centro histórico de Volterra, Itália.
O enfraquecimento do comércio marítimo etrusco tornou-se dramático quando, em 453 a.C., o tirano de Siracusa (na Sicília), Geron, ocupou a rica ilha de Elba, provocando assim um bloqueio dos portos etruscos, com exceção de Populônia.
 No norte da península italiana, a invasão dos Gauleses perturbou a geografia dos centros etruscos da planície do rio Po, entre o início do século VI e meados do século IV a.C., com a queda das cidades de Felsina e Marzabotto.
No mar Adriático as cidades etruscas foram atacadas, ao mesmo tempo, pelos Celtas e pelos Siracusianos, em plena expansão, após a vitória destes últimos contra a frota ateniense em 412 a.C.
Em 396 a.C., após uma guerra que durou quase um século, Roma conquistou a cidade de Veios, estendendo sua influência sobre parte da Etrúria meridional. Pelos próximos dois séculos os Etruscos, sob a iniciativa de algumas cidades, criaram obstáculos à expansão romana. Os Romanos romperam diversos tratados, como no caso do ataque a Volsini (Orvieto), interrompendo um tratado de paz que deveria durar várias décadas.

Templo etrusco do Belvedere em Orvieto, Itália.

Em  295 a.C., numa coalizão formada com os Umbros e os Samnitas, os Etruscos foram derrotados pelos Romanos na batalha de Sentino. Durante as próximas décadas as cidades da atual região do Lácio foram submetidas a Roma; mais tarde, elas se tornaram de súditas a aliadas de Roma, durante o ataque dos Cartagineses liderados por Aníbal. Estas cidades adquiriram um status especial, até que a Guerra Social de 90 a.C. acabou de vez com sua autonomia, até que lhes foi outorgada a cidadania romana, durante a Lex Julia de 89 a.C.